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Sinopse

1939. A tensão é alta na região da Volínia, onde vivem ucranianos, poloneses e judeus. Zosia, uma jovem polonesa, tem sua juventude cerceada com o início da Segunda Guerra. Ela se apaixona por um rapaz ucraniano, mas é obrigada a casar com um fazendeiro abastado. Nesse turbilhão de acontecimentos, a questão amorosa é só um de seus problemas. Com o avançar das tropas nazistas, ela terá que lutar pela própria vida.

Crítica

Se eventos como o Dia D ou o Holocausto são constantemente retratados pelo cinema, outros episódios particulares da Segunda Guerra Mundial ainda permanecem pouco explorados, praticamente desconhecidos pelo grande público. Em Guerra e Ódio, o diretor polonês Wojciech Smarzowski se volta justamente a um destes episódios, os massacres decorrentes do conflito étnico entre ucranianos e poloneses ocorridos no vilarejo de Wolyn. Um tema extremamente delicado, já que os atos bárbaros promovidos especialmente pelo chamado Exército Insurgente Ucraniano, não apenas contra a população polonesa, mas também contra compatriotas que se opunham às suas ideias, se tornaram objeto de debate em anos recentes sobre constituírem ou não um genocídio. Neste sangrento panorama, Smarzowski inicia seu longa apresentando um romance à la Romeu e Julieta, protagonizado pela jovem polonesa Zosia (Michalina Labacz), que nutre uma paixão pueril pelo ucraniano Petro (Wasyl Wasylik).

Nos primeiros vinte minutos de projeção, Smarzowski se dedica a retratar a cerimônia de casamento da irmã de Zosia, também com um jovem de origem ucraniana. Na preparação e durante a celebração, o atrito entre as etnias se deixa revelar, com os ucranianos, maioria da população do vilarejo, sentindo-se oprimidos pelos poloneses que, embora minoria, detinham o poder – riqueza, terras. Bastante detalhada na reconstituição de tradições e costumes culturais, essa introdução – passada em 1939, às vésperas da eclosão da Guerra – representa o último suspiro de júbilo do longa, já que, após receber a notícia de que será obrigada a se casar com um fazendeiro polonês mais velho, o viúvo Skiba (Arkadiusz Jakubik), num arranjo feito por seu pai em troca de terras, Zosia embarca numa verdadeira jornada de martírio, na qual o drama romântico juvenil inicial dá lugar ao drama de sobrevivência.

Imediatamente após a partida da irmã de Zosia, Smarzowski realiza um salto temporal, colocando Skiba no campo de batalha contra os alemães. Deste ponto em diante, a trama passa a caminhar de conflito em conflito, com traições e rupturas, passando por atos de barbárie cometidos por todos os envolvidos: pelo Exército Insurgente Ucraniano, pelos poloneses e pelos invasores soviéticos e alemães. Jogada neste caos, a jovem protagonista, agora casada com Skiba, mas grávida de Petro, passa a travar batalhas particulares – pela manutenção de seu romance com o ucraniano, pelo bem de seus enteados, pelo seu casamento, por seu filho e, finalmente, pela própria vida. Almejando uma escala épica – contando para isso com ótimos valores de produção – Smarzowski emprega um estilo oposto ao esperado classicismo, mas que nem por isso revela grande personalidade própria, apostando num tom cru, de câmera na mão inquieta e numa montagem de cortes abruptos, particularmente na transição seca entre eventos e passagens temporais.

Tais escolhas fazem com que a narrativa se torne muitas vezes confusa, mergulhada numa profusão de personagens secundários e nacionalidades. A maior parte das figuras que surgem no caminho de Zosia não ganha qualquer estofo dramático, fazendo com que seja difícil até mesmo guardar seus nomes ou saber de que lado do conflito estão – já que tanto entre ucranianos quanto poloneses existem grupos distintos. Basicamente, todos se revelam meros corpos aguardando o momento de serem mutilados de alguma forma, pois o olhar de Smarzowski se mostra cada vez mais sádico, deixando de lado as construções de personagens para dar foco total na representação gráfica da violência. Se no primeiro ato esta se restringia a rompantes esporádicos, a partir do início da Guerra há uma escalada crescente da mesma, que culmina no banho de sangue e vísceras do ato final, onde até mesmo bebês, crianças e mulheres grávidas são submetidos a toda sorte de brutalidade.

Essa busca pelo choque não só soa gratuita, como logo perde seu impacto devido ao excesso e à repetição. Além disso, toda a atenção despendida à representação da barbárie não se repete nas dinâmicas pessoais – muitas figuras importantes morrem sem que haja uma construção climática apropriada, por exemplo – ou no aprofundamento da investigação das raízes do conflito étnico. Sofrendo com essa fragilidade do trabalho de Smarzowski no trato com personagens, Michalina Labacz se esforça para dar alguma tridimensionalidade à Zosia, apresentando uma visível entrega física – com a protagonista passando por todos os tipos de provações e abusos – mas, no fim das contas, o roteiro pouco lhe oferece para ir além da jovem pura e apaixonada, impotente em meio aos horrores da guerra e aos códigos da sociedade patriarcal.

Ao fim do caminho tortuoso de suas quase duas horas meia de duração, Guerra e Ódio resulta num produto que, em nome de um pretenso realismo histórico, esbarra no sensacionalismo, esvaziando as possibilidades reflexivas que poderia gerar sobre irracionalidade de qualquer tipo de pensamento radical e xenofóbico, correndo ainda o risco de soar unilateral e surtir o efeito inverso ao da denúncia à intolerância.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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CríticoNota
Leonardo Ribeiro
4
Robledo Milani
6
MÉDIA
5

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