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Sinopse

Dois amigos que chamam um ao outro de Gerry decidem fazer uma pequena expedição e acabam perdidos no deserto, sem água, suprimentos ou algo que os indique a direção. Agora, a única escolha que lhes resta é caminhar em busca de alguma estrada para voltar para casa.

Crítica

Gus Van Sant é o diretor do profundo Elefante (2003) e do aborrecido Inquietos (2011). Em Gerry, ele oscila entre estas suas facetas, a da reflexão existencial e a da pura pretensão. Matt Damon e Casey Affleck – os dois chamados Gerry – adentram no deserto sem um destino concreto e acabam perdidos. Essa é toda a história que você vai conseguir encontrar no roteiro escrito pelo trio Damon, Affleck e Van Sant. Tudo, basicamente, se resume aos dois protagonistas andando, conversando e andando, andando sem dizer nada e andando um pouco mais sem chegar realmente a lugar algum.

É difícil não pensar em Gerry como um filme cansativo, maçante e unidimensional. Mas, a própria experiência de estar perdido num deserto também deve ser assim, não é? Pode ser realmente torturante enfrentar a duração do longa-metragem, mas é evidente seu mérito de transmitir com eficiência a situação dos protagonistas. O filme avança entre uma conversa e outra, sem qualquer dimensão mais profunda além da literal. Se Gerry (Affleck) fala sobre a perda de uma partida de videogame, ele está falando sobre como perdeu uma partida de videogame, e ponto. Quando Gerry (Damon) tenta ajudar o outro a sair de cima de uma pedra muito alta em que ficou preso, é apenas isso o que ele está fazendo.

Provavelmente, o vácuo de metáforas em Gerry está lá para o preenchermos com nossas vivências, pensamentos e filosofias. Contudo, isso é algo que Gus Van Sant deixa aberto e jamais concretiza como ideia. Ou seja, o filme pode ser visto como uma obra pretensiosa e vazia, e o espectador que assim o sentir não estará errado. Confrontado com um plano – muito bonito, esteticamente, aliás - de vários minutos, que acompanha cabeça a cabeça os dois Gerrys avançando, o público tem o direito de bufar, bocejar e revirar os olhos enquanto nada acontece. Porém, estarão equivocados se disserem que o problema reside no filme em si. Se Gerry tem alguma beleza, é o seu vazio em potencial funcionando como espelho. O incômodo é reflexo do espectador, não do longa. Pois, Van Sant, claramente, faz o que faz de maneira lúcida e intencional. Suas escolhas são premeditadas e o filme é obviamente o que ele queria realizar. Pode-se desgostar da abordagem, mas jamais dizer que ele está errado em usá-la.

Gus Van Sant conhece a linguagem, evoca com facilidade a solidão através de planos abertos que transformam montanhas, dunas e planícies em texturas belíssimas que servem de moldura aos dois pontinhos vagantes. No fim das contas, como arte – e todos os filmes são arte, todos – talvez Gerry seja menos para se gostar, se é que há algo para gostar nele, do que para apreciar e sentir. É um exemplo raríssimo do cinema sendo usado de maneira realmente sensorial através de sua forma e não propriamente de seu conteúdo, já que exaltar mais um e menos o outro nunca foi demérito. Abandone o filme no meio da exibição, xingue-o e diga o que quiser sobre a sua trivialidade, mas reconheça que é um projeto que alcança com maestria os objetivos a que se propõe. E, só por isso, já valeria um dez.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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