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Sinopse
Imagens produzidas por meio de diversos dispositivos dão conta dos movimentos de uma tropa do exército norte-americano num posto avançado do Iraque. As coisas ficam tensas à medida que os soldados se tornam, abusivos.
Crítica
Com base em crimes cometidos por soldados norte-americanos durante a ocupação do Iraque, o cineasta Brian De Palma decidiu colocar o dedo na ferida da política externa dos Estados Unidos, para isso apostando na força das ocorrências e na expressividade da imagem captada por diversos meios. Não menos cinematográfico por emular linguagem televisiva ou de vídeos amadores, Guerra Sem Cortes é uma colcha de retalhos costurada pela barbárie. O diário gravado dos combatentes mostra desde amenidades do cotidiano no acampamento até movimentos brutos de repulsa aos cidadãos locais, vistos no mais das vezes como parte de uma sub-raça que deveria agradecer pela “proteção” e pela intervenção do Tio Sam com vistas em lhes “restituir a democracia”. Bem desconfiamos os intuitos serem outros. A crueza advém da representação e dos relatos abertamente agressivos de quem deveria proteger.
De Palma alterna a falsa precariedade da imagem registrada por Angel Salazar (Izzy Dias), militar aspirante a cineasta, e o visual bem acabado de um documentário francês, também falso, focado no dia a dia dos ianques em território iraquiano. Portanto, do desleixo, dos enquadramentos calculadamente descuidados, passamos ao extremo oposto, aos planos longos e contemplativos, aos closes pretensamente significativos, a uma construção floreada e próxima do vazio. Integrar possibilidades estéticas é a maneira encontrada por De Palma para refletir criticamente sobre a atualidade do cinema, sua relativamente recente configuração linguística que arregimenta elementos e texturas de outras categorias do audiovisual, como os vídeos da internet, por exemplo, que aqui fornecem novos pontos de vista no que tange aos ângulos e à posição ética/social do observador.
Guerra Sem Cortes coloca em xeque a dignidade das tropas norte-americanas, as ordens que vêm de cima e os homens que as cumprem muitas vezes sem questionar. Matar passa a ser lição de casa para esses garotos que riem jogando baralho e se divertem bolinando transeuntes assustadas, com a desculpa de cumprirem o dever. Numa ação criminosa, alguns deles retornam a certa localidade já antes inspecionada para violentar uma menina de 15 anos, ato flagrado pela câmera noturna instalada no capacete do homem que coloca a imagem acima de tudo, alienando-a paradoxalmente da realidade que o cinema e seus congêneres buscam captar e quiçá modificar. O que se vê depois disso, em conversas testemunhadas por equipamentos de segurança, é um embate entre os que não aceitam a violência como parte do trabalho e os que fazem chacota da hombridade alheia.
Além de denunciar a desastrosa intervenção norte-americana no Iraque sob o pretexto da ajuda humanitária, da erradicação de um regime, em tese, portador de armas de destruição em massa, Guerra Sem Cortes estuda os dispositivos do cinema contemporâneo. A constatação de que a sétima arte é cada vez mais influenciada por outros meios, metamorfoseando-se não necessariamente em busca de sobrevivência, mas para dar conta de um mundo caótico que pode ser apreendido de diversas formas, é exemplificada por De Palma. Voltando ao front depois de Pecados de Guerra (1989), o cineasta faz um filme socialmente engajado, sem medo de expor chagas recentes do comportamento impositivo dos Estados Unidos perante o resto do mundo. O choro envergonhado do soldado tido como herói e as fotografias reais de gente morta que encerram o longa são o espólio.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 9 |
Ailton Monteiro | 6 |
Ticiano Osorio | 9 |
Alysson Oliveira | 7 |
Chico Fireman | 7 |
Francisco Carbone | 8 |
MÉDIA | 7.7 |
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