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Sinopse

Em um momento em que os homens estão sendo observados pela sociedade, esses jogadores estão interessados no jogo, e em tudo que isso envolve. A seriedade, a felicidade e a beleza de praticar um esporte com paixão.

Crítica

Homens que jogam. Homens que lutam. Homens que gritam, se exaltam, se envolvem. Homens que se tocam, se esfregam, se agridem, se abraçam. Tudo em nome de uma masculinidade ao qual se agarram desesperadamente, como se a mesma estivesse em vias de extinção. O que, obviamente, não irá acontecer. Mas, frágil do jeito que é, precisa ser comprovada, exibida, promovida a todo momento e instante. O cineasta iugoslavo Matjaz Ivanisin sabe disso. Por isso, procura não interferir – na medida do possível, ao menos. Mas reconhece a importância deste espaço. Seu olhar não é intrusivo, está mais interessado no registro do que na averiguação. E, justamente por isso, este Homens que Jogam revela sem meias-palavras – ou imagens – a sua força. Está tudo na tela. Basta querer ver.

Homens se agarram em campo aberto, em uma luta corporal que, aos olhos de quem está de fora, parece ser de difícil compreensão. Rosto com rosto, eles se enfrentam como touros em combate, um tentando superar o outro – no que? Só aqueles diretamente envolvidos sabem. Imagina-se que seja um jogo de resistência, de força e agilidade, porém as mãos não se controlam, e avançam sobre os corpos, adentram pelas roupas e avançam em uma intimidade que não parece oferecer resistência. São machos, estão expostos, a céu aberto, e as pessoas ao redor aplaudem os mais valentes e hábeis, ao mesmo tempo em que admiram os que se dispuseram ao enfrentamento. Em qualquer outra situação, em qualquer outro lugar, aquele seria um ritual de humilhação e constrangimento. Não ali, em que a hombridade é resguardada justamente pelo esforço, e não apenas pelas conquistas.

Uma prática secular, do queijo que rola ladeira abaixo, se tornou tão famosa a ponto de referendar a cidade onde tal atividade acontece. Uma partida de dedos, em que a matemática e a rapidez contam tantos pontos quanto o grito e a entrega. “Este não é um jogo para fracos, um homem já morreu do coração no meio de uma disputa”, afirma um, como não comentasse nada além do normal. É assim que tem que ser, é preciso adentrar naquele universo de corpo e alma. Ninguém faz nada ali pela metade. Mas o que os homens que participam destes jogos pensam a respeito. Talvez a sintonia entre eles seja tão forte que explicações não sejam necessárias. O que importa é o momento. A razão sobrepuja esclarecimentos lógicos. Apenas fazem. E isso os basta.

Mas o homem é fraco, e quanto mais é exigido, mais propenso a quebrar ele se revela. A crise vem, cedo ou tarde, ainda que sempre no momento apropriado. A crise toma conta e vem com força, sem pedir licença, ocupando espaço e impedindo passagem. A ponto que o próprio filme é interrompido. A metalinguagem, aqui, surge também como recurso de reflexão. E a partir dessa parada, também se tem a oportunidade de verificar outro ponto de vista: aquele da admiração e e embevecimento. O exemplo é uma partida de tênis, disputa acirrada que possui apenas dois protagonistas, mas reúne dezenas, centenas, milhares de torcedores ao seu redor. Eles não participam da ação, mas estão tão envolvidos quanto. São homens no centro e ao redor, unidos por uma só emoção, tornando-os mais do que apenas uma parcela em movimento, mas um conjunto que respira, transpira e sonha em uníssono.

Essa quebra, no entanto, que atende a um propósito, também afasta o espectador de uma série contínua que vinha apostando no exótico e no humor, mesmo que esse seja, por vezes, involuntário. Homens que Jogam, talvez até mesmo pela sua curta duração – são apenas 60 minutos – deixa passa a oportunidade de se aprofundar mais em alguns aspectos a respeito dos contextos apontados, como o evidente homoerotismo que as imagens ilustradas provocam ou mesmo o transe ao qual se entregam estes jogadores, inclusive tornando-se até mesmo irreconhecíveis a si mesmos quando em descanso. O que os levam a tais feitos, o que os motiva e quais as razões dissolutas com as quais lidam e se entregam. Este não é um filme de respostas, no entanto. E ao apontar para vários caminhos, as possibilidades se revelam múltiplas. Assim como seu conjunto, que atrai pela curiosidade, ao mesmo tempo em que dispersa por uma evidente falta maior de coesão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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