A Guerra dos Sexos
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Jonathan Dayton, Valerie Faris
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Battle of the Sexes
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2017
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Inglaterra / EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
A Guerra dos Sexos: Na sequência da revolução sexual e do surgimento do movimento feminista, a partida de tênis de 1973 entre a campeã mundial feminina, Billie Jean King, e o ex-campeão dos homens, Bobby Riggs, foi divulgada amplamente. Esse jogo se tornou um dos eventos esportivos televisionados mais vistos de todos os tempos. Mesmos diretores de Pequena Miss Sunshine (2006).
Crítica
Há no início de A Guerra dos Sexos uma evidente vontade de discutir a discrepância entre o tratamento dispensado a homens e mulheres. A insurreição da multicampeã Billie Jean King (Emma Stone) contra o machismo corporativo das associações esportivas ensaia se tornar a grande bandeira da realização de Jonathan Dayton e Valerie Faris. Em meio a discursos aberta e publicamente chauvinistas, que deflagram formalmente a pouca propensão do filme às sutilezas, aparece a figura espalhafatosa de Bobby Riggs (Steve Carell), tenista aposentado, e sua compulsão por apostas. Aos poucos, porém, não é necessariamente o desenvolvimento paralelo das trajetórias, mais tarde confluentes, de ambos que enfraquece os postulados do conjunto. O discurso é direto, francamente exposto, mas combalido enquanto força motriz na medida em que outras dinâmicas o perpassam, promovendo uma diluição de sua importância e vigor. Por outro lado, a bela reconstituição de época ajuda a tornar as coisas críveis.
Logo que a indignação de Billie ganha corpo, com a realização de um campeonato alternativo no qual as mulheres possuem pagamentos minimamente compatíveis com o público alcançado, o olhar da produção se volta à seara doméstica. É conferido um tempo significativo à construção do encantamento da protagonista por sua cabeleireira. O envolvimento amoroso delas é um tabu e, portanto, acaba requisitando os holofotes, dirimindo ligeiramente a exposição das engrenagens perversas que atuam à manutenção do status falocêntrico da sociedade. Mesmo totalmente posta em jogo, a questão do relacionamento homossexual não chega a se impor como fator determinante para sucessos ou fracassos. Esse conflito é subaproveitado, se resumindo a poucas cenas do marido de Billie passando da tristeza à resignação e outras em que o desempenho das quadras parece afetado pelo torvelinho que a atravessa. A vitória como condição legitimadora, aspecto trazido à tona, se esvai sem vingar.
A própria participação de Steve Carell só engrena quando a questão sentimental de Billie praticamente estagna. Numa jogada abertamente de marketing, seu personagem desafia mulheres em atividade para partidas em que, supostamente, ele provaria a supremacia do macho. O caráter superficial de A Guerra dos Sexos aparece, inclusive, na exibição do primeiro desses jogos tira-teima, em que uma, a priori, às do esporte joga como iniciante. Faltam nuances ao longa-metragem de Jonathan Dayton e Valerie Faris e sobram conversas repletas de frases de efeito, bem como pausas dramáticas milimetricamente calculadas e, por isso, quase artificiais. O bom desempenho do elenco trata de abrandar as debilidades diretivas e de roteiro. Emma Stone, ventilada desde já como uma das possíveis postulantes às láureas na próxima temporada de prêmios estadunidense, segura bem a responsabilidade de construir cinematograficamente essa mulher aguerrida, mas afetada diretamente pelo amor inesperado.
Quando, efetivamente, os caminhos de Billie e Bobby convergem, A Guerra dos Sexos se volta à esfera midiática, já que a excentricidade do veterano parece não ter limites. Curioso notar a disposição dela, mesmo fortemente afrontada pelo discurso deliberadamente machista – ele entende-se porta-voz de uma parcela do público tão torpe quanto sua sanha por notoriedade –, em não afrontá-lo com uma retórica bélica, nesse sentido, se recusando a emular as estratégias do “inimigo” no embate embalado por uma trilha sonora finíssima (e tem como errar ao pincelar grandes músicas dos anos 70?). O filme se ressente, porém, do excesso de vieses e da fragilidade deles enquanto nutrientes uns dos outros, do que resulta um conjunto competente, mas pouco afeito a mergulhos profundos nas questões propostas. É uma cinebiografia quadrada, sem tempero singular, que se assiste com prazer, mais em virtude da representatividade dos fatos que propriamente do engenho cinematográfico.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Filipe Pereira | 5 |
Wallace Andrioli | 6 |
Roberto Cunha | 6 |
Robledo Milani | 8 |
Thomas Boeira | 8 |
Yuri Correa | 8 |
MÉDIA | 5.9 |
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