Crítica
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Sinopse
Um soldado maltrapilho encontra duas mulheres e uma trupe teatral logo após o término da guerra. Ele é uma figura destroçada do passado. Seus novos conhecidos representam o futuro.
Crítica
Os Carabineiros (1963), de Jean-Luc Godard, e Dr. Fantástico (1964), de Stanley Kubrick, são reverências e referências confessas no mais novo filme de Luiz Rosemberg Filho, Guerra do Paraguay. O cineasta, expoente de um cinema bravamente feito nos anos 1960 e 1970 e ainda lembrado como marginal, passou décadas sem assinar longas-metragens e agora amplia sua filmografia com fôlego ao lado do produtor carioca Cavi Borges, com quem realizou também Dois Casamentos (2014).
Sem se preocupar com linearidade ou precisões históricas, Guerra do Paraguay acompanha uma trupe teatral mambembe formada por três mulheres, que empurram sua carroça sem cavalo em meio a um cenário de fome e desolação. Elas cruzam com um soldado orgulhoso e patriótico que anuncia que a guerra terminou e a nação brasileira é vitoriosa. Mas seria mesmo tão simples assim? Nos longos e poéticos debates que seguem, vida, morte e violência são avaliadas num discurso antiguerra. A posição da atriz principal (Patricia Niedermeier) é poética, ainda que lúgubre, e busca na arte de Bertold Brecht a defesa para seus argumentos. A fala do soldado (Alexandre Dacosta) é vazia e belicista, e sua carência de contextos e justificativas é apoiada na arma que carrega consigo.
Proposto como um retorno ao ainda atual tema de O Jardim das Espumas (1970), Rosemberg apresenta uma obra para poucos espectadores, desconectado de quaisquer intenções comerciais, numa abordagem lenta e que se repete. É um filme que olha ao passado em sua ambientação e reflete o passado em estética e narrativa, seja na linguagem teatral da qual se vale para discorrer em monólogos extensos e circulares sobre dilemas existenciais, ou na escolha de um preto e branco exuberante para sua fotografia. Ainda assim, a crítica que permeia a produção é recente e, segundo o diretor, se direciona contra o militarismo que impede a evolução humana.
O plano sequência que abre o Guerra do Paraguay é bonito, ainda que sôfrego para personagens e audiência, e remete ao Ingmar Bergman de O Sétimo Selo (1957) e Noites de Circo (1953). O encerramento conta com uma colagem apoteótica como epílogo, embalada pela mesma valsa de Richard Strauss que já serviu à Kubrick em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968). As homenagens são muitas e Rosemberg merece outras, por manter vivo um cinema transgressor e, ainda que um pouco datado, de grande relevância para a cinematografia autoral brasileira.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Conrado Heoli | 7 |
Francisco Carbone | 8 |
Chico Fireman | 7 |
Alysson Oliveira | 8 |
MÉDIA | 5.8 |
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