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Sinopse

Benno é um cinquentão alcoólatra. Allegra uma jovem com sintomas de ansiedade. Os dois moram no mesmo prédio. Eles acabam criando uma amizade improvável e embarcando numa viagem por destinos notórios por suas inusitadas histórias de amor.

 

Crítica

Antigamente, quando um astro de Hollywood saía dos grandes estúdios e se arriscava a participar de uma filmagem no exterior, geralmente na Europa, era sinal de poder e prestígio – veja só o exemplo de Gregory Peck em A Princesa e o Plebeu (1953), que ainda foi responsável pela descoberta da novata Audrey Hepburn! Porém, atualmente, essa mudança de cenário tem um significado contrário: ou seja, diante da falta de oportunidades na meca do cinema, precisam se virar procurando trabalho em outras frentes. Mais ou menos como Woody Allen tem feito desde Match Point (2005), filmado na Inglaterra, ou como o próximo projeto de Johnny Depp, Jeanne du Barry, previsto para ser realizado ainda nesse ano na França. Porém, dentre todas essas opções, as italianas parecem ser amaldiçoadas. Pois após o constrangedor De Volta à Itália (2020), que levou Liam Neeson e o filho (Micheál Richardon) até Florença, chegou a vez de Clive Owen buscar emprego em Roma nesse Guia Romântico para Lugares Perdidos, um filme que em nenhum momento consegue dizer a que veio e se possui algum valor, está mais no elenco feminino do que na participação do galã indicado ao Oscar.

Sem que se entenda o que os dois fazem na capital italiana, Owen aparece como um repórter inglês, casado com a francesa vivida pela sumida Irène Jacob (o que aconteceu com a promissora atriz de A Fraternidade é Vermelha, 1994? Ah, talvez tenha ficado tanto tempo longe das telas por vergonha de ter vindo ao Brasil filmar o vergonhoso Rio Sex Comedy, de 2010). Os dois moram no mesmo prédio de Allegra (personagem da ótima Jasmine Trinca, vencedora de dois David di Donatello, o ‘Oscar’ italiano), uma mulher que vive uma interessante contradição: apesar de escrever guias de viagem como profissão, possui uma grave fobia que a impede de sair de casa na maior parte do tempo. Como os dois – Owen e Trinca – são os principais nomes do elenco, sabe-se de antemão que uma ligação entre eles irá se estabelecer. Mas esse elo acabará se dando de modo tão aleatório e gratuito, que muitos dos problemas da trama iniciam aqui, por essa falta de credibilidade inicial.

A questão é que ele está doente, e como geralmente se vê nesse tipo de drama quando tratado na ficção, há também um segredo envolvido. Nesse caso, é ele próprio que omite sua condição dos demais ao seu redor. Na emissora de televisão onde atua como apresentador, dá a desculpa de precisar de “um ano sabático longe das câmeras”, enquanto que para a esposa afirma estar tudo bem, apenas precisando de um tempo sozinho. Na maior parte do tempo, no entanto, se ocupa de beber até cair para esquecer o (pouco) tempo que tem pela frente. Certo dia, ao chegar em casa, erra o apartamento e força entrada na casa da vizinha. Essa, assustada pelo que pensa ser uma tentativa de arrombamento, chama a polícia em socorro. Quando a confusão é esclarecida, ele se oferece para fazer “qualquer coisa” como sinal de desculpas. E o que ela pede não será uma caixa de bombons ou um vaso de flores. Pelo contrário, irá exigir que a leve por um roteiro de “lugares perdidos”, ou seja, endereços pouco conhecidos cujas histórias estão esquecidas, mas que no passado foram palco de grandes desenlaces amorosos.

Como se vê, parece ser apenas pretexto para colocar os dois na estrada e desenvolver esse suposto relacionamento entre duas pessoas opostas que, durante o caminho, começarão a perceber que possuem mais em comum um com o outro do que poderiam imaginar. Nada de novo no horizonte, portanto, pois esse mesmo argumento já foi explorado tantas vezes e em obras tão superiores que colocar essa em comparação com muitos desses títulos que o precedem é só motivo para aumentar o embaraço. O mais curioso – e desajeitado – do conjunto, no entanto, é constatar que não há química nenhuma entre eles. Felizmente, também não se força esse envolvimento além da amizade, nem mesmo uma atração platônica: ele precisa se acertar com a esposa, assim como Allegra está se esforçando em descobrir como reconquistar o namorado muito mais jovem (Andrea Carpenzano, de Desafio de um Campeão, 2019), que a largou após descobrir há quanto tempo vinha sendo enganado por ela a respeito deste medo. Confusões gratuitas que se resolvem sem maiores complicações.

Então, se por um lado há muito pouco de romance em Guia Romântico para Lugares Perdidos, por outro também não se valoriza os destinos turísticos perseguidos pelo roteiro escrito pela diretora Giorgia Farina em parceria com Carlo Salsa (ambos com nenhum longa lançado no Brasil anteriormente). A realizadora demonstra estar mais interessada nas estrelas reunidas do que em suas funções na trama proposta e no que tais combinações deveriam dizer ao espectador desavisado que por aqui decida se aventurar. Como resultado tem-se um misto de drama cômico com comédia dramática que falha em oferecer tanto peso para as situações sérias que aborda como graça e leveza pelos detalhes que deveria trazer à tona. Enfim, eis uma oportunidade perdida tanto para revigorar a carreira de astros que já tiveram dias melhores, como também em apresentar para o exterior um dos nomes mais interessantes da atual cena artística italiana.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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