Crítica
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Sinopse
Crítica
Lá pelo meio da trama, o personagem de Matthew Broderick em Godzilla observa uma quantidade absurda de peixes sendo acumulado em Manhattan, seu plano para chamar a atenção do monstrengo gigantesco que está à espreita na cidade. Nisso, solta uma frase para o soldado ao seu lado: “É um monte de peixe!”. É neste nível de obviedade e senso de humor que paira o longa-metragem dirigido por Roland Emmerich, cineasta que comandou o divertido Independence Day (1996) e que tem gosto pela destruição. No filme, o cineasta bagunça as características do personagem, construindo algo mais parecido com uma cópia de O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997) do que com o Godzilla que os fãs conhecem.
Godzilla até começa bem. Um prólogo nos apresenta as origens do monstro, uma mutação criada através de testes com bombas nucleares. Seguindo fiel às origens nipônicas do bicho, os primeiros humanos no seu caminho são japoneses, em um navio que logo é destroçado. Um misterioso francês, Phillippe Roache (Jean Reno), vai ao encontro do único sobrevivente do acidente, homem que lhe revela quem foi o responsável pela destruição: “Gojira”. O ataque foi apenas a primeira aparição do monstro, que deixou suas pegadas em lugares como Taiti e Jamaica. É para lá que é levado o doutor Nick Tatopoulos (Broderick), cientista especialista nos efeitos da radiação, que logo aponta que as pegadas foram deixadas por uma mutação gigantesca. Não demora para a criatura aportar em Nova York, deixando rastro de pavor e destruição por onde passa. A jornalista aspirante Audrey Timmonds (Maria Pitillo), ex-namorada de Tatopoulos, e o cinegrafista Victor “Animal” Palotti (Hank Azaria) perseguem o monstro à procura de uma matéria, enquanto os militares comandados pelo Coronel Hicks (Kevin Dunn) tentam dar fim à ameaça.
Roland Emmerich é um especialista em cinema-catástrofe, com uma filmografia composta por trabalhos como O Dia Depois de Amanhã (2004) e 2012 (2009). Portanto, Godzilla não sai perdendo no quesito destruição. Quando não é o próprio monstrengo que derruba prédios e destrói pontes e ruas, o exército norte-americano se encarrega de fazer o serviço. Tentando eliminar a fera de todas as formas possíveis, é do gatilho puxado por militares que prédios (como o Chrysler) são transformados em pedaços. Uma ironia acrescentada por Emmerich, que deixa claro que os humanos são tão ou mais perigosos que a própria ameaça que tentam enfrentar.
Os efeitos especiais envelheceram mal. À época, eram o grande chamariz do filme. Hoje em dia, vistos em blu-ray, se mostram ora corretos, ora constrangedores. A cena que apresenta centenas de babyzillas é a mais fraca tecnicamente falando, com os efeitos visuais deixando clara a artificialidade daqueles animais. Quando se trata da mamãe Godzilla, as cenas mais escuras funcionam bem. O visual do monstro, ainda que totalmente diferente do original, é ameaçador o suficiente. Emmerich e Devlin decidiram fazer de Godzilla um animal acuado, uma figura que destrói tudo o que vê pela frente não por maldade, mas pelo tamanho avantajado. Poderia funcionar, caso não existissem mais de duas dezenas de produções japonesas que caracterizam o monstro como um ser de personalidade.
Assim como os efeitos, o elenco também vai do correto ao constrangedor. Se Kevin Dunn se mostra uma figura forte e Hank Azaria não compromete como o amalucado cinegrafista Animal, Maria Pitillo é irritantemente limitada como a pseudo-jornalista e interesse amoroso do protagonista. Não a toa, a atriz foi indicada ao Framboesa de Ouro pela performance e não conseguiu emplacar nenhum papel relevante após esta produção. Enquanto isso, Matthew Broderick tem um osso duro de roer ao encarar um personagem completamente desinteressante. A simpatia do ator, o eterno Ferris Bueller de Curtindo a Vida Adoidado (1986), o ajuda na tarefa, mas é impossível salvar um roteiro com diálogos ruins e um personagem que serve apenas para os propósitos da história. As tentativas de humor são infrutíferas e recaem basicamente em Broderick, que acaba tendo de soltar piadas bobas e frases ridículas. Jean Reno, por sua vez, parece se divertir em uma grande produção hollywoodiana, mesmo que todos os personagens franceses sejam estereótipos ambulantes.
As cenas de ação que deveriam ser impactantes, mostram-se imitações desajeitadas de tudo o que Steven Spielberg já havia feito com maestria em Jurassic Park (1993) e com menor efeito em O Mundo Perdido (1997). Portanto, o monstro Godzilla acaba sendo uma versão avantajada do Tiranossauro e os babyzillas são cópias mal feitas dos velociraptors.
Com inchados 138 minutos de duração, Godzilla foi lançado como um potencial blockbuster, com uma campanha de marketing tão gigantesca quanto o personagem. A resposta do público não foi ruim. Com orçamento de US$ 130 milhões, o longa arrecadou US$ 379 milhões no mundo todo e fechou 1998 como uma das 10 maiores receitas do ano nos Estados Unidos. No entanto, a qualidade frágil do filme, que foi massacrado pela crítica à época, impossibilitou qualquer continuação. A Toho, empresa japonesa dona da marca Godzilla, se viu obrigada a renomear o personagem que aparece no longa-metragem americano, chamando-o de Zilla, mas mantendo-o no cânone da série. O monstro reaparece na produção japonesa Godzilla: Final Wars (2004).
Se o filme não é de grande qualidade, o mesmo não pode ser dito da trilha sonora. Outra importante ação de marketing para promover o filme, os clipes de Wallflowers, Puff Daddy e Jamiroquai estavam em alta rotação na MTV. Além disso, o CD da trilha sonora oficial, com nomes como Green Day, Foo Fighters, Ben Folds Five, Silverchair e Rage Against the Machine, chegou ao número 2 da Billboard, sendo um grande sucesso de vendas. Rendendo uma série em animação que continua a história do filme, e que durou apenas uma temporada, Godzilla foi a primeira tentativa norte-americana de capitalizar com a criação japonesa mundialmente famosa. O resultado aquém das expectativas não parou Hollywood, que em 2014 chega com nova versão do monstro nipônico. Espera-se que com mais respeito ao original – e com mais qualidade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 4 |
Robledo Milani | 4 |
Chico Fireman | 4 |
Roberto Cunha | 5 |
MÉDIA | 4.3 |
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