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Sinopse
Depois que sua aeronave colide com um asteroide, dois astronautas lutam para voltar à Terra. O homem permanece sozinho vagando pelo espaço. A mulher tenta controlar o que restou do veículo nesta luta inglória.
Crítica
O que existe ou inexiste além de nossa atmosfera nunca foi apresentado como em Gravidade, novo longa-metragem de Alfonso Cuarón que causou frisson em suas primeiras exibições. A absurda inventividade com que o cineasta conduz uma pequena narrativa, que se desenvolve em tempo contínuo, impressiona justamente pelo ineditismo de sua técnica e forma. O conteúdo e temática, pelo contrário, seguem por caminhos não tão novos assim.
Os créditos que abrem Gravidade são alarmantes e antecipam os difíceis 90 minutos subsequentes, que exploram o título do filme a partir de sua concepção científica e por meio do mesmo adjetivo que denota a seriedade das situações apresentadas. Quando a Dra. Ryan Stone experimenta as primeiras sensações do espaço e o astronauta Matt Kowalsky se despede de seu posto, destroços de um satélite atingem o ônibus espacial no qual trabalham, deixando-os à deriva. Sem muitas expectativas, uma estação chinesa próxima parece ser a única esperança para que ambos retornem à Terra.
O primeiro longo plano que abre Gravidade apresenta uma evolução da câmera de Filhos da Esperança (2006), semelhante a que fotografou a muito estudada sequência que transcorre dentro de um carro naquele filme – e que levou Emmanuel Lubezki à indicação pelo Oscar de Melhor Fotografia. Agora desconectado de quaisquer limitações de eixos, travellings e gruas, Cuarón transforma sua mise-en-scène em personagem, que orbita livremente ao redor dos protagonistas e coloca o espectador como cúmplice passivo de tudo o que transcorre em frente as suas lentes.
A câmera tem uma importância em Gravidade que merece estudos dedicados exclusivamente à sua utilização. Em determinada sequência, Cuarón apresenta a Dra. Ryan a uma distância considerável, vagando pelo espaço; num plano-sequência, o enquadramento se aproxima dela lentamente, até que entra em seu capacete e revela sua sufocante perspectiva. Seu oxigênio está próximo do fim, o vidro em sua frente embaça constantemente com sua respiração e a Terra parece longe o suficiente para tornar crível sua esperança de pousar os pés nela novamente.
Sandra Bullock, que já recebe menções a um possível novo Oscar, é espetacular em seu compromisso com a experiência mais difícil de sua carreira. Sua voz demonstra toda a fragilidade e coragem de uma mulher que, ao enfrentar situações inimagináveis, descobre o limite de sua força – e vai além dela. George Clooney retrata simpaticamente o tipo ao qual é tão habituado. Seu astronauta não se distancia muito de tantos outros papeis em sua carreira, porém ele serve bem ao posto de coadjuvante de Bullock, que toma o filme para si.
Escrito pelo diretor em parceria com seu filho, Jonás Cuarón, o filme apresenta uma excepcional decupagem para um roteiro não tão criativo assim. A essência temática e narrativa de Gravidade é recorrente a tantos outros filmes de aventura, drama e suspense, independentemente do espaço em que se desenvolvem. Assim como a trilha sonora, por vezes invasiva e condutora, a trama deixa a desejar quando propõe sequências e soluções cíclicas, que em determinados momentos soam previsíveis. Nestas situações, vale lembrar que aqui o verdadeiro protagonista é a forma, e não o que ela apresenta.
Na sequência mais simbólica de Gravidade, a personagem de Sandra Bullock finalmente consegue entrar numa nave segundos antes do que seria sua provável morte. Ela se livra lentamente do traje de astronauta, o que revela seu bonito corpo até então escondido, e desmaia de cansaço. O espetacular plano que representa seu renascimento corrobora com o encerramento do filme, que pode decepcionar parcela de sua audiência, mas que a partir de determinada perspectiva já parecia revelado desde o início da projeção.
Ao subir dos créditos de um dos filmes mais vertiginosos já feitos, impossível não pensar também em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e compará-los. Assim como Kubrick e sua insuperável obra, Cuarón atinge com Gravidade feitos até então nunca imaginados para gravar definitivamente seu nome entre os maiores cineastas de sua geração.
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