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Crítica
A animação brasileira vive um momento especialmente bom. O novo indício de tal realidade é o lançamento de Historietas Assombradas: O Filme, longa-metragem baseado na série homônima e bem-sucedida que chegou a ser um dos programas infantis mais assistidos da televisão fechada. A versão cinematográfica começa com a caçada de vilões sombrios a um bebê especial, então deixado pelos pais numa porta desconhecida. Doze anos depois, vemos Pepe (voz de Charles Emmanuel) como um menino levado, criado pela vó (voz de Nádia Carvalho) num mundo absolutamente terrífico, repleto de bruxarias e seres (para nós) extraordinários. O humor é pueril, ideal ao público-alvo – crianças entre 8 e 12 anos –, mas isso, aqui, não é utilizado como justificativa para apelos demasiados à esfera do ordinário. A condução da história, muito mais cômica que necessariamente horripilante, obedece a uma lógica bem estabelecida e sólida, em que os subtextos acabam sendo menos importantes, embora se façam presentes.
No quesito técnico, Historietas Assombradas: O Filme é algo a ser celebrado, pois mantém uma excelência visual constante. Chama a atenção, em semelhante medida, a criatividade da concepção dos personagens e cenários, bastante alimentada por elementos clássicos do gênero, como, por exemplo, a porta da casa do protagonista em formato de caixão funerário. Pepe enfrenta um dilema importante enquanto passa a ser acossado por Edmundo (voz de Hélio Ribeiro), remanescente da ordem dos malfeitores que, em busca de imortalidade, resolveram trocar peças do corpo por similares mecânicas. O garoto descobre ser adotado, partindo, em seguida, numa jornada para encontrar seus verdadeiros pais. O diretor Victor-Hugo Borges, dono da ideia original, mantém algumas linhas narrativas andando em paralelo, sem ater-se tanto a alguma delas, privilegiando os efeitos cômicos imediatos, contidos em boas sequências, como a da perseguição à casa-carro dirigida pelo cachorro de estimação.
Historietas Assombradas: O Filme se debruça sobre uma questão de paternidade, haja vista, também, a situação de Marilu (Iara Riça), filha de pais críticos. É curioso o chiste com as cotações em estrelinhas a ela atribuídas, por conta da apresentação teatral e dos mais banais afazeres domésticos. Ainda que infantil em sua essência, o filme possui brincadeiras possivelmente mais bem compreendidas pelos adultos. Temos, inclusive, eventuais metalinguagens, vide a personagem mencionando o erro de olhar para a câmera e quebrar a quarta parede, justamente ao fazê-lo, que tornam o molho mais saboroso. Os coadjuvantes são cativantes, a começar pela vó capaz de se transformar numa máquina de atirar poções mágicas ao perceber o neto adotivo em perigo iminente. Não há peso na jornada de Pepe, tudo é muito leve, com a prevalência do caráter aventuresco num mundo onde o dantesco é banal. Há um quê de Tim Burton nessa mistura macabro-fofa de horror e ingenuidade.
Por vezes, o filme fica estagnado, apostando somente na repetição das piadas e no carisma dos personagens. Todavia, nada que estrague o prazer descompromissado de acompanhar as peripécias de Pepe e companhia na luta contra cérebros-gramofones e toda sorte de criaturas maléficas (pero no mucho). A “moral da história” está meio que desenhada desde o início, dizendo respeito à relação do protagonista com sua vó. Assim, a missão de encontrar os pais possui importância, claro, mas como catalisadora do aprendizado do menino de cabelos espetados e vermelhos. Historietas Assombradas: O Filme reafirma a qualidade da animação brasileira, proporcionando bons instantes de humor em meio ao perigo deflagrado logo de cara, na primeira sequência. Brincar com as instâncias do medo, se valendo da periculosidade de monstros e demais ameaças, é uma tarefa a qual o diretor Victor-Hugo Borges se propõe abertamente. E ele logra êxito, geralmente, realizando uma animação divertida, que entretém com personalidade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Filipe Pereira | 6 |
Matheus Bonez | 7 |
Robledo Milani | 6 |
MÉDIA | 6.5 |
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