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Sinopse

Clara das Neves é a filha de um rei que acaba de morrer e, em decorrência da morte do pai, seu protetor, ela passa a ser perseguida por sua madrasta, uma malvada ninfomaníaca invejosa. O caçador torna-se amante da bela princesa e, sem coragem de matá-la, deixa-a na floresta, na companhia dos sete anões.

Crítica

Quem passou da faixa dos 30/40 anos deve lembrar muito bem das exibições constantes de Histórias que Nossas Babás Não Contavam nas sessões noturnas do SBT na década de 1980. Sucesso de público quando exibido nos cinemas e presença obrigatória em qualquer lista de clássicos da pornochanchada, o longa-metragem dirigido por Oswaldo de Oliveira (de Internato de Meninas Virgens, 1977) é uma divertida e safada paródia do conto de fadas Branca de Neve e os Sete Anões, com elenco capitaneado pela estonteante Adele Fátima, conhecida anteriormente pelos comerciais de sardinha e que acabou virando um dos símbolos sexuais mais marcantes do final da década de 1970 e começo de 1980 no Brasil. Seu papel neste filme certamente ajudou este título.

Na trama, em um reinado saído direto dos contos infantis, Clara das Neves (Fátima) é a jovem princesa do local, filha do monarca com uma rainha africana, já falecida. Quando o rei também parte dessa para melhor, deixa o reino nas mãos de sua nova esposa, a maquiavélica e ninfomaníaca Rainha (Meiry Vieira), que sempre consulta seu espelho para saber quem é a mais bela e gostosa. O espelho, interpretado por Renato Pedrosa, não tem dúvidas: Clara é quem merece o posto de beldade do local. Ainda por cima, está se engraçando para o lado do Príncipe (Dênis Derkian), o amante de sua majestade. Furiosa, a Rainha ordena que Clara seja morta pelo caçador (Costinha) que, assim como no conto de fadas, se encanta pela moça e a deixa fugir – não sem antes tirar uma boa casquinha de sua protegida. Sem onde ir, a princesa acaba sendo encontrada por sete anões que a levam até sua casa. Eles ficam em polvorosa com a presença daquela bela mulher na casa e tentam de todas as formas dividir a cama com ela – exceto o Zangado, que até então era o anão mais cobiçado pelos demais companheiros de casa. Isso, em linhas gerais, é Histórias que Nossas Babás Não Contavam.

A alcunha de pornochanchada, por vezes, é atribuída à filmes dessa época de forma errônea – visto que alguns são apenas cômicos, outros são apenas eróticos, sendo que a junção é que dá liga ao gênero. No caso deste trabalho de Oswaldo de Oliveira, o carimbo não poderia estar mais correto. Histórias que Nossas Babás Não Contavam é tão engraçado quanto excitante. No quesito graça, o roteiro de Ody Fraga e Anibal Massaini Neto consegue subverter regras dos contos de fada de forma esperta, dando ótimas falas para o Espelho Mágico de Renato Pedrosa e para o Caçador de Costinha. Esses são os dois destaques cômicos, ainda sobrando espaço para o anão Zangado, que com seu ciúme doentio pelos companheiros consegue fazer rir a cada nova participação. No quesito erotismo, Adele Fátima e Meiry Vieira são duas atrizes belíssimas, que vão além apenas dos atributos físicos em suas performances. Fátima capricha na inocência inicial para depois se libertar aos prazeres da carne com o Príncipe, o Caçador e os anões. A Rainha, por sua vez, possui atitude e é uma mulher de pulso firme, nunca perdendo a oportunidade de sentir prazer. Suas cenas com o Espelho são impagáveis.

Lançado no mesmo ano da Lei da Anistia, nos momentos finais da Ditadura, o filme faz citação textual à ideia da “anistia ampla, geral e irrestrita”, negando o recurso para a princesa Clara em um momento mais politizado da história. É apenas um pequeno diálogo, mas acaba mostrando interesse do cineasta Oswaldo de Oliveira em retratar aquele momento histórico do País em seu filme. De resto, existe apenas preocupação em divertir e subverter os padrões vigentes. Clara das Neves e a Rainha Má fazem escolhas bem distintas de suas contrapartes dos contos infantis. Sem contar o Príncipe, que acaba não saindo de mãos vazias de sua aventura na floresta. Reparem que grande parte do elenco não utiliza sua voz, mas de dubladores profissionais. Os saudosos Marcelo Gastaldi e Helena Samara – as vozes de Chaves e Bruxa do 71, respectivamente – emprestaram seus talentos vocais para o Príncipe e para a Rainha. Além deles, diversos outros dubladores participaram desse trabalho.

Para plateias atuais, acostumados a paródias mais extremas, Histórias que Nossas Babás Não Contavam pode não soar tão ousado. No entanto, para a época, brincar com algo tão inocente quanto Branca de Neve não era tão comum. É verdade que algumas piadas envelheceram mal e nem tudo funciona perfeitamente na trama. Mas para um divertimento despretensioso, para curtir nossos talentos nacionais de outrora, o longa-metragem é um belo programa.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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