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Sinopse

Scott Lang é um vigarista especializado em invadir locais e roubar objetos, e agora precisa assumir seu lado heróico e ajudar o bioquímico Hank Pym a proteger os segredos por trás do espetacular traje do Homem-Formiga. O Dr. Pym, que já foi membro da equipe Os Vingadores, descobriu um grupo de partículas sub-atômicas capazes de alterar o tamanho dos corpos, e esse super-poder será o trunfo de Lang para enfrentar perigosos vilões.

Crítica

Um super-herói é tão importante – e, principalmente, relevante – quanto o seu vilão. É por isso que Batman (Coringa), Superman (Lex Luthor) e Homem-Aranha (Duende Verde) são tão populares e volta e meia estão nas telas, ao passo que o Lanterna Verde e o Hulk, por exemplo, ainda relutam para encontrar suas versões cinematográficas definitivas. A mais recente aposta da Marvel Studios atende por Homem-Formiga, um personagem que é bastante caro aos fãs, mas praticamente desconhecido pelo público em geral. E ainda que este primeiro filme (o longa termina com a promessa “O Homem-Formiga voltará...”) tenha seus altos e baixos e no geral se saia melhor do que o esperado, tem seu calcanhar de Aquiles justamente no arqui-inimigo, um tipo estereotipado e raso, com motivações simplistas e sem maiores repercussões. E sem configurar de fato em uma ameaça, os próprios atos heroicos do protagonista acabam soando exagerados.

O projeto do filme Homem-Formiga estava em desenvolvimento em Hollywood há cerca de 15 anos, e durante muito tempo chegou-se a acreditar que o mesmo nunca seria realizado. Trocas de roteiristas foram constantes, e há cerca de dois anos o principal diretor ligado à produção, Edgar Wright, abandonou o trabalho alegando “divergências criativas”. O convocado de última hora foi Peyton Reed, que apesar de não ter histórico no gênero – dirigiu comédias como Sim, Senhor (2008) – é amigo pessoal do homem-forte da Marvel no cinema, Kevin Feige. E com um cineasta com esse tipo de experiência e um protagonista como Paul Rudd (conhecido mais por seus dotes cômicos do que pela habilidade em cenas de ação), temeu-se pelo pior. A boa notícia, no entanto, é que estas expectativas não se confirmam. O problema, no entanto, é a própria Marvel.

Explica-se melhor. Desde que decidiu investir pesado nas adaptações para o cinema de seu universo das histórias em quadrinhos, a editora tem realizado longas cada vez melhores e mais empolgantes. Em resumo, o nível de qualidade tem aumentado gradualmente, assim como a exigência daqueles que os acompanham com grande ansiedade a cada novo capítulo. O personagem Homem-Formiga, ainda que tenha surgido nos gibis no início dos anos 1960 – mesma época do Homem-Aranha, por exemplo – nunca foi dos mais atraentes, justamente por seus poderes (dotado de um uniforme especial, é capaz de encolher a tamanhos microscópicos), que o levam a cenários distintos dos demais colegas. Apesar disso, foi um dos fundadores dos Vingadores, e sua importância no contexto geral é inegável. Os responsáveis pelo filme, cientes destes dois lados opostos, seguiram pelo meio termo: criaram uma aventura repleta de efeitos especiais e completamente inserida dentro do universo cinematográfico que vem sendo desenhado desde Homem de Ferro (2006), porém adotando um tom mais leve para sua trama, com momentos cômicos que lembram o recente Guardiões da Galáxia (2014).

Quando primeiro surgiu nas páginas dos quadrinhos, o Homem-Formiga atendia por Hank Pym, um cientista. Anos depois, este acaba abrindo mão de sua identidade secreta em nome de um novo voluntário, o ex-ladrão Scott Lang. Pois são estes dois que estão em cena agora na tela grande. Pym (Michael Douglas, muito à vontade na condição de tutor) é um gênio quase aposentado, que ainda guarda uma carta na manga. Esta é o próprio Lang (Rudd, com o carisma de sempre servindo a seu favor), um bandido de bom coração (estilo Robin Hood, que rouba dos ricos para dar aos pobres) que, após sair da prisão, tudo que espera é reconquistar a confiança da filha pequena e da ex-mulher. Para tanto, aceita um último golpe. E é justamente este plano que o coloca em contato com Pym e a filha deste, Hope (Evangeline Lilly, mostrando que o treino para viver a elfa da trilogia O Hobbit continua lhe servindo). Os dois lhe dão o treinamento necessário, e assim nasce o novo Homem-Formiga.

Mas por que eles fazem isso? Qual o propósito por trás da iniciativa de colocar um outro Homem-Formiga na ativa? Aí começam os deslizes da história. Sim, pois o argumento aqui é praticamente o mesmo do já citado Homem de Ferro (2006): o atual presidente da companhia de Pym, o ganancioso Darren Cross (Corey Stoll, geralmente um bom ator, mas aqui com pouco a seu favor), está prestes a reduplicar a invenção do antigo mestre, e pretende usá-la para os piores fins possíveis: vendendo-a a um preço exorbitante para a mesma Hidra, a organização criminosa que já deu muito trabalho em Capitão América: O Primeiro Vingador (2012), por exemplo. Como, ao que parece, o único que pode impedir que esse perigo se concretize é o Homem-Formiga, Cross assumirá ele mesmo o novo uniforme, atendendo pelo nome de Jaqueta Amarela, um vilão com ainda mais poderes que o herói e que está disposto a eliminar qualquer um que se coloque em seu caminho.

Repleto de bons momentos – a luta com o Falcão (Anthony Mackie) ao invadir a sede dos Vingadores e os relatos do amigo interpretado por Michael Peña são pontos altos da narrativa – este Homem-Formiga peca apenas pro não refletir o mesmo sentido de urgência que títulos como Vingadores: Era de Ultron (2015) e Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) criaram nos episódios mais recentes. O humor, que por vezes soa deslocado, poderia ter sido amenizado em prol de mais momentos com as proezas do herói – em certas passagens chegamos ao ponto de nos perguntar qual sua verdadeira serventia, já que as formigas controladas telepaticamente acabam fazendo quase tudo – e outros dedicados a elaborar melhor a tensão entre os envolvidos. Mas entre mortos e feridos, tudo acaba da melhor maneira – a participação de Stan Lee, quase ao final, é ótima – e o que temos aqui é um passatempo divertido, um filme de origem que, como tantos outros similares, perde muito tempo em explicações, mas que ainda assim deve entreter os curiosos enquanto os melhores se preparam para novas aventuras. Afinal, há muito ainda o que explorar nos próximos capítulos.

PS: há duas cenas bem legais após o término do filme, uma durante os créditos (revelando o surgimento de uma nova heroína) e uma após o encerramento (com a participação de um Vingador original e de um maiores vilões do Universo Marvel)! Ou seja, vale à pena esperar até o acender das luzes.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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