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Crítica


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Sinopse

Peter Parker decide se unir aos seus melhores amigos para passar férias na Europa. Mas o plano de abandonar seus feitos heroicos por algumas semanas são mudados quando concorda em ajudar Nick Fury a solucionar os misteriosos ataques de criaturas elementais, que estão gerando uma destruição pelo continente.

Crítica

Quando os Vingadores eram liderados pela dupla formada por Capitão América (Chris Evans) e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), o Homem-Aranha (Tom Holland) podia ser uma espécie de super-herói de apoio, não diretamente encarregado de estratégias de batalha ou de algo que as valha. Pois bem, a partir de Homem-Aranha: Longe de Casa, sobretudo tendo em vista que o filme sequencia os acontecimentos de Vingadores: Ultimato (2019), o aracnídeo não tem mais como desfrutar dessa coadjuvância, de certa forma, confortável. O processo de crescimento de Peter, portanto, além de tudo que concerne à adolescência e à iminência da vida adulta, ainda lhe imputa a necessidade de assumir um volume maior de incumbências. E boa parte do filme dirigido por Jon Watts fala desse dilema, do lugar que o menino precisa ocupar em virtude das mudanças ocasionadas pela intrusão de Thanos (Josh Brolin), mas ao qual não se sente totalmente preparado. A primeira metade da trama é focada numa compreensível negação, na clara prorrogação do obviamente inadiável.

Carente de referências, Peter (o Parker, não o Pan, embora ambos se recusem a "crescer') tem de entender que agora é um ponto de apoio, inclusive na dinâmica dos Vingadores. Suas interações com Nick Fury (Samuel L. Jackson), a forma como espelha sua fragilidade no recém-surgido Mysterio (Jake Gyllenhaal), tudo isso aponta à dificuldade que o super-herói tem para compreender o novo lugar a ocupar no mundo, como quase adulto e peça fundamental na iniciativa que visa manter a Terra livre de ameaças nefastas. O plano de se declarar para MJ (Zendaya) no meio de uma viagem escolar de natureza científica esbarra tanto na sua imaturidade quanto no surgimento de uma ameaça global, os Elementares. As criaturas são feitas dos quatro elementos fundamentais e têm forças aparentemente além das capacidades do jovem que, então, recebe ajuda do aliado de outra dimensão. Embora a questão do amadurecimento perpasse a narrativa como um todo, conferindo a ela uma disposição central, adiante as dissimulações e as falsas verdades tomam o protagonismo do filme.

Não é difícil perceber que em Homem-Aranha: Longe de Casa as aparências enganam, ou seja, que há coisas nocivas sob a cortina de fumaça lançada para criar uma figura mundialmente conhecida que, talvez, possa preencher determinadas lacunas. Peter se desfaz de uma herança valiosa como talvez nenhuma outra – dentro desse contexto bélico e de salvaguarda da humanidade –, e encara os efeitos colaterais das responsabilidades precocemente a ele atreladas com o advento da modificação genética que o tornou extraordinário. As sequências de luta são muito bem filmadas, existe um bom equilíbrio entre a comicidade superficial e a solenidade que reside logo abaixo da camada mais visível dos relacionamentos, mas há desperdícios que tratam de drenar determinados potenciais. Um deles é a discussão alusiva à Era da pós-verdade, mencionada por um personagem, mas insuficientemente trabalhada como substrato, ainda que os disfarces prevaleçam

Homem-Aranha: Longe de Casa deixa a desejar por utilizar timidamente as observações sobre uma tendente crença em coisas absurdas, algo chancelado por uma mídia promíscua. No entanto, o filme é bastante eficiente no sentido de reconfigurar Peter Parker dentro do universo dos Vingadores, principalmente ao mostrar uma importante revolução do seu papel no time dos super-heróis. As interações com Happy (Jon Favreau) constroem um novo elo, substitutivo do equivalente paterno, de certo modo, e, concomitantemente, garantem a consolidação do amigão da vizinhança como o herdeiro legítimo de um legado inestimável. Jake Gyllenhaal, o novato em cena, desempenha muito bem a ambiguidade de seu papel. Um ponto bem frágil é a explanação convencional do antagonista quando revelado o seu plano repleto de detalhes. Mesmo disfarçado, o discurso meramente expositivo está ali para dirimir qualquer dúvida quanto aos estratagemas intricados. Um senão significativo num conjunto competente, divertido, às vezes empolgante e pontualmente emocionante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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