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Sinopse

Em Hellboy e o Homem Torto, o Vermelhão se une a um agente novato da B.P.D.P. na década de 1950 e são enviados para os Apalaches (cordilheira da América do Norte). Lá, descobrem uma remota e assombrada comunidade, dominada por bruxas e liderada pelo sinistro demônio local, conhecido como O Homem Torto. À medida que exploram os mistérios sombrios deste lugar isolado, Hellboy confronta segredos enterrados de seu próprio passado, levando-o a uma batalha épica contra forças malignas que ameaçam desencadear o caos sobre o mundo.

Crítica

Diferentemente das outras duas versões de Hellboy nos cinemas, esta não pode ser tida como uma superprodução. Para começo de conversa, especula-se que tenha custado cerca da metade do orçamento de Hellboy (2009) e ao menos um terço do necessário para os filmes dirigidos por Guillermo Del Toro. Se nem as tentativas anteriores de emplacar a criação de Mike Mignola chegaram a ser enormes êxitos – embora algumas sejam muito boas –, provavelmente Hellboy e o Homem Torto tampouco será responsável por popularizar o personagem demoníaco. E isso nem tem a ver com méritos ou deméritos. O longa-metragem dirigido por Brian Taylor é um filme pequeno, menos decidido a ser uma aventura grandiloquente cheia de ação voluntariosa e personagens excêntricos. Ele conta uma boa história de terror em que o personagem nascido nas profundezas do inferno é mais testemunha do que agente principal. Hellboy (Jack Kesy) cai numa região maligna depois de perseguir uma aranha encapetada na companhia de sua parceria Song (Adeline Rudolph). Nesse lugar repleto de histórias macabras, no qual Hellboy não é uma garantia de vantagem, os dois ficam sabendo do Homem Torto (Martin Bassindale), o avarento espírito que coleta almas para o Satanás em troca de moedas. Nessa nova versão, Hellboy é um personagem menos vibrante, sendo a grande figura que enxerga o sobrenatural com praticidade.

Hellboy e o Homem Torto

O que talvez seja decepcionante para algumas pessoas é essa falta de um real protagonismo de Hellboy. Enquanto o folclore local é destrinchado a cada interação com almas penadas, bruxas e bestialidades de todos os tipos, o Vermelhão se consolida como um aliado bem-vindo da população local acostumada com as aparições fantásticas e os desaparecimentos misteriosos. Com cara de produção B (isso é bom), daquelas em que o investimento foi insuficiente para alcançar uma atmosfera sofisticada, Hellboy e o Homem Torto deixa de lado qualquer pretensão de grandeza. Ele se assume rapidamente como um singelo conto macabro no qual Hellboy é um detetive peculiar convocado a lidar com os próprios demônios enquanto tenta ajudar Tom (Jefferson White), o homem que retorna para casa depois de tentar fugir da sua sina de bruxaria. Ao chegar, Tom recebe a notícia de que seus pais morreram, o que leva à tentativa de fazer as pazes com o passado no qual quase sacramentou pactos satânicos que o transformariam em feiticeiro. O mais interessante aqui é o rol de aparições bizarras, de figuras repugnantes e de soluções visuais que compensam os obstáculos de produção. Há também o bom uso do som ajudando a construir a atmosfera macabra e a distância da visão de Hellboy como anti-herói descolado, ao contrário das produções anteriores protagonizadas por esse Vermelhão infernal.

Diferentemente das versões encarnadas por Ron Perlman e David Harbour, a de Jack Kesy é mais discreta e pesarosa. Compondo um Hellboy nem sempre em vantagem por conta da origem demoníaca, Kesy às vezes é atrapalhado pelo surgimento de outras linhas narrativas, em outras ocupa confortavelmente esse lugar de demônio “do bem”, disposto a arriscar a própria vida para salvar Tom e seus vizinhos da maldição do Homem Torto. O visual é mais cru e soturno do que, por exemplo, os filmes enormes e multicoloridos de Guillermo Del Toro, especialmente por conta da abordagem mais sombria e de menor escopo, realmente no qual Hellboy não é sequer o principal ponto de interesse. Tom se depara com a bruxa ninfomaníaca que faz piadinhas infames com ereções, acerta contas com outra mulher do passado que fechou um pacto de sangue satânico, isso tudo para sepultar o pai no terreno consagrado de uma igreja. Aliás, ao chegar a esse cenário, Hellboy e o Homem Torto cresce em tensão, pois nele há a citação de um mundo literalmente subterrâneo, os causos e lendas de um lugar cujo subsolo é formado pelas veias abertas na terra para fins de exploração do carvão. Para completar a fatura, até alguns cadáveres se erguem dos túmulos como zumbis enfeitiçados para tentar a vitória do maligno contra o benigno. O que falta ao filme é a elaboração atmosférica apropriada para expandir esse universo.

Hellboy e o Homem Torto parece um passo atrás no que diz respeito à transposição de Hellboy para os cinemas. E talvez essa seja realmente a melhor forma de defini-lo. No entanto, não quer dizer que esse conto menos grandiloquente é desprovido de qualidades ou mesmo de charme. Ele está mais para uma interessante produção B (com todas as limitações e o charme que o rótulo atribui) do que para um medíocre filme cozinhado nos fornos famintos dos grandes estúdios. Há elementos pouco elaborados, como a paixão velada de Hellboy pela companheira de campo ou a história pregressa da comunidade coalhada de bruxas e outras entidades malignas. O momento do enfrentamento do Homem Torto poderia ser mais empolgante e intenso, porém Brian Taylor mantém o interesse na exploração das obscuridades do terror folk, expandindo assim a mitologia com feiticeiras e seus pactos com o Satanás, homens indignos ressurgindo como mortos-vivos animados pelos pecados e insinuações sexuais que tornam bizarras certas interações. Tudo isso com efeitos digitais honestos, de qualidade e alcance compatíveis com o pouco orçamento. Mas, especialmente pela utilização de maquiagens e próteses, assim como por conta de seu destaque à naturalidade do mal, à superstição, à religiosidade e ao amor contaminado pelo demônio, Brian Taylor merece os seus créditos. Senão como o salvador da lavoura, mas como um bom agricultor.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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