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Crítica


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Sinopse

Especialista em sapateado, Mano enfrenta problemas com seu filho Erik, pois ele não sabe dançar. O jovem logo conhece Sven, um pinguim que sabe voar, e que começa a disputar com Mano sua atenção.

Crítica

O primeiro Happy Feet, lançado em 2006, era um filme tão bom que por si só se bastava. Porém alguns elementos lutavam contra essa percepção. De início, o carisma quase que irresistível de seus protagonistas, que conquistavam a plateia imediatamente, antes mesmo do desenrolar da trama. Depois tínhamos um elenco estrelado de dubladores, que contava com as vozes de Elijah Wood, Nicole Kidman, Hugh Jackman e um irresistível Robin Williams, que após o Gênio de Aladdin (1992), criava mais um personagem animado inesquecível. Como resultado somou-se quase US$ 400 milhões nas bilheterias de todo o mundo e um Oscar de Melhor Animação do ano. Fatores que apontavam para uma inevitável continuação, mesmo sendo essa desnecessária. Percepção justa, que se comprova agora com o lançamento de Happy Feet 2: um filme bonito do começo ao fim, mas completamente dispensável.

Talvez o maior problema de Happy Feet 2 seja a falta de timing em seu lançamento. Ele chega aos cinemas anos depois do boom dos pinguins na tela grande, fenômeno bem exemplificado nos dois Madagascar (2005 e 2008), no documentário oscarizado A Marcha dos Pinguins (2005) e no próprio Happy Feet original. Foi uma saturação tão grande do simpático animal em cena que ninguém mais aguenta. Esse mesmo sintoma refletiu-se em Os Pinguins do Papai (2011), com Jim Carrey, lançado há pouco e com igual fracasso junto ao público (faturou menos de US$ 70 milhões nos EUA, a menor bilheteria de um grande lançamento do ator desde 2007). O grande pesar, ao menos nessa continuação mais uma vez capitaneada pelo australiano George Miller é que esse fraco resultado poderia ter sido evitado. Afinal, todos os ótimos elementos aproveitados anteriormente estão de volta, além das boas intenções – ok, disso o inferno está cheio, mas enfim. O grande problema, de fato, é a ausência de uma história mais relevante e que se justifique pela profundidade, algo que o primeiro possuía de sobra.

Happy Feet 2 começa com um grande número de dança protagonizado por Mano (Wood), a estrela do primeiro filme. Ele agora é um adulto, casado com Gloria (a cantora Pink), e os dois possuem um filhote, Erik (Ava Acres). Este, no entanto, assim como o próprio pai quando criança, também se sente deslocado dentre tantos pinguins cantores e dançantes, e constrangido com sua inabilidade decide fugir, acompanhado de dois amigos, Atticus e Bo. Os três pequenos acabam seguindo Ramon (Robin Williams), o pinguim galanteador de sotaque espanhol, que acaba reencontrando os antigos amigos e o mítico Lovelace (mais uma vez, Williams) numa terra distante, onde todos endeusam um pinguim completamente diferente de todos: Sven (Hank Azaria), que além de possuir cachos dourados, tem habilidade de fazer o que nenhum dos demais consegue: voar! Encantado pelo exótico Sven, Erik o escolhe como nova figura paterna, o que o leva a entrar em confronto com Mano, que está a sua procura. Mas estamos em tempos de descongelamento global, e um enorme iceberg, ao se deslocar, termina isolando todos os pinguins-imperadores numa cratera sem saída. Os únicos de fora são Mano e os filhotes, que terão que recorrer a Ramon, Lovelace e Sven, dentre tantos outros, para ajudá-los nessa missão quase impossível de resgate.

Assim como na trilogia A Era do Gelo (2002, 2006 e 2009), os melhores personagens em cena em Happy Feet 2 não possuem quase que nenhuma relação com a trama principal. São dois krills, crustáceos minúsculos que se encontram na base da cadeia alimentar, servindo apenas de alimentação para animais maiores. Will e Bill, dublados por Brad Pitt e Matt Damon, se rebelam contra o destino inevitável e se lançam numa jornada singular que realmente emociona e provoca reflexões. Ao mesmo tempo que merecem lutar por um futuro melhor, como ficam os demais que dependem deles como alimento? E longe do bando que os dá sentido e finalidade, o que realmente significam? As vozes dos atores originais são um charme à parte, lembrando a parceria já editada entre eles na trilogia Onze Homens e um Segredo (2001, 2004 e 2007).

Com belos números musicais (a interpretação do clássico Under Pressure, do Queen, é particularmente impressionante) e assumidamente mais musical do que o filme anterior, Happy Feet 2 chama atenção também pelo ótimo uso dos efeitos em 3D, pelo cuidado com os detalhes e pelo aproveitamento do visual antártico, que é de deixar qualquer um de boca aberta. Mas, se durante a projeção, ficamos envolvidos e embasbacados, logo que a mesma se encerra tudo o que foi visto até então logo se esvaece. Não há algo que perdure em nossa memória e se destaque como diferencial em relação ao que já foi visto antes. É um filme absurdamente belo e muito bem feito, mas que carece de algo superior que o torne verdadeiramente memorável.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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