Crítica
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Sinopse
Duas mulheres chamadas Helen têm suas vidas descontroladas após um meteoro cair na cidade de Troy, Nova Iorque, Estados Unidos.
Crítica
Duas Helenas, quatro capítulos. H. começa nos mostrando a mulher que trata seu boneco como se ele fosse um bebê possuidor de necessidades reais. Ainda que tenha consciência da natureza inanimada do objeto, ela acorda no meio da madrugada, por exemplo, para dar-lhe mamadeira, quando não o próprio seio. A estranheza ganha outros contornos quando seu marido vai consertar a geladeira e um parafuso “cai para cima”, ou seja, subvertendo a lei da gravidade. Mais jovem, a segunda Helena é artista e vive um relacionamento conturbado com o marido/colega de profissão de quem está grávida. A queda de um meteoro nas redondezas afeta a todos, provocando marcas físicas, ocasionando sessões prolongadas de sono entre outros distúrbios mais ou menos perceptíveis.
Agarrar-se à lógica é praticamente inútil em H. Pelo visto nos noticiários, o mundo fica, assim como nós, à procura de respostas para o fenômeno. O mistério não é intrínseco à narrativa, mas imposto a ela por um evento alheio à normalidade. Os personagens se movimentam em falso, pois aturdidos pela insólita ocorrência de proporções tão obscuras quanto práticas. A maternidade é um elemento destacado no filme dos diretores Rania Attieh e Daniel Garcia. Enquanto a Helena mais velha aplaca sua carência depositando no boneco um transbordante carinho de mãe, a mais jovem está às voltas com a gravidez literal, até que este estado seja posto em dúvida, quase como parte dos efeitos colaterais da queda do corpo celeste na cidade. O fato das protagonistas possuírem o nome da mitológica rainha de Troia que a todos encantava pela beleza não quer dizer muita coisa.
A comunicação entre os núcleos é frágil, limitando-se a algumas ocorrências isoladas e proximidades físicas sem efeito objetivo. H., basicamente, enfileira situações bizarras, expostas na tela com gratuidade, nem mesmo suficientemente engenhosas do ponto de vista cinematográfico para sustentar, ao menos, o mérito estético. Ao invés de adensar-se, a trama se atola na deliberada incompreensão. A recorrente aparição de um cavalo negro – mais adiante, inclusive, numa versão bípede/humanoide – é destituída de sentido. Não há interesse pelo enigma, tampouco pelo destino das pessoas. O único senão nesse tocante é a curiosa relação afetiva que a mulher estabelece com os bonecos substitutos dos bebês genuínos, porém não explorada a contento e sem qualquer eco na dinâmica do casal de artistas.
A cabeça da estátua de Helena navegando sem rumo no rio local é só uma imagem plasticamente bonita. O fenômeno que muda a regra das coisas, inclusive de uma força fundamental como a gravidade, ensaia ser o motor da narrativa, mas logo recua ao posto de artifício secundário, o que denota a inconsistência da proposta como um todo, mas, sobretudo do roteiro dispersivo e repleto de passagens carregadas de um vazio disfarçado de erudição subcutânea. Os diretores Rania Attieh e Daniel Garcia fazem um filme propositalmente confuso, que cai nas armadilhas da própria pretensão. H. é débil tanto no que diz respeito à construção de personagens quanto ao engendramento do mistério que os envolve.
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