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Crítica


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Sinopse

Julian é um bem-sucedido acompanhante de mulheres ricas de Los Angeles. Todavia, uma de suas clientes é assassinada e ele começa a ser investigado como o principal suspeito do crime.

Crítica

É curioso que Gigolô Americano tenha transformado Richard Gere num sex symbol. Tudo bem que o ator está mesmo lindo em cena e que a câmera do diretor Paul Schrader explora bem essa beleza, chegando a fetichizar seu corpo. Mas o filme passa longe de uma leitura glamorosa ou romantizada da vida de seu protagonista. Ainda que trafegando por meios em que a opulência é regra, o garoto de programa Julian Kay (Gere) cheira cocaína, topa fazer, mesmo a contragosto, sexo sadomasoquista e ganha a vida nas brechas dos poderes que regem a sociedade norte-americana, transando com socialites e esposas de políticos.

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Esteticamente, e apesar de ter uma pegada já mais oitentista (no uso da música, na sensualidade insinuante da narrativa e em certas escolhas visuais um pouco bregas), o filme remete diretamente, como o próprio Schrader faz questão de reconhecer, a Robert Bresson e seu O Batedor de Carteiras (1959). Vêm daí não só certos acontecimentos que marcam a trajetória de Kay, mas também o olhar distanciado, frio, que Schrader lança ao personagem e a suas ações. É novamente surpreendente que Gigolô Americano, sendo representante de um cinema moderno tão desdramatizado, logo, tão distante das tradições de Hollywood, tenha feito tanto sucesso e se tornado emblemático de uma época.

Essa modernidade, aliás, tem a ver também com Gigolô Americano ser um legítimo exemplar do cinema da Nova Hollywood, movimento geracional do qual Schrader fez parte. O interesse por figuras marginais e pelo submundo, demonstrado pelo cineasta em momentos anteriores de sua carreira, retorna aqui, ainda que com algumas diferenças: sai de cena, ou ao menos perde destaque, a sujeira das ruas de grandes metrópoles como Nova York (em Taxi Driver, de 1976, escrito por Schrader) e Los Angeles (em Hardcore: No Submundo do Sexo, de 1979, escrito e dirigido por Schrader) e entram a riqueza e o poder das elites endinheiradas e hipócritas desta última cidade.

É interessante comparar, nesse sentido, as posturas de Kay, ao dirigir pelas ruas de Los Angeles e nos momentos solo em seu apartamento, às de Travis Bickle, protagonista de Taxi Driver, em situações semelhantes. Enquanto este surge sempre perturbado, paranoico, o primeiro, durante boa parte da narrativa de Gigolô Americano, encarna o hedonismo absoluto, com suas roupas desenhadas por Giorgio Armani, seu carro de luxo e a marcante companhia da canção “Call me”, do Blondie. É verdade que, após se tornar suspeito de homicídio, Kay começa a se comportar de outra forma, se sentindo constantemente perseguido e agindo com mais agressividade – culminando numa bela cena em seu apartamento, iluminado por Schrader e pelo diretor de fotografia John Bailey de forma a projetar grades sobre o personagem, que se encontra na iminência de ser preso, enquanto destrói tudo que encontra pela frente. Mas Kay jamais chega ao extremo da loucura de Bickle.

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Talvez passe por aí a explicação para o êxito comercial de Gigolô Americano. Num momento em que o caráter contestador e contracultural da Nova Hollywood entrava em colapso, sobretudo por conta do fracasso retumbante de O Portal do Paraíso (1980), Paul Schrader captou, sem abrir mão de características típicas de seu cinema, uma espécie de zeitgeist da América dos anos 80, era dos yuppies e de Reagan na presidência, marcada pelo hedonismo e pela busca por riqueza e sucesso.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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