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Sinopse
Uma história sobre cinco jovens que não se sentem nem homens nem mulheres, mas se posicionam em algum lugar entre um e outro. Todos os dias são confrontados por serem diferentes, mas são orgulhosos de ser quem são.
Crítica
Dirigido por Sophie Dros, o documentário Genderblend mostra pessoas que não se sentem homens nem mulheres. Elas se posicionam entre os dois pontos historicamente encarregados de cindir as sociedades. Para ilustrar a polarização então questionada, a cineasta propõe que participantes criem livremente sobre o desenho de uma linha que interliga os símbolos de masculino e feminino. Tal recurso serve para que possamos compreender com mais clareza essa indeterminação de quem não se identifica com um dos polos. Mais que isso. A deflagração da suposta necessidade de situar-se nos espaços convencionais traz consigo uma construção que vem sendo, ainda bem, amplamente questionada. Os cinco personagens expõem diversos vieses que dizem respeito ao cotidiano de um genderqueer, especialmente quanto ao relacionamento com uma coletividade pautada na bipartição de gênero que, inevitavelmente, acaba excluindo os “fora da curva”.
Genderblend possui um visual estático, no mais das vezes detido na captura frontal dos depoimentos e das interações. As falas são sintomáticas de contratempos diários, embora a realizadora tenha sensibilidade suficiente para não carregar nos dramas que, por si, são propícios a uma reflexão. Ela não “pesa a mão” ou cria uma atmosfera excessivamente pesarosa, conferindo espaço para que os testemunhos determinem o ritmo do filme. Há um encadeamento funcional das experiências, ora comuns, ora distintas, dos cinco protagonistas. Dennis Bijleveld fala do sonho não consumado de ser bailarina usando sapatilhas pretas e tutus, algo destinado em sua classe de dança apenas às meninas. Lisa e Anne Bosveld discorrem acerca das construções sociais que as levam a ser confundidas com homens ocasionalmente. Selm Wenselaers comenta sua infância e a vontade de conhecer alguém, de relacionar-se amorosamente, de ser aceito incondicionalmente.
Lashawn Jordan tem a movimentação mais pedagógica sobre os percalços genderqueer. É ele quem, durante uma sessão de manicure, praticamente explica o conceito à mulher que demonstra curiosidade por algo até então ignorado e/ou desconhecido. Aliás, esse momento é um tanto ambíguo, com a profissional se comportando carinhosamente, mas expondo Lashawn como uma excentricidade à prima que liga do Suriname. É ele, também, quem enfrenta a dura realidade do mercado de trabalho, num teste de elenco em que a avaliadora celebra a inclusão, mas faz valer a prerrogativa do gênero na escolha dos atores e atrizes. Sophie Dros capta essas sutilezas, sem guiar forçosamente o espectador, uma vez que os próprios desdobramentos das sequências criam os sentidos que estão na base da produção. Genderblend frequentemente se abre a uma constatação social, mostrando que os espaços públicos refletem o binarismo não confortável a todos e todas.
O banheiro é um local emblemático das dificuldades genderqueer. Dennis, Lisa, Anne, Selm e Lashawn comentam, com bom humor, situações em que se sentiram deslocados ao utilizar o sanitário. Homens que estranharam ao chegar num mictório ocupado por alguém de cabelos longos e unhas pintadas. Mulheres que se assustaram ao ver ali uma pessoa fisicamente mais próxima do conceito de masculino. São exemplos práticos de algo arraigado na coletividade. Embora perca oportunidades valiosas de expandir ainda mais o estudo dos signos que imperam nas cidades, Sophie Dros consegue estabelecer uma comunicação frutífera entre dimensões micro e macro, partindo das intimidades acessadas com evidente cuidado e respeito. Ao invés de construir um percurso narrativo didático, a cineasta lança mão de dispositivos que visam dinamizar o todo, como intervenções, desenhos e imagens paradisíacas, para ressaltar e exaltar a humanidade dos depoentes.
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