Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava
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Fernanda Pessoa
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Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava
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2017
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Trata de temas como a luta armada, a violência do Estado, o milagre econômico, a “era de aquarius” e a modernização do país são abordados de forma divertida e inusitada, através de uma edição criativa e associação inesperada de imagens. A obra ainda relembra e analisa um período histórico brasileiro através da sua produção cinematográfica hegemônica, provocando uma reflexão não somente a respeito dele, mas também sobre o próprio cinema enquanto construtor da história e da memória coletiva.
Crítica
Em seu primeiro longa-metragem, a cineasta Fernanda Pessoa faz um resgate histórico e cinematográfico impressionante. Utilizando-se apenas de cenas e sons de filmes da chamada Pornochanchada, gênero hegemônico nas telonas brasileiras nas décadas de 1970 e 1980, a diretora reconstrói um momento da história do Brasil – a Ditadura Militar (1964-1985) – através do olhar dos cineastas e roteiristas daquela época. No processo, Pessoa joga luz em um movimento cinematográfico que até hoje é visto com preconceito, dando (ou restituindo) a ele a importância que merece. Isso é Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava.
Com montagem precisa de Luiz Cruz, o longa-metragem de Fernanda Pessoa traz trechos de 30 filmes do período, entre eles A Super Fêmea (1973), Árvore dos Sexos (1977), Cada um Dá o que Tem (1975), Corpo Devasso (1980), Elas são do Baralho (1977), Eu Transo, Ela Transa (1972), O Inseto do Amor (1980), O Enterro da Cafetina (1971), Nos Embalos de Ipanema (1978), Terror e Êxtase (1979) e, claro, Histórias que Nossas Babá não Contavam (1979), de onde o documentário tira inspiração para seu título. A pesquisa realizada pela diretora contou com mais de cem títulos, com os trinta escolhidos servindo melhor para retratar aquele período da história do Brasil.
A Pornochanchada foi vista através dos anos como um gênero alienante, com a comédia e o sexo inseridos em doses generosas como um anestesiante para o grande público. Enquanto o governo ditatorial fazia o que bem entedia, baixando atos institucionais, perseguindo, torturando e, basicamente, cerceando a liberdade dos cidadãos, o cinema nacional estaria virando a cara para essa realidade. Se isso é verdade para alguns títulos menos engajados – por vezes por medo da censura, outras por desinteresse político apenas – o mesmo não pode ser dito do movimento como um todo. E é isso que prova Fernanda Pessoa com Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava. Aqui e ali, os cineastas e roteiristas incluíam comentários a respeito do momento brasileiro. Por vezes, é verdade, tentavam vender a ideia reinante do “milagre econômico”, com personagens empresários, corretores da bolsa, investidores. Em outros, críticas (nem tão) veladas sobre torturas, censura e o braço pesado da ditadura davam as caras. O viés cômico ajudava a transmitir a mensagem e passar incólume pelos aparelhos de repressão do governo.
O recorte destas cenas, que ainda trazem a violência contra a mulher e o preconceito com homossexuais, por si só, já valeria uma espiada de perto. Mas a forma como estas cenas são trabalhadas dentro do documentário, com personagens de filmes distintos praticamente conversando entre si, e o modo como as temáticas são divididas, acabam por ser os principais predicados do longa-metragem de Fernanda Pessoa. Com 80 minutos de duração muito bem utilizados, Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava é um trabalho interessante, um resgate necessário sobre a produção cinematográfica realizada no Brasil e, talvez, mais uma peça importante no processo de desdemonização da Pornochanchada junto ao público e parte da crítica. Curiosamente, em dois pontos específicos do longa, cenas de um longa-metragem não identificado ficaram de fora pela não liberação dos direitos. Como justificativa para o impedimento, o fato de os responsáveis não considerarem sua produção pertencente ao gênero. Se mesmo no seio da produção cinematográfica ainda exista preconceito com o rótulo, prova-se a relevância deste documentário para saudáveis mudanças de modelo mental.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 8 |
Robledo Milani | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Wallace Andrioli | 8 |
Marcelo Müller | 7 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
MÉDIA | 7.8 |
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