Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania
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Peyton Reed
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Ant-Man and the Wasp: Quantumania
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2023
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
É a vez de Scott Lang e Hope Van Dyne explorarem o Reino Quântico, conhecer criaturas completamente novas e embarcar numa aventura que pode ter enormes consequências para o universo. Mas lá mora um tirano poderoso.
Crítica
Os super-heróis precisam crescer. Para tanto, a Marvel tem explorado a questão da paternidade quase como um rito de passagem obrigatório aos principais Vingadores. Gavião Arqueiro, Pantera Negra, Homem de Ferro, Thor e até mesmo o gigante esmeralda Hulk tiveram recentemente as suas paternidades apresentadas e/ou exploradas. Alguns dirão (e com certa razão) que atrelar o crescimento do homem ao fato de ele se tornar (ou assumir ser) pai deriva de uma ideia bastante conservadora que reforça estereótipos. Afinal de contas, existem pais imaturos e homens sem filhos caracterizados pela maturidade. Não há fórmulas infalíveis. Mas, os criadores de um dos universos multiplataforma mais lucrativos das últimas décadas parecem não enxergar alternativas à mudança de estatuto (deixar de ser filho e virar pai) para um herói ser encarado como adulto. Essa introdução de faz necessária porque Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é sobre paternidades/maternidades. Uma vez excluída a pirotecnia, os cenários digitais suntuosos, os planos de dominação em escala multiversal, temos a boa e velha história do grupo capaz de sacrifícios e proezas inimagináveis a fim de salvar a família. E no centro disso está Scott (Paul Rudd) finalmente se tornando uma figura presente na criação de sua filha, Cassie (Kathryn Newton). E essa forte conexão entre pais e filhos também é fundamental aos Van Dyne.
Aliás, é bom deixar claro desde agora: a Vespa do título Homem-Formiga e aVespa: Quantumania é muito mais a personagem de Michelle Pfeiffer do que a de Evangeline Lilly. Janet (Pfeiffer) é praticamente co-protagonista. Sua missão é nos conduzir pelos mistérios do Reino Quântico, a realidade subatômica na qual ficou presa por mais de 30 anos. No passado dessa coadjuvante fundamental está outra relação de maternidade, a estabelecida com o sujeito enxergado como o principal vilão desse local – o novo “Thanos” da Marvel. Porém, voltando às Vespas do filme, Hope (Evangeline) não é desimportante, pelo contrário, mas desempenha a mesma função do personagem de Michael Douglas. Ambos são aliados constantes que ganham um momento específico em que se tornar vitais ao sucesso dos planos dos mocinhos. Já Paul Rudd continua muito à vontade na pele do Vingador que menos se leva a sério e, talvez, aquele em que a valentia soe mais próxima de nós. Scott não é a personificação de um ideal apolínio de super-herói, está longe de ser uma encarnação moderna de divindades greco-romanas. Ele é um sujeito cuja excepcionalidade permanece camuflada pela atitude próxima do convencional. Aliás, o elenco é o grande valor do filme que inaugura a alardeada fase cinco do Universo Marvel. E na nova etapa temos não apenas o conceito de Multiverso, mas a riqueza do Reino Quântico.
Visualmente exuberante, o Reino Quântico pode ser definido como uma mistura entre Pandora (o planeta dos Na’vi em Avatar, 2008) e alguns territórios observados nas galáxias muito distantes da Saga Star Wars. O cenário ao qual se desloca o quinteto (ainda não se trata do Quarteto Fantástico) é uma coleção suntuosa de espécimes e formas que denota criatividade. Ainda que o filme tenha um excesso de camadas digitais (há poucas texturas orgânicas em cena), o artificialismo não chega a incomodar ou comprometer. Scott, Janet, Hank, Hope e Cassie tentam se encontrar na realidade subatômica e se deparam com criaturas variadas e histórias sobre um conquistador de nome Kang (Jonathan Majors, ator que abraça com garra a oportunidade de ser o principal antagonista da nova equipe dos Vingadores). O cineasta Peyton Reed equilibra bem humor, drama e aventura, não sendo necessariamente original em nenhuma das áreas, mas cozinhando um feijão com arroz saboroso. Uma das marcas da sua condução é o espaço para o protagonista deixar fragilidades à mostra: o ridículo de seu ego frágil, o resultado de suas tentativas de recuperar o tempo perdido como pai, as pisadas na bola. E, mesmo assim, Scott é um personagem cativante, pois não se deixa aprisionar por seus erros, mas tampouco os esconde em prol de uma imagem inexistente. Tudo no filme é bem encaixadinho e funcional.
Tá, as piadas em torno do bizarro MODOK (Corey Stoll) são um pouco cansativas? São. A ação nunca chega a ser empolgante como em outros exemplares Marvel? Sim, é verdade. Mas, qual exemplar de super-heróis pode se dar ao luxo de ter um elenco tão afiado, capaz de dignificar até falas que, se ditas por intérpretes menos qualificados, poderiam soar um tanto ridículas? Além disso, o filme possui um subtexto que antagoniza fascistas centralizadores e socialistas comunitários. Cassie demonstra desde o início uma consciência social atrelada aos problemas cotidianos – enquanto ela se preocupa com os sem-teto, Scott está muito apegado à narrativa extraordinária do salvamento do mundo. Pois bem. Diante do antagonista com intenções genocidas, filmado em determinado momento como se fosse Hitler organizando as tropas nazistas (definitivamente, essa tomada é semelhante aos registros de grandes ditadores da História), quem convoca à rebelião é justamente a menina preocupada com o mundo em seus mínimos detalhes. E um grupo bastante peculiar de animais, caracterizado pelo comportamento coletivo comunista, é vital para a preservação de várias realidades. Sim, a força coletiva de um povo revolucionário se ergue contra um tirano carismático. Embora careça de ênfase e seja soterrada pela ação, a mensagem está lá. Claro, nada que não tenhamos visto na Saga Star Wars, com a qual Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania guarda outras semelhanças – vide um figurino à lá Povo da Areia e o happy hour no bar cheio de criaturas estranhas confraternizando.
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