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Sinopse

Depois de se mudar com seus filhos para uma pequena cidade, uma mãe acaba descobrindo sobre os escombros de seu passado uma conexão inesperada com os Caça-Fantasmas por meio da herança deixada para trás por seu avô.

Crítica

É curioso como o mundo dá voltas. Por mais que tenha entregue sucessos como Almôndegas (1979) e Irmãos Gêmeos (1988), Ivan Reitman ficou para sempre marcado como o responsável pelo fenômeno Os Caça-Fantasmas (1984). Essa mesma sombra, que marcou os anos seguintes de sua carreira, se estendeu também ao filho, o igualmente cineasta Jason Reitman. Dono de quatro indicações ao Oscar – algo que o pai nunca conseguiu – por títulos como Juno (2007) e Amor sem Escalas (2009), parecia que o herdeiro trilharia caminho bem diferente daquele traçado pelo progenitor. Porém, após alguns tropeços recentes, soa até natural sua decisão em dar um reboot em sua filmografia retornando a um universo que lhe é bastante familiar. Afinal, muitos podem não lembrar, mas Jason esteve presente em uma rápida cena, como ator, em Os Caça-Fantasmas 2 (1989), além de ter acompanhado o início da saga em uma posição privilegiada desde o começo. Tudo isso lhe daria crédito mais do que suficiente para fazer de Ghostbusters: Mais Além, a sua visão sobre essa universo, algo ao mesmo tempo nostálgico e inovador. É com surpresa, porém, que se constata um excesso da primeira característica, em um quase esquecimento da segunda.

Com o incrível – e praticamente inesperado, pois ninguém apostava muito em uma comédia de ficção-científica sobrenatural no início dos anos 1980 – do primeiro longa, que custou US$ 30 milhões e arrecadou 10 vezes esse valor nas bilheterias de todo o mundo, além de ter garantido duas indicações ao Oscar, a realização de uma sequência foi consequência natural. Essa, porém, foi uma experiência traumática para quase todos os envolvidos, tanto à frente como para quem estava atrás das câmeras. Afinal, trata-se de um filme equivocado, que promete muito e entrega pouco, com atores nitidamente desinteressados pela trama, que deixavam claro estarem ali apenas pelo dinheiro envolvido. A frustração da audiência, portanto, foi inevitável. E mesmo sendo a marca tão forte, a trilogia não se concretizou no século passado pelo mesmo argumento: “para um terceiro longa, somente com um roteiro à altura das expectativas”.

Pois bem, esse parecia ter sido encontrado quando chegou às telas Caça-Fantasmas (2016) – sem o artigo identificador de gênero em português – que não apenas propôs uma aventura completamente inédita, mas também adaptou muito de sua linguagem para uma situação contemporânea. O resultado, no entanto, foi decepcionante para a maioria, e por um motivo que não tinha nada a ver com as escolhas dramáticas, mas, sim, técnicas: o protagonismo, antes masculino, foi transferido para um grupo totalmente formado por mulheres. Nerds e fãs mais radicais chiaram tanto que o barulho distraiu o real potencial do projeto. É neste cenário que chega-se agora à Ghostbusters: Mais Além, uma produção que até pode anunciar uma certa ousadia em ir adiante na franquia em seu título, mas que se revela bastante conservadora – e até um tanto ingênua – em seus resultados. Afinal, por mais que invista em um elenco majoritariamente infantil e mude o cenário – de ambientes urbanos para um contexto quase rural – as motivações são praticamente as mesmas daquelas identificadas quase quatro décadas atrás. Ou seja, o que se vê é um remake disfarçado de continuação (ou retomada, o que é pior ainda).

Os elos são evidentes: Callie (Carrie Coon, uma das atrizes mais interessantes do momento, fazendo não muito mais do que figuração) é filha de Egon Spengler (Harold Ramis). Ela e seus dois filhos, Trevor (Finn Wolfhard, que está crescendo rápido demais e pouco lembra o menino de Stranger Things, 2016-2022, e It: A Coisa, 2017) e Phoebe (Mckenna Grace, do recente Maligno, 2021, a melhor em cena), se mudam para a casa deixada pelo pai com o qual tinha nenhum contato após a morte dele (Ramis, de fato, faleceu em 2014). Magoada pelo que acreditava ser um descaso paterno, a mulher quer se ver livre de tudo que uma vez pertenceu ao velho e solitário homem. Os dois jovens, no entanto, cada um à sua maneira, irão revirar os pertences familiares deixados para trás, ao mesmo tempo em que acabarão se deparando com uma maldição que parece perseguir os Spengler: um demônio milenar (novamente Gozer) busca outra oportunidade para reabrir o portal da dimensão onde se encontra trancafiado para invadir a Terra. E para isso, não só provocará mudanças drásticas na realidade próxima, como também contará com dois auxiliares humanos zumbificados a seu serviço – entre eles, Paul Rudd, fazendo às vezes de Rick Moranis na versão original.

Os elementos estão presentes, mais uma vez reunidos como se diante de um medo de avançar mais do que o permitido por uma saga que se tornou maior – seja pela espera, como também por promessas não cumpridas – do que suas próprias realizações. O público de hoje é composto basicamente por adolescentes, e é nessa faixa etária em que se encontra o foco dessa retomada. As homenagens não chegam a ser descartadas, mas é quase um desrespeito quando Bill Murray, Dan Aykroyd e Ernie Hudson (os caça-fantasmas remanescentes) surgem na tela para não mais do que participações especiais. E se pode dizer também que chamar Annie Potts (a secretaria Janine Melnitz) e Sigourney Weaver (a pesquisadora Dana Barrett) para não mais do que pequenas aparições soa quase como ultraje. Se era para não aproveitá-los a contento, melhor seria tê-los deixados para trás e investido num conceito diferente. Indeciso entre ir e vir, entre olhar para frente e se ater ao que foi feito antes – sem esquecer que simplesmente ignora os feitos da incursão de cinco anos atrás – Ghostbusters: Mais Além é tanto o que promete, como é também uma decepção. Ou seja, há aqui uma releitura contida com muito Ghostbusters (mas apenas para quem não conhece as versões anteriores, ou se contenta em vivenciar o mesmo de antes) e pouco Mais Além.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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