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Sinopse

Joe Brody criou o filho sozinho após a morte da esposa em um acidente na usina nuclear em que ambos trabalhavam, no Japão. Ele nunca aceitou a catástrofe e quinze anos depois continua remoendo o acontecido, tentando encontrar alguma explicação. Ford Brody, agora adulto, é soldado do exército americano e precisa lutar desesperadamente para salvar a população mundial - e em especial sua família - do gigantesco, inabalável e incrivelmente assustador monstro Godzilla.

Crítica

Há 60 anos, Godzilla (1954) inaugurava uma nova vertente no cinema: os filmes de tokusatsu, ou, basicamente, de efeitos especiais. Não que antes não houvesse produções do gênero. Afinal, o King Kong (1933) original já poderia se encaixar neste quadro. Porém, desde que o primeiro filme do monstrengo foi lançado nos anos 1950, houve quase 30 só dele, sem contar os inúmeros “derivados” estrelados por criaturas que destruíam cidades e afins. A nova roupagem dirigida pelo britânico Gareth Edwards não chega à ridicularidade do longa norte-americano de 1998 e, por conta disso, esperava-se uma história mais densa agora. No entanto, o novo filme promete muito e cumpre pouco.

Os créditos iniciais são interessantes, com imagens dos anos 1950 (referência clara à origem do personagem) como se fossem documentos históricos apontando que algo despertou naquela época nas águas japonesas após as tragédias nucleares. Décadas depois, em 1999, nas Filipinas, o doutor Ishiro Serizawa (Ken Watanabe) descobre dois casulos fossilizados em que um deles, aparentemente, deu origem a uma criatura gigante que arrombou a caverna e seguiu em direção ao oceano. Ao mesmo tempo, no Japão, o físico Joe Brody (Bryan Cranston) está na usina nuclear em que trabalha com a esposa Sandra (Juliette Binoche) quando uma atividade sísmica na região destrói o local, a mulher morre e a cidade é evacuada pelo perigo da radiação.

Até então estes acontecimentos, que ocorrem, basicamente, nos 15 primeiros minutos de Godzilla, colocam o público dentro da história, causando curiosidade em como tudo está conectado e como o monstro vai surgir a partir destes fatos. Em um salto de mais 15 anos, Ford (Aaron Taylor-Johnson), filho de Joe e Sandra, retorna a San Francisco após servir como militar especialista em bombas, reencontra a esposa Elle (Elizabeth Olsen) e já precisa partir para reencontrar o pai, que foi preso ao tentar invadir a área de quarentena japonesa. Juntos do doutor Ishiro, descobrem que o terremoto que causou a destruição da usina não foi algo natural.

Este excesso de informações e explicações, apesar de importantes para contextualizar a história, acabam sendo despejadas no público de uma forma morna, como se colocasse no espectador a tarefa de memorizar tudo que é relevante para, em seguida, deixar o roteiro mais leve e com menos dados. Quando é descoberto o motivo das atividades sísmicas, a relação com a criatura que saiu do casulo e se dirige aos EUA para se alimentar de radiação e, então sim, o surgimento de Godzilla como não um vilão, mas sim uma forma de equilibrar a natureza, o filme parece andar, mas se perde em momentos dramáticos que, ao fim das contas, chegam a beirar ao irrelevante. Como um personagem mesmo fala "a arrogância do homem é pensar que controla a natureza e não o contrário". Mas o filme parece atestar todo o momento que é justamente isso que se deve fazer.

Aaron como protagonista acaba sendo uma escolha equivocada, mas não por culpa do ator, e sim da construção de seu personagem. Seu arco dramático longe da esposa não causa emoção, mesmo quando ele salva um menino japonês que, em meio ao caos da destruição, se perdeu dos pais (uma metáfora do que aconteceu no seu passado). Do outro lado, a talentosíssima Elizabeth Olsen tenta a todo custo dar profundidade a sua personagem, que nada mais é do que a outra parte do casal sem função na história. Aliás, o roteiro chegar a beirar à misoginia, já que as três fortes atrizes no elenco tem participações rasas. As outras duas também são subaproveitadas. Juliette Binoche, coitada, parece que participou apenas para pagar contas, já que fica em cena por cinco minutos. Sally Hawkins como a doutora colega de Ishiro é deixada de lado durante a produção.

Não que o restante do elenco tenha uma forte presença, afinal, a grande estrela da produção é Godzilla e não há quem possa tirar este posto. Mesmo que demore demais e ele apareça de menos. Neste sentido, o diretor acerta ao mostrar o monstro aos poucos, como num jogo de luz e sombras. Vemos algumas partes do seu corpo, acompanhamos sua cauda no mar enquanto ele caça as criaturas radioativas e, só quando ele chega a seu destino é que presenciamos toda sua grandiosidade, um show de efeitos especiais de tirar o fôlego. Porém, chega a ser um anticlímax o início de seu duelo com os chamados MUTOs. Quando eles estão prestes a– literalmente – bater de frente um com o outro, a cena é cortada e voltamos ao enredo pouco interessante de Ford.

No momento que, finalmente, a briga é mostrada, finalmente, vemos o rastro de destruição causado, não devendo nada, por exemplo, à luta do Superman com o General Zod em O Homem de Aço (2013). Vale ressaltar o belo trabalho da edição de som evocando não apenas os rugidos dos montros, mas também fazendo com que o espectador sinta sua força e seu peso. Aliado a isso, a trilha sonora de Alexandre Desplat é grandiosa, porém se perde muitas vezes pelo excesso com que é utilizada.

O diretor Gareth Edwards já havia trabalhado de forma mais competente e profunda em Monstros (2010), este sim, um grande filme que faz jus ao título. Porém, talvez devido a entraves de alto orçamento, elenco de peso e produtores por trás mexendo seus pauzinhos, a qualidade deste novo Godzilla, ainda que não seja baixa, esteja aquém do esperado. Quem sabe se o filme for um grande sucesso de bilheteria uma continuação não renda melhores momentos para seu realizador. Por enquanto, é só um filme para quem realmente gosta do gênero. Tem seus momentos, mas dificilmente será lembrado como uma das melhores adaptações do monstrengo nas telas. Faltou mais Godzilla, na verdade.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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