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Crítica


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Sinopse

Hancock, um super-herói desajeitado, protege os cidadãos de Los Angeles, mas causa danos colaterais a cada ato heroico. Ele não se importa com o que as pessoas pensam. Entretanto, após salvar a vida de um executivo, conhece a bela esposa dele e descobre que, apesar de tudo, é um homem sensível.

Crítica

Will Smith é "o" cara! A cada novo trabalho mostra ser único no seu ofício, conseguindo com impressionante habilidade unir talento criativo, grandes espetáculos e puro entretenimento - mesmo contra as probabilidades. E com Hancock mostrou mais uma vez porque é apontado como o mais rentável astro de Hollywood! O filme estreou em primeiro lugar nas bilheterias norte-americanas, arrecadando mais de US$ 100 milhões de dólares em apenas um final de semana. Sabe quando foi a última vez que um longa conseguiu este feito, sem se tratar de uma continuação ou de um remake? Pois então, só Will consegue!

E Hancock nem é um grande filme - ainda que esteja longe de ser um desperdício. Apenas não é muito bem o que o marketing do estúdio tentou vender ao público nos meses antes do lançamento. Ao conferir o trailer exibido insistentemente, a impressão que se tinha era de uma comédia escrachada, repleta de ação e efeitos especiais. Bem, tem tudo isso acima... e mais! A trama propõe ser mais elaborada, criando uma mitologia inédita para um novo tipo de super-herói, explorando conceitos diferenciados e tentando um olhar mais revigorado sobre esta questão. E quem tenta propor algo novo no controlado cinema norte-americano hoje em dia? Will Smith!

Seria mais fácil simplesmente escolher qualquer herói de histórias em quadrinhos para interpretar na tela grande. Com o poder e carisma que possui, até se escolhesse o Superman se sairia bem. Mas não, acabou optando por algo diferente, e se o resultado não é 100%, a culpa não é dele. Ele está ali, entregue, cercado de um elenco com nomes competentes, a melhor equipe técnica disponível e uma data de estréia perfeita - o feriado de 4 de julho, dia que marca a Independência dos Estados Unidos, fim de semana em que ele já foi rei quatro vezes anteriormente (com os dois primeiros filmes da saga Homens de Preto, com Independence Day, 1996, e até com o equivocado As Loucas Aventuras de James West, 1999, sem falar de outros sucessos de sua carreira, como Eu, Robô, 2004, e Bad Boys II, 2003, que foram lançados no mesmo mês, em outros anos).

Hancock conta a história de um herói - John Hancock, interpretado por Smith - que é o último da sua espécie. Solitário, acaba pouco se importando com os humanos ao redor, e cada tentativa de cumprir o bem termina por provocar estragos maiores do que suas boas ações. Odiado pela comunidade, encontra num relações públicas a chance de melhorar sua imagem e encontrar um sentido na própria vida. Isso até descobrir que, afinal, não está tão sozinho como pensava. Ao seu lado estão Jason Bateman, que cumpre com eficiência o pouco tempo em cena que lhe cabe, e uma sexy e durona Charlize Theron. A vencedora do Oscar por Monster: Desejo Assassino (2003) pouco lembra aqui o papel que lhe valeu a tão cobiçada estatueta dourada. Bela de um modo como há muito não se via, Charlize ainda revela com cuidado todo o conflito que seu personagem está enfrentando, sendo ainda responsável pelas grandes e mais importantes reviravoltas do enredo. Ela não é só a mocinha em perigo - aliás, está sim muito longe desta condição!

O grande problema de Hancock é tentar propor algo que foge dos padrões já pre-estabelecidos. Muitos irão se confundir com o que é colocado em cena, e desta desorientação poderão surgir as críticas mais intensas. Por outro lado, como o protagonista e produtor Will Smith entende como poucos deste negócio, por mais ousado que seja - como no anterior Eu Sou a Lenda (2007), outro sucesso igualmente arriscado, em que passava mais da metade do filme praticamente sozinho, sem contracenar com nenhum outro ator - seus passos são muito bem calculados. E os portos-seguros reconhecíveis estão dispostos por todo o filme. Sendo assim, o pacote é completo: Hancock deve agradar aqueles em busca de um bom escapismo regado à pipoca e refrigerante. Mas não se enganem os mais exigentes: há ali, também, elementos suficientes para justificar um olhar mais compenetrado. Afinal, cinema também é fantasia.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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