Crítica
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Sinopse
Um boicote no campeonato de basquete profissional deixa o agente Ray Burke numa situação difícil em meio à disputa entre atletas e dirigentes. Para salvar sua carreira, ele resolve apostar alto. Com apenas 72 horas para achar uma solução, dribla os poderosos e descobre uma brecha que pode mudar o futuro do esporte. O resultado levanta duas questões: quem domina o jogo? E quem deveria?
Crítica
Steven Soderbergh é, acima de tudo e antes de qualquer coisa, um inquieto. Não apenas em relação aos temas que explora em seus filmes – tanto é que, em mais de 30 anos de carreira, já dirigiu thrillers e comédias, noirs e dramas, aventuras espaciais e cinebiografias, romances e catástrofes – como, também, na forma em que busca apresentar estes trabalhos – em vídeo e em cinema, em explosão de cores e em preto e branco, na tela grande ou na televisão. Sua mais recente febre, no entanto, diz respeito ao uso de um smartphone – um iPhone, no caso – como câmera para o registro de suas imagens, o que, ao menos em teoria, lhe garante uma maior mobilidade e dinamismo na condução de suas histórias. O primeiro passo nesse sentido foi o obscuro Distúrbio (2018). E o segundo a seguir essa linha é esse High Flying Bird, título que até utiliza esse recurso a seu favor, mas pouco o faz de modo a que contribua no avanço qualitativo. Ou seja, entendemos sua razão de ser, mesmo que ela não seja suficiente para justificar a existência do todo.
E isso porque, acima de tudo, High Flying Bird é um filme de esportes em que não há esportes, uma história sobre bastidores que pouco revela sobre essas engrenagens e um drama pessoal que parece ter receio de se aproximar dos seus personagens. Enfim, em mais de um momento quase chega lá, mas invariavelmente acaba se perdendo pelo meio do caminho, seja por atenção demasiada ao caminho perseguido, seja pela própria estrutura assumida, que mais o engessa do que o libera. É tanto vai e volta, troca de cenários e andanças para lá e cá que até pode colaborar em proporcionar a vertigem vivida pelo protagonista e aqueles ao seu redor, mas quase nada facilita em propor um melhor entendimento sobre o que de fato está se passando. O resultado, como fica evidente, é que este é um filme de e para iniciados, restando aos demais por fora deste ‘círculo’ a incompreensão ou mesmo o afastamento.
André Holland (Castle Rock, 2018) é Ray Burke, um agente de esportes diante de um dos momentos mais críticos da história recente da NBA: o lockout, período durante o qual um impasse trabalhista quase impediu que a temporada 2011-12 fosse realizada. Era o jogo acima do jogo, quando os empresários e donos dos clubes e empresas associadas – como mídia e merchandising – exigiam condições de explorar com maior amplitude este mercado, diminuindo, como consequência, os ganhos daqueles que, de fato, davam o seu suor nas quadras. Durante os poucos dias em que a ação se passa, ele terá que fazer uso de todos os seus contatos não apenas para garantir o nome do seu protegido, como também para manter ele próprio acima das negociações que estão se desenvolvendo.
Entre as pessoas que passam a cruzar seu caminho, está o seu superior no escritório (Zachary Quinto), o atleta profissional (Melvin Gregg, de Sharknado 3: Oh, Não!, 2015), o velho treinador (Bill Duke, de Comando para Matar, 1985), a ex-assistente (Zazie Beetz, de Deadpool 2, 2018), a agente concorrente (Sonja Sohn, de Luke Cage, 2016) e o empresário (aparentemente) inescrupuloso (Kyle MacLachlan, de Twin Peaks, 1989-2017). São figuras que, ao menos na superfície, soam interessantes. Porém são raras as que ganham chance real de serem aprofundadas. Sabemos da religiosidade do treinador, da orientação sexual da agente, do envolvimento entre o atleta e a assistente, da família do empresário. Mas o que isso diz a respeito de cada um deles? E como tais informações determinarão a relação deles com o protagonista? Sem falar que tudo acaba por ser jogado na tela sem uma ordem de prioridades, eliminando possibilidades de influenciarem de forma definitiva o andar dos acontecimentos, ao menos sob a perspectiva da audiência.
Ao combinar um elenco disposto a dar o melhor de si – Holland e Beetz são os destaques – com um formato que ao menos enquanto conceito parece ser revolucionário, Soderbergh termina por se perder em uma terminologia por demais específica para atingir um público mais amplo, da mesma forma em que acaba afastando aqueles minimamente interessados pelo exercício técnico do cineasta. High Flying Bird pode até se apresentar como um pássaro capaz de voos mais altos, mas tudo o que consegue é planar bastante próximo da superfície, sem nunca alcançar um horizonte mais promissor. A curiosidade, portanto, logo se dissipa, e o que resta é não mais do que um esforço que momento algum chega a cumprir aquilo que havia prometido.
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