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Sinopse

Vinte anos depois de tentar um pub crawl - uma maratona de bebedeira em vários bares diferentes numa única noite - um grupo de cinco amigos de infância se reúne novamente para arriscar o feito. A diferença é que agora eles têm 40 anos e chegar ao pub The World's End ("o fim do mundo"), parada final da maratona, será bem mais difícil. Ainda mais quando há uma invasão extraterrestre em andamento.

Crítica

As colaborações entre o inventivo cineasta Edgar Wright e os atores Simon Pegg e Nick Frost, que já renderam os incomparáveis Todo Mundo Quase Morto (2004) e Chumbo Grosso (2007), partilham dos mesmos valores não apenas em superfície, por meio das paródias de gêneros e clichês reinventados. A partir do apocalipse zumbi e da improvável dupla de policiais, seus filmes exploraram os medos de homens que foram crianças apaixonadas por estes temas no cinema e que se valem dos mesmos como metáforas para lidar com as incertezas do futuro, suas inabilidades para tornarem-se adultos e, com Heróis de Ressaca, suas crescentes dificuldades para superar bebedeiras históricas.

Wright, Pegg e Frost encerram a trilogia Sangue e Sorvete – ou Trilogia dos Três Sabores de Cornetto – com uma história sobre a amizade fragmentada de um grupo que se reúne depois de muitos anos, quando o ex-líder deles (Pegg) os obriga a uma nova incursão pela Golden Mile, circuito composto por 12 pubs e muitas cervejas que fez o grupo passar vergonha duas décadas atrás. Seus relutantes companheiros, interpretados por Frost, Martin Freeman, Paddy Considine e Eddie Marsan, deixam de lado suas vidas suburbanas e casamentos felizes para uma última noite boêmia. Os ânimos se agitam, lembranças retornam, arrependimentos os confrontam e outros sentimentos afloram no que seria um remake tardio de Conta Comigo (1986). Isso até serem atacados por uma legião de assassinos extraterrestres que tenta dominar o universo – mas isso é apenas um detalhe.

Como já deixou evidente nos dois capítulos precedentes de sua trilogia, Wright é um mestre no mashup de gêneros e referências ao criar um pastiche inteligente repleto de conversas histéricas, gags imprevisíveis e até mesmo algum sentimentalismo. A ação surge naturalmente dentro de seu enredo, quando o grupo decide combater a ameaça crescente fingindo normalidade enquanto persegue o sonho de vencer a Golden Mile sem terminar com coma alcóolico. Ao aceitar os eventuais exageros de um humor nada convencional, Heróis de Ressaca se torna para o espectador uma desventura incrível ao lado de bêbados adoráveis; em quase duas horas de duração é impossível não sentir empatia e até mesmo um certo grau de amizade por esses tipos.

Em outras mãos, este roteiro se tornaria facilmente uma espécie de Se Beber, Não Case (2009), o que justifica a tentativa da distribuidora brasileira em relacionar pelo título as duas produções. No entanto, idealizado por Wright, um dos mais originais cineastas contemporâneos, a produção ainda conta com os excelentes Pegg e Frost, seus talentos para o improviso e com um elenco extremamente carismático, combinação que parece não impor limites para a criatividade. Em algum lugar especial dessa química aparece a apaixonante Rosamund Pike, num dos maiores acertos de um casting singular.

Apesar dos maiores esforços, Heróis de Ressaca ainda figura abaixo de Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso numa difícil escala classificatória da trilogia. Contudo, para uma saga que concebeu dois clássicos instantâneos, tal situação deveria ser mesmo inevitável. Mesmo considerando suas singularidades, o filme acaba como o mais tradicional entre os três, talvez por deixar de lado algumas das sutilezas características do humor britânico para apostar numa narrativa e montagem levemente mais convencionais.

Gary, o personagem de Pegg, tem um passado evidentemente sofrido e é impossível não sentir pena dele quando seus amigos os ignoram ou criticam. Seu maior desejo é reviver a noite em que se sentiu no topo do mundo e recriar um laço com aqueles que foram as pessoas mais importantes de sua vida. Entre suas piadas muitas vezes infames e sequências de ação e aventura, Heróis de Ressaca é estranhamente contemplativo, nostálgico e até mesmo comovente. Mais uma vez Wright se vale de argumento e ambientação incomuns para tratar de temas corriqueiros, passíveis de emoções que vão muito além das copiosas gargalhadas.

Ao fim, Heróis de Ressaca revela um desenvolvimento inédito para um filme sobre uma invasão alienígena, mas perfeito para encerrar uma série magnífica. Com o início dos créditos finais, qualquer fã das aventuras de Wright, Pegg e Frost é invadido por uma sensação de tristeza pelo encerramento da deliciosa Trilogia Sangue e Sorvete. Você vai desejar reviver toda a saga pela primeira vez ou se tornar mais um ansioso por uma nova aventura. Afinal, existem muitos outros sabores de Cornetto.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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