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Sinopse

O membros da Monarch estão enfrentando diversos monstros gigantescos, incluindo o poderoso Godzilla, que confronta Mothra, Rodan e seu inimigo final, o rei de três cabeças Ghidorah. Esses seres antigos, que todos pensavam ser apenas lendas, ressurgem. Num cenário apocalíptico, os monstros disputam a supremacia do planeta.

Crítica

Após o sucesso absurdo do Universo Cinematográfico Marvel, composto por 22 filmes (até o momento) interligados, que, juntos, somam mais de US$ 21,3 bilhões nas bilheterias de todo o mundo, todo grande estúdio de Hollywood decidiu que queria ter um cenário compartilhado para chamar de seu. E se a Warner segue enfrentando problemas com o Universo Estendido DC (sete filmes, US$ 5,2 bilhões nas bilheterias) e a Universal colocou em ponto de espera o natimorto Dark Universe logo após a estreia do primeiro episódio – o fracassado A Múmia (2017), que nem Tom Cruise conseguiu salvar do fiasco – a mesma Warner tem se mostrado mais cautelosa com o apelidado MonsterVerse, que chega agora ao seu terceiro capítulo com Godzilla II: Rei dos Monstros, cinco anos após ter estreado com Godzilla (2014) e tido sequência em Kong: A Ilha da Caveira (2017). E se um quarto segmento já foi confirmado – Godzilla vs. Kong está previsto para 2020 – se deve mais a uma confiança exagerada dos produtores do que pelo que se pode ver nesse que é, ao mesmo tempo, o mais ambicioso e também mais convencional de todos os seus episódios.

E se podemos considerá-lo ousado, se deve ao único e exclusivo fato de apresentar mais monstros do que qualquer um dos filmes já protagonizados pelo personagem-título. Por outro lado, a falta de criatividade se revela na evidente inaptidão em ter que lidar com todas essas criaturas. O conceito a ser explorado no MonsterVerse é que esses titãs – como as bestas gigantes são chamadas – seriam os primeiros habitantes do planeta, porém, com o passar dos séculos, teriam abandonado a superfície, entrando em estado de hibernação, resignando-se às cavernas mais subterrâneas ou mergulhando nas profundezas dos oceanos. Desde os anos 1940, no entanto, uma companhia batizada como Monarca estaria atrás deles, catalogando-os, estudando-os e aprendendo como lidar com eles, muito mais interessada no potencial financeiro que estas descobertas teriam, e menos nas ameaças que representam. No citado Godzilla, os doutores Serizawa (Ken Watanabe) e Graham (Sally Hawkins) representam essa corporação, e com o surgimento de dois MUTOs – sigla para Massive Unidentified Terrestrial Organism, ou seja, Organismo Terrestre Gigante Não Identificado – um terceiro viria no encalço deles – no caso, o próprio Godzilla. Não para auxiliá-los, mas, pelo contrário, visando mandá-los de volta para onde vieram – ou acabar com eles, se for o caso – para restabelecer uma dita ordem. Em termos simples, o que descobrem é que os MUTOs são o perigo, e Godzilla seria o único capaz de proteger a humanidade.

Assim como Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) começa nas cenas de destruição vistas no final de O Homem de Aço (2013), revelando um outro ponto de vista para as mesmas sequências, Godzilla II parte de proposta similar, mostrando que o combate entre Godzilla e os MUTOs deixaram muitas vítimas – entre elas, a família Russell, que perde o caçula. Como resultado, os pais se separam, e enquanto Mark (Kyle Chandler) decide percorrer o mundo observando animais em seus habitats naturais, Emma (Vera Farmiga) fica com a guarda da primogênita, Madison (Millie Bobby Brown). A mãe, no entanto, possui uma agenda muito própria: com o auxílio de ecoterroristas, deseja acordar (!) todas as feras monstruosas que conseguir identificar. Segundo ela, em uma explicação bem detalhada, a Terra está doente e a caminho da própria extinção. Os monstros, portanto, seriam a cura, pois ao dizimar metade do planeta conseguiriam, por fim, reestabelecer um duvidoso equilíbrio. Um(a) vilão(ã) com motivos nobres que deseja matar um monte de gente para salvar os que sobreviveram? Sim, é quase como se Thanos ganhasse uma sobrevida após os eventos de Vingadores: Guerra Infinita (2018) e Vingadores: Ultimato (2019).

Enquanto os humanos correm de um lado para outro tais quais baratas tontas – a equipe da Monarca em um mega avião, os militares (liderados por um apagado David Strathairn, que tem ainda menos a fazer do que no longa anterior) com seus próprios armamentos e os bandidos sempre um passo à frente – o espectador é convidado a presenciar um desfile de criaturas bestiais, dispostas de modo um tanto aleatório. Da galinha mexicana (Rodan) à mariposa oriental (Mothra), passando por um mamute brasileiro (o coitado nem nome chega a ganhar), nos deparamos com um dragão de três cabeças chamado de Ghidorah (o qual é apelidado de ‘gonorréia’ em uma das frustrantes tentativas de humor do roteiro). Quanto ao Godzilla, o que lhe resta? Partir para a batalha, mais uma vez. Já Kong, que teve uma abordagem mais bem-sucedida em A Ilha da Caveira, mal chega a ser citado, como se houvesse algum tipo de receio de revelar qual sua verdadeira participação nesse não muito intricado jogo de xadrez.

É sintomático dos tempos conflituosos que atravessamos que um filme sobre monstros do tamanho de edifícios tenha como protagonista uma menina de doze anos de idade. Reflexo evidente da popularidade que a garota conquistou com a série Stranger Things (2016-2019), ela aqui repete quase que a mesma personagem, deixando de lado os poderes sobrenaturais, mas não os maneirismos da personalidade tão explorada pelo programa televisivo. Quanto aos demais membros do elenco, é constrangedor perceber o quão irrelevante são. Tem atriz indicada ao Oscar que sai de cena pisoteada por um gigante sem nem direito a adeus, estrela chinesa (aquele toque de diversidade, sabe?) que apenas repete frases prontas e figuras conhecidas que nunca chegam a tomar posição, pois mudam de ideia tal qual a direção do vento. Nada, é fato, importa de verdade. Todos sabemos que Godzilla irá sair vitorioso no final, independente do desafio que tenha que enfrentar. E se tudo que podem oferecer é um clímax noturno sob forte chuva – mais um indicativo das limitações criativas do conjunto – resta apenas a torcida para que tanto o lagarto quanto o macaco não sejam filhos de uma ‘Martha’ qualquer!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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