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Sinopse
A Grande Nuvem Cinza: Em uma pequena cidade no sul do Brasil, Lidia passa seus dias vendo os outros trabalhando à sua volta e à noite sonha com tempos passados no cultivo do fumo, quando ainda conseguia andar. Junto com o resgate de sua história, conhecemos a vida de quatro outros plantadores de fumo. Documentário.
Crítica
Em A Grande Nuvem Cinza, acompanhamos quatro famílias que vivem (ou viveram) do plantio de fumo em uma pequena cidade no Paraná. Matriarca de uma delas, Lídia passa os dias observando os demais, lembrando de sua época em que fazia daquele cultivo sua forma de subsistência. Hoje, ela não consegue mais caminhar devido à utilização dos agrotóxicos. Em outra família, Joci é o braço direito de seu pai na plantação, mas sonha em virar professora e um concurso pode fazer com que ela mude sua trajetória. Silvio, por sua vez, trabalha há muitos anos neste serviço e, já na velhice, começa a pensar no final da vida e em como não pretende fechar os olhos para sempre tão cedo. Estes são alguns dos personagens que aparecem neste belo documentário do estreante em longas Marcelo Munhoz.
O diretor mostra que entende do ofício e, além de tudo, é paciencioso na captura do material. Munhoz passou mais de um ano visitando aquelas famílias, convivendo e gravando com elas suas histórias. Além de mostrar o cotidiano daquelas pessoas, o documentarista elabora algumas cenas – baseadas em observações que havia feito anteriormente – para transmitir informações importantes sem cair no lugar-comum das “cabeças falantes”. Por isso, se Lídia conta sua história para nós, é porque está ensaiando para uma apresentação. Algumas conversas mais expositivas certamente são resultado desse cuidado de Munhoz. Ajuda o fato de ele ser preparador de elenco e sua experiência acaba servindo também na direção de seus retratados.
Exibido durante a Mirada Paranaense no Festival Olhar de Cinema, A Grande Nuvem Cinza foi o único longa-metragem nesta mostra, que também contava com curtas de talentos locais. O espaço dado a essa produção é justificável pelo bom trabalho realizado e, principalmente, pela discussão que gera. O uso indiscriminado de agrotóxicos é retratado e uma das protagonistas perdeu atividades motoras por causa de intoxicação crônica daquele veneno. Ou seja, além de contar histórias interessantes e mostrar o dia a dia daqueles trabalhadores, o filme serve também como um alerta importante.
A tempestade que aparece no terceiro ato pode significar um período turbulento na vida de alguns daqueles personagens, que sonham com um futuro diferente. Sem vontade alguma de dar um ponto final naquelas histórias, Marcelo Munhoz constrói um desfecho em aberto, deixando claro que aquelas trajetórias continuam, muito provavelmente naquele mesmo cenário.


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