Sinopse
Em 1843, Martin retorna incapacitado da guerra para sua cidade natal. Descobre, então, que seu irmão virou um gigante e resolve transformá-lo em atração de circo.
Crítica
A trama gira em torno de dois irmãos bascos. Um deles, Martin (Joseba Usabiaga), é mandado à guerra pelo pai, deixando o outro, Joaquin (Enego Sagardoy), para trás. Quando volta para casa, três anos depois, com um braço paralisado por ferimento à bala, o soldado descobre que seu irmão passou a sofrer de gigantismo. Pobre, aleijado e sonhando em se mudar para a América, Martin decide explorar a impressionante estatura do irmão num show itinerante para ganhar dinheiro e fugir da fazenda familiar. Handia jamais consegue fazer essa história soar interessante. O filme investe num tom asséptico e por vezes beira o sombrio, criando um distanciamento emocional que não permite aos personagens cultivarem carisma dentro de uma atmosfera tão pesada e melancólica. Se entendemos e apreciamos a jornada dos protagonistas, isso se dá num nível de observação racional.
Todavia, alguns méritos da produção são realmente bem visíveis. O seu design é composto de cenários e figurinos amplos e claramente dispendiosos. É possível perceber o investimento nesses detalhes. A direção de Aitor Arreji e Jon Garaño valoriza o trabalho dos artistas por meio de constantes planos abertos. A fotografia também é utilizada de maneira exemplar pelos cineastas, fugindo das iluminações mais artificiais de estúdio e apostando no breu e nas fontes de luzes naturais para adequar a narrativa, o melhor possível, à época em que é situada – meados do Século XIX. Além disso, os dois demonstram um olhar apurado para composições de quadro que apelam à plasticidade, como pode ser observado no encontro dos irmãos durante uma nevasca, ou quando um exército se aproxima pelo horizonte noturno, delineados pelas tênues luzes das tochas, e, ainda, na rima visual que traz, primeiro, Martin observando uma claraboia, para alguns minutos depois repetir o enquadramento com Joaquin, que, pela altura, fica com o corpo para fora da abertura.
A dualidade representada pelos dois, ao menos, é trabalhada de forma visualmente interessante por Arreji e Garaño. Joaquin é visto preso em ambientes muito pequenos para o seu tamanho. Martin é diversas vezes enquadrado dentro de molduras de janelas e portas, simbolizando que está tão aprisionado àquela situação quanto o outro. Mas, de novo, se percebemos isso, é através dessas reflexões racionais, pois tais elementos são complementados por dois protagonistas introspectivos, meio egoístas e que parecem incomodados por sua realidade. Handia não nos permite identificar o que torna o sonho de Martin tão importante, pois a impressão é a de que, mesmo que chegue à América, ele continuaria infeliz. Já Joaquin, pelo próprio papel de aberração de circo, tem o cenho constantemente fechado e a voz triste. É difícil simpatizar com qualquer um dos dois. Cabe ao espectador apenas acompanhar aquilo tudo e dizer: “é, que merda isso, né?”.
Isso, embora, Usabiaga e Sagardoy apresentem uma delicada composição de personagens. Especialmente o último, auxiliado por um estupendo trabalho de maquiagem e efeitos visuais, a fim de compor o gigantismo, que consegue manter uma expressão evocativa do intelecto obtuso atribuído a pessoas com algum tipo de deficiência, enquanto contrapõe essa expectativa com falas rápidas e articuladas que denotam a inteligência e perspicácia de Joaquin. Não é o suficiente para aproximar o público da história, mas o bastante para construir uma pessoa de emoções tridimensionais – ainda que o filme não consiga o mesmo feito.
Últimos artigos deYuri Correa (Ver Tudo)
- Os 70 anos de Os Sapatinhos Vermelhos - 8 de setembro de 2018
- Cargo - 12 de junho de 2018
- Roxanne Roxanne - 5 de junho de 2018
Acho que faltou sensibilidade ao crítico. O filme é maravilhoso e comovente.
Acho que o Yuri deveria se concentrar mais nos filmes tipo Velozes e Furiosos 1,2 3,4 e 5.