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Sinopse

Um grupo de crianças se veem presas em seus pesadelos, repletos de contos de folclore e lendas urbanas de terror, que se tornam realidade.

Crítica

O cenário de Histórias Assustadoras para Contar no Escuro é próprio do cânone do horror. Afinal de contas, inúmeros filmes filiados ao gênero se passam numa cidadezinha e, mais ainda, em meio à celebração do Halloween. Embora o diretor André Øvredal não se atenha restritamente à deflagração política do discurso, permanente no substrato do conjunto, a ambientação, no fim das contas, atende bem mais ao desejo/necessidade de mostrar uma localidade provinciana cheia de nódoas obscurantistas passeando livremente no dia a dia do que necessariamente à alusão puramente formal. Sim, pois sustentando a trama com adolescentes possuindo um livro de histórias macabras escritas por certo espírito obsessivo está a conotação sociopolítica oferecida a conta-gotas, ora escancaradamente, ora com bons tantos de sutileza. Nesse sentido, são constantes, bem como sintomáticos, os vislumbres da televisão ou de outros meios de comunicação reportando a dianteira do conservador Richard Nixon na corrida para a presidência dos Estados Unidos.

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro se passa em 1969, ou seja, quando parte significativa da sociedade estadunidense clamava por direitos civis igualitários e pelo fim da Guerra do Vietnam, isso enquanto o grosso do eleitorado passava seu cheque em branco para um governante, no mínimo, controverso por suas posições reacionárias. Stella (Zoe Margaret Colletti), Auggie (Gabriel Rush) e Chuck (Austin Zajur) não são os alunos mais badalados da escola, pendendo ao grupo dos excluídos. Não à toa existe um momento de vingança contra o bully anteriormente visto comemorando o iminente embarque para a guerra como se uma vitória pessoal – o que, portanto, demonstra seu alinhamento com as forças prestes a chegarem ao poder nos Estados Unidos. Essa desforra também está presente no comportamento da entidade responsável pelos massacres no passado e que, uma vez desperta, continuará escrevendo contos macabros que viram realidade e vitimam adolescentes.

A mensagem, reforçada do fim, não poderia ser mais clara, uma vez que essa toxicidade da mentira, das fake news, faz com que vítimas, a fim de se defender ou motivadas pelo rancor acumulado, também se tornem involuntariamente agressoras. Em Histórias Assustadoras para Contar no Escuro esse pano de fundo é essencial para adensar a atmosfera de horror que, então, não é alimentada somente por criaturas surgidas inexplicavelmente para tornar verídicos os escritos no caderno antigo. Uma lástima que André Øvredal afrouxe ligeiramente essas amarradas entre as camadas superficial e subjacente além do que deveria, permitindo incongruências, tais como a forma esquemática com que personagens entram em determinados locais e encontram artefatos rapidamente. O exemplo mais acintoso dessas derrapadas ocasionais é a cena do casal prontamente tendo em mãos tudo para ouvir os ecos bizarros de tempos idos e, com isso, resolver um enigma vital ao sucesso dos planos. Mas, felizmente, nada tão grave assim.

Todavia, objeção feita às vaciladas, o todo é bem amarrado, equilibrando bem o terror sobrenatural e seu equivalente cotidiano. No que tange aos monstros, André Øvredal trabalha suas aparições com cuidado, evitando depender demasiadamente dos sustos, lançando mão de jump scares com parcimônia. A fim de oferecer outras possibilidades à leitura da sociedade tacanha na qual o filme se passa, ele confere destaque a Ramón Morales (Michael Garza), rapaz de origem hispânica tratado com desdém pelo policial de plantão e igualmente pelo bully, este rapidamente vítima do ódio que ele próprio fomenta. Desertor de uma guerra sobre a qual não foi consultado, ao contrário de seu antagonista, Ramón não se sente impelido a correr riscos de morte em função de arroubos patrióticos incutidos por mentalidades retrógradas e belicistas do Estado. Mesmo que nem sempre mantenha íntegros os nutrientes políticos do horror, o filme gera uma ótima metáfora, inclusive fazendo ponte com A Noite dos Mortos Vivos (1968), criando elos com as alegorias de George Romero.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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