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Sinopse

O mundo está sendo invadido por zumbis e as Nações Unidas lutam contra o tempo para evitar o pior.

Crítica

O mundo foi invadido por mortos-vivos! Porém, em Guerra Mundial Z, filme de Marc Forster baseado no livro de Max Brooks, os zumbis são mais rápidos e letais do que jamais foram. Espalham-se pelo planeta de forma veloz e incontrolável, aniquilando sociedades, destruindo cidades e detonando governos. Desta vez, o apocalipse é pra valer. Quem leu o livro poderá ficar decepcionado. O longa tem pouco a ver com o que foi publicado pelo escritor, e isso não é novidade. Brooks já disse em algumas entrevistas que as duas obras tem basicamente um item em comum – o título. Não é bem assim, mas de fato pouco do que está nas páginas encontra-se na tela.

A própria função do personagem interpretado por Brad Pitt é diferente. Após a disseminação de uma cepa muito agressiva do vírus da raiva, cuja origem não foi claramente indicada no filme (apesar de ficar subentendida e de ser diferente daquela criada por Brooks), o funcionário da ONU Gerry Lane percorre alguns países em busca de uma possível cura para a doença que transforma os infectados em zumbis famintos. No livro, isso não existe. O especialista da Comissão Pós-Guerra das Nações Unidas, que não tem seu nome divulgado, é designado para fazer um relatório sobre o que foi definido como “a maior guerra da humanidade”. Para isso, resgata histórias de sobreviventes, combatentes e profissionais de diversas áreas ao redor do mundo.

A partir de entrevistas, o personagem da publicação remonta o holocausto zumbi que durou 10 anos e que teve início na China. A cada relato obtido, focaliza da forma mais nítida possível o cenário histórico, político, econômico, social, militar e religioso de um mundo em conflito. Além disso, informa que a guerra contra os zumbis foi vencida pela força bruta militar, com estratégia, tática, planos de ação e tiros – e não por meio de uma vacina ou cura. Apesar das profundas diferenças com relação ao livro, o filme de Marc Forster é um excelente longa de ação com altas doses de suspense e boa carga política (mais branda que a do livro, diga-se). Há cenas extremamente tensas, como a queda de Jerusalém, o ataque viral a bordo de um avião em pleno voo e a longa sequencia dentro de um laboratório. Outro ponto positivo foi não transformar Gerry Lane (Pitt) em um super-herói de última hora. Ele é um cara comum, especializado em zonas de conflito e com alguma noção militar e médica, que faz o melhor possível para se salvar.

Outro fator importante que é preciso lembrar sobre a produção é o roteiro problemático com que Forster teve que lidar. No meio das filmagens, a equipe percebeu que o script de Matthew Michael Carnahan não tinha um final adequado. Damon Lindelof (roteirista de Lost, 2004-2010) foi chamado para reescrever o material e Drew Goddard (Cloverfield, 2008) deu um toque final. Levando-se em conta o que foi apresentado, o trabalho de reconstrução foi bem-sucedido. Guerra Mundial Z também promove uma atualização da figura do zumbi, algo que já havia ocorrido em Extermínio (2002). No filme de Danny Boyle, os mortos-vivos deixaram de ser lentos, afetados pelo rigor mortis, e pouco inteligentes como vemos nos clássicos de George A. Romero. Pelas mãos do britânico, tornaram-se ágeis, espertos e potencialmente mortíferos.

Agora, Guerra Mundial Z propõe uma nova geração de zumbis: a partir de uma contaminação que se dá em segundos, ficaram extremamente velozes, agindo como uma massa amorfa mortal que toma ruas, escala muros e toma conta de tudo dando pouca chance de defesa. No entanto, boa parte dessa nova geração de não-mortos é criada digitalmente, o que tira um pouco do impacto cênico tradicionalmente proporcionado por toneladas de maquiagem, sangue, figurinos e outros elementos palpáveis. Mesmo assim, a tensão e o pavor que esses novos zumbis provocam é bem real. São sentimentos que remetem tanto aos nossos medos mais primitivos quanto a um temor relativo à queda do Estado e ao advento do caos social global. O apocalipse zumbi ecoa não apenas a figura hedionda do morto-vivo canibal, mas também a sensação de um futuro incerto, anárquico e repleto de privações variadas. Nesse cenário cético, o individualismo selvagem torna-se a ordem vigente.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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