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Crítica


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1 voto 8

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Sinopse

Um sujeito vira atração online ao ter sua vida virada de cabeça para baixo por conta do envolvimento com um movimento obscuro numa rede social. Enquanto ele luta para sobreviver, o mundo observa tudo em tempo real.

Crítica

Miles é um ninguém. Um nada, igual a milhares de outros como ele. Seus dias são todos iguais, cinzas, sem emoções nem desesperos. Mas isso está prestes a mudar. Não pelo emprego, onde é tratado com desrespeito, assumindo uma atitude submissa que acaba se refletindo também em outros aspectos de sua vida. Como no relacionamento que tinha com Nova, a garota que amava e que acabou perdendo justamente por não conseguir se mostrar atraente aos olhos dela. Será do seu apartamento, sempre sujo e escuro, rodeado por restos de comida que pediu por delivery e roupas atiradas pelos cantos, que a maior transformação que já enfrentou virá. Ela será física, mas o levará a uma nova forma de perceber a própria existência. Esse processo poderia fazer de Armas em Jogo um conjunto interessante. No entanto, tudo o que deposita no dinamismo de sua narrativa acaba esvaziado nas possíveis leituras dramáticas. Assim, tem-se algo minimamente divertido, na mesma proporção em que se mostra inconsequente e irrelevante.

Miles é interpretado por Daniel Radcliffe, aquele que melhor tem se saído após o fim da saga Harry Potter. Ao contrário dos seus dois principais colegas – Emma Watson e Rupert Grint – ele tem buscado a se reinventar a todo custo, independente do preço a ser pago. Como o que é possível encontrar em Armas em Jogo. A própria ideia desse filme é tão absurda que, na pior das hipóteses, poderia ser ao menos divertida. Exatamente o que consegue na maior parte do tempo, não fosse a ambição do diretor e roteirista Jason Lei Howden em ir além do que é capaz de entregar. Especialista de efeitos visuais de sucessos como Planeta dos Macacos: A Guerra (2017) e da trilogia O Hobbit, tem-se aqui um profissional mais acostumado com a imagem do que com o texto, como se poderia imaginar. Não chega a ser nenhum espanto, portanto, que seu filme cause impacto maior em relação à forma do que com o conteúdo.

Assim como os piores de sua espécie – afinal, ele não é muito diferente dos demais – Miles também tem seus momentos no hater no ambiente virtual. Sendo subjugado por todos ao seu redor do momento em que acorda até a hora de dormir, é o universo digital que lhe proporciona os poucos instantes em que consegue gritar um pouco mais alto, certo de estar em uma posição segura e inalcançável. Pois não é bem assim. E é isso que descobre após dizer alguns desaforos num fórum de debates online. Uma ameaça lhe é feita, e pouco depois uma forte batida em sua porta deixa claro que o perigo é real – e imediato. Ele até poderia tentar escapar, mas sabe que não foi feito para isso. E assim que é colocado a nocaute, o seu destino estará selado. Ao acordar, horas depois, os valentões que estavam atrás dele já partiram, deixando nele um olho roxo, alguns hematomas pelo corpo e uma bela surpresa: duas armas em suas mãos. Das quais não conseguirá se separar tão fácil. Pois ambas foram emparafusadas ali.

Como um Cristo ressuscitado que carrega suas chagas à vista de todos, ele agora faz parte de um jogo ultraviolento comandado por uma gangue conhecida como Skizm. Trata-se de um reality show clandestino, exibido apenas pela internet, e que continua no ar apenas devido aos altos números de acessos registrados pela audiência. Aos participantes, todos convocados contra as suas vontades, existem apenas duas opções: viver ou morrer. E para que chegue vivo ao final do dia, Miles precisa fazer somente uma coisa: eliminar Nix (Samara Weaving, de A Babá, 2017), a maior recordista em permanência da disputa. Algo que deveria ser impossível, não fosse o infeliz rapaz o protagonista desta história.

Se tivesse se contentado em ser apenas isso, um duelo de gato e rato no qual aquele com menores chances terá que recorrer à perspicácia para superar a força bruta do seu oponente, talvez Armas em Jogo conseguisse se sair melhor do que suas parcas perspectivas apontavam. Howden, no entanto, ambiciona mais, e apesar de um ou outro bom momento – como a conversa com o mendigo ou as sequências de tiroteios, que começam bem, mas acabam anestesiadas pelo excesso – termina inserindo outros elementos, com alusões à paranoias gratuitas e conspirações policiais baratas, além de uma crítica óbvia à espetacularização da violência que pouco consegue ir além daquilo que já é evidente. Assim, apesar de mirar em algo como Vidas em Jogo (1997), um dos mais subestimados trabalhos de David Fincher, tudo o que consegue é ser mais um genérico como Nerve: Um Jogo Sem Regras (2016), movimentado e colorido enquanto dura, mas descartável e esquecível assim que termina.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
5
Leonardo Ribeiro
5
MÉDIA
5

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