Hare Krishna: O Mantra, O Movimento e o Swami que Começou Tudo
-
John Griesser, Jean Griesser, Lauren Ross
-
Hare Krishna! The Mantra, the Movement and the Swami Who Started It All
-
2017
-
EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Fundador do movimento espiritual Hare Krishna, Srila Prabhupada chegou aos Estados Unidos em 1965 com 70 anos e praticamente nenhum dinheiro ou contatos. Morando em Nova York, ele começou a dar palestras interpretando antigos sânscritos indianos na época do auge da contracultura, e os jovens hippies, inclusive George Harrison dos Beatles, rapidamente se juntaram. O swami foi um incansável promotor até sua morte em 1977, tendo viajado por todo o mundo para espalhar sua mensagem.
Crítica
O extenso título do documentário dirigido pelo casal John e Jean Griesser, Hare Krishna! O Mantra, o Movimento e o Swami que Começou Tudo, sugere, a princípio, uma investigação completa sobre todos os aspectos que envolvem a criação do movimento Hare Krishna, cuja a origem remete às milenares escrituras védicas indianas. Esse título, contudo, poderia ser reduzido apenas à sua parte final, “O Swami que Começou Tudo”, já que o trabalho dos diretores se revela totalmente centrado na figura de Srila Prabhupada, o líder espiritual responsável por levar essa filosofia ao ocidente – fundando, na Nova York da década de 1960, a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna – e, posteriormente, por difundi-la no resto do mundo.
Seguidores do movimento, John e Jean Griesser – que mantiveram contato próximo com Prabhupada nos anos 1970, acompanhando sua trajetória através de registros fotográficos e em vídeo – exploram, ao lado da codiretora Lauren Ross, a imagem do Swami à exaustão, fazendo com que esta domine a projeção desde o trecho de uma antiga matéria jornalística que abre o documentário. O material é, de fato, volumoso, com um grande número de fotografias, gravações em áudio e entrevistas filmadas de Prabhupada, utilizadas para recontar sua vida, com ênfase na jornada espiritual empreendida nos Estados Unidos, iniciada com sua chegada a Nova York, em 1966, aos 70 anos de idade. Porém, mesmo com esse vasto acervo à disposição, a narrativa, que apresenta idas e vindas na linha cronológica com o intuito de destacar pontos específicos, parece operar numa única nota.
Tal qual as dezesseis palavras que compõem o mantra Hare Krishna, hoje universalmente conhecido, os tópicos levantados pelos cineastas são repetidos inúmeras vezes, servindo à construção de uma peça de exaltação e devoção irrestrita a Prabhupada. Exceção feita a alguns historiadores e especialistas em estudos religiosos, todo o corpo de entrevistados é composto de antigos seguidores do Swami e simpatizantes da religião, não oferecendo, assim, algum contraponto às suas ideias. Há apenas um momento em que os diretores esbarram em uma questão controversa, ao tratar do episódio em que dois seguidores do movimento foram indiciados pela Suprema Corte, acusados de praticar lavagem cerebral, num momento em que os Hare Krishnas foram apontados por alguns como uma seita de fanáticos religiosos, levando a comparações com cultos que surgiram na época e terminaram de modo trágico, como o de Jim Jones.
Essa passagem, entretanto, se mostra isolada, terminando esmagada pelo peso da figura, indubitavelmente carismática, de Prabhupada. A exploração excessiva de sua persona se sobrepuja também à possibilidade de um mergulho mais aprofundado nos meandros da filosofia Hare Krishna ou mesmo nas vidas e experiências dos discípulos do Swami. Prabhupada se torna verdadeiramente onipresente, já que um novo retrato de seu rosto sorridente parece surgir em tela a cada três planos. A estrutura didática e rotineira da narrativa inclui ainda reconstituições de algumas passagens específicas, como da infância do protagonista e de sua vida na Índia antes da viagem à América. Sequências essas que não escondem sua artificialidade.
É somente ao inserir o Hare Krishna no contexto histórico e social de seu surgimento no Ocidente, que o longa atinge um interesse mais amplo. O cenário de efervescência da contracultura fez com que a filosofia pregada por Prabhupada fosse vista como uma alternativa na busca pela sonhada combinação “paz e amor”, atraindo a juventude hippie norte-americana e atingindo também personalidades do mundo artístico, como o poeta beat Allen Ginsberg. Rapidamente, os Hare Krishnas adentraram o imaginário da cultura pop: o visual marcante dos homens com os cabelos raspados, vestindo túnicas de tecidos laranja e amarelo, cantando e entregando panfletos nos aeroportos foi propagado pelo cinema, especialmente para fins cômicos, mas é a estreita ligação com o universo musical que ganha mais atenção.
São lembrados episódios como o show beneficente realizado em São Francisco, que contou com artistas como Grateful Dead e Janis Joplin e, especialmente, a relação de George Harrison com o Hare Krishna, cujo interesse pela sonoridade e cultura indianas só aumentou após o fim dos Beatles. Foi com “My Sweet Lord”, talvez a mais emblemática canção da carreira solo de Harrison, e que traz diversas referências à filosofia hindu, incluindo o mantra sagrado, que o movimento se propagou pelo Reino Unido, gerando um enorme impacto. Esses momentos, sem dúvidas os mais ricos de Hare Krishna! O Mantra, o Movimento e o Swami que Começou Tudo, contudo, não são suficientes para apagar por completo a sensação de estarmos diante de uma ferramenta de divulgação, ou mesmo de conversão, em busca por novos devotos.
Últimos artigos deLeonardo Ribeiro (Ver Tudo)
- Pessoas Humanas - 9 de janeiro de 2024
- Resgate de Alto Risco - 27 de janeiro de 2022
- Nheengatu: O Filme - 2 de dezembro de 2021
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Leonardo Ribeiro | 5 |
Filipe Pereira | 5 |
MÉDIA | 5 |
Deixe um comentário