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Sinopse

O relacionamento conflituoso entre Luiz Gonzaga, mais conhecido como o Rei do Baião, e seu filho, Gonzaguinha, também um artista importante, mas que nunca teve seu enorme talento reconhecido pelo pai.

Crítica

O ano de 2012 tem sido um ano bastante complicado para o cinema nacional. Todos os títulos que conseguiram alguma repercussão, mesmo que ainda limitada, junto ao público, tinham em comum o fato de serem comédias descerebradas voltadas para uma audiência maior e menos qualificada. Aqueles filmes mais elaborados, que abordavam temas relevantes à nossa sociedade e que tinham talentos de respeito envolvidos, seja no elenco ou na equipe técnica, ficaram aquém nas bilheterias. Pois talvez Gonzaga: De Pai pra Filho seja aquele que irá mudar esse cenário. Temos aqui uma obra muitíssimo acima da média, e ainda assim com um total poder de comunicação, que deverá atingir uma fatia de espectadores dos 8 aos 80 anos, literalmente. Filme bonito de se ver, de se emocionar, de se experimentar.

Após seu trabalho de estreia, o extremamente bem sucedido 2 Filhos de Francisco (2005), o diretor Breno Silveira procurou trabalhar no universo da ficção pura e simples, deixando as inspirações em fatos reais um pouco de lado. No entanto, após dois filmes muito bem recebidos pela crítica – principalmente À Beira do Caminho (2012), vencedor do 16° Cine PE – mas que penaram em encontrar um público mais amplo, o realizador voltou ao universo que lhe consagrou: a cinebiografia. É preciso, neste ponto, destacar que Gonzaga: De Pai pra Filho não é uma versão chapa branca, narrada de modo tradicional, da vida do Rei do Baião. Muito pelo contrário. O que temos é uma incrível e envolvente história de reencontro familiar, de um filho atrás de um pai e deste à procura de um igual a si. Quando ambos veem no outro aquele que tanto buscaram, dois ciclos estarão completos, para juntos darem início a uma nova jornada.

Os protagonistas são duas personalidades muito conhecidas do cenário cultural brasileiro. Luiz Gonzaga e seu filho, Gonzaguinha, conquistaram fãs e admiradores de norte a sul do país. Gonzaga nasceu em 1912 na cidade de Exu, pleno sertão pernambucano, e foi morrer 77 anos depois, em Recife, já consagrado como uma das figuras mais folclóricas e populares da nossa música. Gonzaguinha, por outro lado, teve uma vida mais curta. Luiz Gonzaga do Nascimento Junior nasceu no Rio de Janeiro, em 1945, e faleceu em um acidente de carro em 1991, menos de dois anos após a morte do pai. Mesmo assim esse período foi suficiente para que se tornasse um dos cantores e compositores mais renomados do nosso país, aplaudido pela prosa simples, pelas letras poéticas e pela bela voz. O que poucos sabem é que pai e filho mal se conheciam, tendo passado a maior parte das suas vidas afastados um do outro. E são estas trajetórias, aquelas que ficaram longe do conhecimento geral, que este filme agora resgata.

Gonzaga, ainda adolescente e pobre, se apaixonou pela menina errada, mais rica e branca do que ele. Rechaçado, fugiu de casa e passou onze anos longe, servindo o exército. Já adulto, vai para o Rio de Janeiro e decide viver da música que sempre lhe acompanhou. Sofre no começo, mas aos poucos se entrega às melodias mais populares e acaba encontrando uma audiência disposta a reconhecer seu potencial. Muito jovem se casa, mas a esposa morre logo em seguida, vítima da tuberculose, deixando com ele um filho ainda bebê. Artista em início de carreira, Gonzaga não tinha como cuidar da criança, e a entrega a um casal de amigos, enquanto coloca o pé na estrada e parte em busca do sucesso. A fama chega, o dinheiro também, novos amigos, um segundo casamento, mais uma filha, e Gonzaguinha, o primogênito, fica lá atrás, esquecido entre um colégio interno e o amparo de vizinhos. As pazes virão muito tempo depois, quando o pai, já velho e mais uma vez sozinho, recebe o apoio do rebento que se fez por conta própria, longe da sombra paterna, mas ainda assim trilhando caminhos muito similares.

O roteiro de Patricia Andrade – autora também de todos os filmes anteriores do diretor – é construído a partir de mais de 15 horas de conversas gravadas entre Gonzaga e Gonzaguinha. Esse bate papo entre os dois foi quase que um acerto de contas entre eles, e o maior mérito da produção é oferecer um formato competente e muito bem estruturado para uma narrativa construída com equilíbrio, alternando presente e passado. O teor emocional, sempre parte dos trabalhos de Breno, está mais uma vez em cena, porém nunca ofensivo, exagerado. É algo que envolve aos poucos, levando a uma comoção irreversível. E tudo isso, amparado por um elenco primoroso, em que se destacam o excelente Julio Andrade, numa interpretação luminosa, e Nanda Costa, numa pequena, porém esfuziante, participação, fazem de Gonzaga: De Pai pra Filho um dos melhores filmes da temporada. A ser descoberto por vários motivos, cinematográficos ou além.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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