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Sinopse

Em De Volta ao Lar, o jovem Peter Parker (Tom Holland) começa a se aventurar com sua nova identidade secreta como o super-herói atirador de teias Homem-Aranha. Com apoio emocional da Tia May, auxílio de seus amigos e conselhos de Tony Stark, ele irá enfrentar uma temível ameaça: o Abutre.

Crítica

Não vemos a aranha picando Peter Parker, evento que ocasionou o nascimento de um dos super-heróis mais famosos dos quadrinhos. Todavia, Homem-Aranha: De Volta ao Lar é, à sua maneira, um filme de origem. O aperitivo foi oferecido em Capitão América: Guerra Civil (2016). Agora, a nova pegada se consolida no primeiro longa-metragem solo de Tom Holland como o amigão da vizinhança. E coube ao cineasta Jon Watts reinventar o aracnídeo na telona. Ele o faz com personalidade, embora evidentemente alinhado ao itinerário produtivo da Marvel, que tem nesse personagem a sua mais recente e valiosa aquisição, sobretudo no que concerne ao time dos Vingadores. O início já mostra a vontade de ressaltar o lado adolescente/imaturo de Peter. O ainda deslumbrado garoto, representante da geração selfie, recrutado por Tony Stark (Robert Downey Jr.), grava tudo com entusiasmo, incluindo excertos da batalha do aeroporto, vista na produção capitaneada por Joe e Anthony Russo.

O menino superpoderoso é protegido de Stark, mas logo se decepciona por não ser designado às missões mais complicadas, no mais das vezes tendo de aguardar os chamados de Happy (Joh Favreau), assistente do Homem de Ferro que nunca liga e tampouco retorna suas mensagens. O realizador estabelece essa dinâmica ressaltando a ansiedade juvenil do protagonista, promovendo instantes verdadeiramente engraçados e que, também, permitem a imediata identificação com o sobrinho da Tia May (Marisa Tomei). Aliás, até o burburinho em torno da beleza de Tomei vira motivo de boas sacadas. Homem-Aranha: De Volta ao Lar desenvolve habilmente a simbiose entre Peter e seu alterego extraordinário, alternando a densidade do jovem caído de amores pela colega de escola, Liz (Laura Harrier), e a construção gradual do heroísmo, tornando orgânica a mensagem subentendida de que “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, máxima que acompanha o personagem.

O ambiente high school ganha atenção especial de Jon Watts, que não esconde, pelo contrário, escancara as alusões ao cinema de John Hughes, mais especificamente a Clube dos Cinco (1985) e Curtindo a Vida Adoidado (1986). A homenagem não se limita às menções óbvias e/ou diretas, pois impregnada na dinâmica escolar, no cotidiano repleto de provas, testes, falhas e eventuais desilusões. Homem-Aranha: De Volta ao Lar possui personagens secundários muito bem aproveitados, como Ned (Jacob Batalon), melhor amigo do protagonista, sidekick que ajuda a delinear a sua dimensão meramente humana, porém fundamental. Michael Keaton é um vilão à altura da responsabilidade, pois concebe o Abutre como alguém marcante, perigo vindo dos ares, devidamente paramentado para a guerra, mas igualmente ameaçador quando à paisana. Aliás, essa é uma das mensagens melhor exploradas pelo filme, a de que fazer o bem ou o mal independe da vestimenta ou dos títulos, sendo cruciais o ímpeto e a índole.

Homem-Aranha: De Volta ao Lar mescla bem aventura, comédia e drama. A interação de Parker com Stark é sintomática dessa nova fase do Homem-Aranha, então sob a tutela da Marvel. Considerado um dos Vingadores mais inconsequentes, o sujeito dentro da armadura do Homem de Ferro se comporta como pai do garoto, aconselhando-o e, eventualmente, dando-lhe broncas. Aqui as relações não são preteridas em função da pirotecnia, de explosões sem fim e acontecimentos apoteóticos, embora estes se façam presentes. O atual Peter Parker traz bem-vinda renovação a uma franquia que já teve acertos, especialmente Homem-Aranha 2 (2004), e erros de intensidade similar, como O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014), apesar das boas ideias deste. O aracnídeo de Tom Holland é, antes de super-herói cativante, uma pessoa às voltas com questionamentos de diversas ordens e, por isso mesmo, de carne e osso. Os gadgets do descolado traje hightech não sobrepujam a sua essência.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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