Crítica
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Sinopse
Macabéa é uma imigrante nordestina que vive em São Paulo. Ela trabalha como datilógrafa em uma pequena firma e vive em uma pensão miserável, onde divide o quarto com outras três mulheres. Macabéa não tem ambições, apesar de sentir desejo e querer ter um namorado. Um dia ela conhece Olímpico, um operário metalúrgico com quem inicia namoro. Só que Glória, colega de trabalho de Macabéa, tem outros planos após se consultar com uma cartomante.
Crítica
Uma de tantas obras-primas da escritora Clarice Lispector, A Hora da Estrela foi o último livro lançado pela autora em vida, em 1977. Quarenta anos depois, a história da retirante Macabéa, nordestina de 19 anos que tenta construir sua vida em São Paulo, continua tão pungente como sempre. Apenas oito anos depois do lançamento desta novela, a diretora Suzana Amaral resolveu levá-la para o cinema, marcando sua estreia como cineasta na tela grande. O que é visto nesta versão cinematográfica não é apenas um filme sublime, mas uma adaptação maiúscula de um livro excepcional, que se consagrou ao ser premiada em festivais importantes como o de Berlim e o de Brasília.
Na trama, acompanhamos Macabéa (Marcélia Cartaxo) em sua jornada diária. Ela trabalha como datilógrafa em um pequeno escritório, onde realiza suas tarefas de forma precária. Sua colega, Glória (Tamara Taxman), é praticamente sua antítese – bonita, malandra, segura de si. Difícil Macabéa ser diferente. Em um mundo onde a aparência é importante, sua falta de beleza e postura a colocam sempre para baixo. Quando conhece o também retirante Olímpico (José Dumont), parece que seu destino mudará. Sentia falta de uma companhia, de um namorado. Mas Olímpico é uma presença tóxica, tratando-a como um capacho a cada oportunidade. Sempre com seu radinho ao lado, ouvindo curiosidades e a hora certa, Macabéa está presa a um círculo vicioso. Madame Carlota (Fernanda Montenegro), uma cartomante que não mente jamais – como ela mesma diz, tem a resposta para os problemas de Glória e de Macabéa. Ou não.
Nada mais difícil do que adaptar uma obra tão singular quanto A Hora da Estrela para o cinema. A transposição precisou abandonar a figura do narrador, Rodrigo S.M., de grande importância para o livro, algo que, para quem apenas conhece a versão cinematográfica, não gera prejuízos. Para que o filme funcionasse, era necessário escolher uma atriz que pudesse transmitir a ingenuidade da protagonista, uma pessoa com tão pouco senso de propósito que costuma gerar pena em seus interlocutores. Marcélia Cartaxo, em sua estreia no cinema, vive Macabéa com a mais do que necessária fragilidade. A atriz capricha na falta de segurança da personagem, como se cada frase que proferisse em uma conversa necessitasse um pedido de desculpas posterior.
De olhar baixo, Macabéa se posiciona como alguém inferior – uma condição que, ao mesmo tempo, é empurrada a ela pela sociedade e a si mesmo imposta por sua personalidade. Ela se compara a uma coisa qualquer. Olímpico a vê como um cabelo em sua sopa. Por falar nele, José Dumont faz bem seu trabalho em ser detestável. Impossível não sentir asco pelo sujeito, ainda mais quando entendemos que ele coloca a companheira para baixo apenas para se sentir superior. Como se ele fosse, de alguma forma, especial.
Exibido no Festival de Berlim em competição, A Hora da Estrela sagrou-se vencedor na categoria Melhor Atriz, com Cartaxo levando o Urso de Prata, além do filme ter conquistado o prêmio da crítica. Em Brasília, foi o papa-tudo daquela edição, recebendo os Candangos de Melhor Filme, Direção, Atriz, Ator, Fotografia e Edição. Não bastasse isso, em lista divulgada pela Associação Brasileira dos Críticos de Cinema, o longa-metragem foi escolhido um dos 100 melhores da história de nossa cinematografia. Nada surpreendente, dada a maestria com que Suzana Amaral conta esta história comovente e atemporal. O tempo pode ter passado, mas ainda existem muitas Macabéas, Glórias e Olímpicos em nosso Brasil. À procura de uma vida melhor, de algum propósito na vida e de um desfecho melhor do que o visto nesta bela obra.
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arrasou na sua crítica/análise Rodrigo!👏🏼👏🏼👏🏼