Crítica
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Sinopse
Com a indenização recebida do governo brasileiro pelo desparecimento do marido, vítima da repressão desencadeada pela ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), uma mulher pode finalmente comprar seu apartamento e libertar-se do estado de suspensão. No entanto, um retorno inesperado muda essa perspectiva.
Crítica
Grande vencedor do 44° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o drama Hoje, de Tata Amaral, definitivamente não é para todos os públicos. E não por ser um filme de difícil compreensão ou de grandes experimentações. Muito pelo contrário, pois trata-se de um trabalho bastante simples, que se sustenta nos preceitos mais básicos de qualquer obra dramática: bons intérpretes e um texto vigoroso, com diálogos excelentes que realmente nos levam a algum lugar, fazendo com o que o espectador saia da sessão melhor e mais enriquecido do que quando entrou. Sua dificuldade está, portanto, justamente nesta aparente simplicidade. Sem o virtuosismo e as traquinagens de edição atualmente tão em voga, torna-se complicado abster-se de tudo, deixar o mundo real do lado de fora, e definitivamente penetrar no universo aqui proposto. Mas aqueles que assim fizerem não somente serão recompensados com um longa surpreendente, como também ganharão uma aula de história e humanismo.
Vera (Denise Fraga, melhor atriz em Brasília) está feliz. Hoje é o dia da sua mudança para o seu primeiro apartamento próprio. Não se trata de um imóvel novo, mas é um espaço amplo, que com algumas reformas poderá se tornar muito confortável. Os ajudantes da mudança estão subindo, trazendo os móveis e arrumando cada coisa em seu lugar. Há de se avisar os amigos e conhecer os vizinhos. Muita coisa a ser feita, ajustada, organizada. Coisas físicas, materiais, lógicas. Mas nada que a preparasse para o que estava por vir.
Nesse entra e sai, ela se depara com Luis (César Troncoso, de O Banheiro do Papa). Ou seria Carlos? Afinal, aquele homem há muito havia ficado no seu passado. Quem é ele de verdade e o que faz ali, logo neste dia? Qual sua relação com esse apartamento? O que quer com ela, ou melhor, dela? Vera precisa escondê-los dos rapazes, da síndica xereteira, até do telefone que toca. Ninguém pode vê-lo. Mas por quê? E o que ainda há a ser dito entre os dois? Tudo o que havia entre eles não fora acertado há muito tempo? Mas ela só está ali e tem o que hoje apresenta por causa dele. Pela ausência dele. Pelos dois terem existido e hoje não mais. Ou será o contrário?
Hoje é uma grande peça de teatro, e só não se torna cansativa e repetitiva porque transcende o discurso das palavras soltas, envolvendo o espectador com tamanha força que é quase impossível pregar os olhos. Depois de filmes igualmente intensos como Um Céu de Estrelas (1996) e Através da Janela (2000), que partiam de universos similares compostos por um homem e uma mulher cerrados num mesmo cenário, a diretora Tata Amaral abandona a luminosidade do musical Antônia (2006) e retoma esses elementos do início de sua carreira, entregando seu filmes mais autoral e poderoso. Uma aula de cinema que justifica todo e qualquer aplauso. Seja em um festival ou em qualquer outra sala de cinema que tiver o prazer e a honra de exibi-lo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 9 |
Chico Fireman | 5 |
Diego Benevides | 5 |
MÉDIA | 6.3 |
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