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Sinopse

Enquanto está hospedado no Hotel Atlântico, um artista testemunha o IML retirando do local um cadáver. Depois desse evento, ele decide viajar e no caminho encontra personagens que levantam questões escondidas de sua personalidade.

Crítica

Em quase 25 anos de carreira, Hotel Atlântico é recém o terceiro longa-metragem da diretora Suzana Amaral. Porém, é impressionante o quão certeira ela consegue ser em cada um destes trabalhos. Com o primeiro, A Hora da Estrela (1985), baseado no romance de Clarice Lispector, a protagonista Marcelia Cartaxo ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim. Já o segundo, Uma Vida em Segredo (2001), deu à protagonista Sabrina Greve os prêmios de melhor atriz nos festivais de Brasília, Ceará, Huelva e segundo a associação de críticos de São Paulo. Como se pode perceber, estes dois longas eram fortemente calcados na figura feminina. Algo que muda drasticamente em sua terceira incursão cinematográfica.

Este é o terceiro longa-metragem baseado numa obra do escritor gaúcho João Gilberto Noll, após Nunca Fomos Tão Felizes (1984), de Murilo Salles, e Harmada (2003), de Maurice Capovilla. O protagonista é um ator também gaúcho, Júlio Andrade, que aparecera em papéis menores em filmes como Meu Tio Matou um Cara e O Homem que Copiava, ambos de Jorge Furtado, e estrelou Cão Sem Dono, de Beto Brant e Renato Ciasca. Outros nomes fortes que marcam presença no elenco são Gero Camilo, João Miguel e Mariana Ximenes. Todos, porém, em participações pouco mais do que especiais, pois apenas cruzam o caminho do personagem principal, um homem sem rumo nem direção, que embarca numa jornada cujo fim é desconhecido.

O filme é um enigma. Conta a história de um homem aparentemente perdido que decide se hospedar no Hotel Atlântico do título. Ele chega cansado e logo se deita. Em seguida o acompanhamos saindo a esmo pelas ruas, numa viagem por vários estados brasileiros e encontrando os mais diversos tipos, como uma polonesa que perdeu o filho ainda criança, dois jovens que tentam assassiná-lo, um sacristão e sua esposa obesa, um médico candidato a prefeito numa pequena cidade, a filha sedutora dele e um enfermeiro que deseja ver o mar pela primeira vez. A grande pergunta é: tudo isso que está acontecendo é real ou apenas um sonho?

Hotel Atlântico ganhou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante (Gero Camilo) no Festival do Rio 2009. Integrou também a programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A primeira exibição em Porto Alegre, terra do autor do livro, aconteceu discretamente, numa pré-estreia aberta ao público num sábado à noite. Noll estava presente, de chapéu de pescador e procurando não chamar atenção. Ele entrou sozinho, sentou num canto e prestou atenção à toda projeção. No término, era todo sorrisos. Foi então quando começou a ser abordado por outros presentes, que finalmente o reconheceram. E a todos afirmava o quanto estava feliz com o resultado que acabara de ver na tela grande e pelo modo como sua história fora tão bem tratada.

Este mérito é, certamente, de todos os envolvidos, que conseguiram pegar uma trama nada fácil e cheia de significados ocultos e transformá-la em algo interessante e envolvente. Por mais perdido que o espectador esteja, ele quer sempre saber mais. A diretora foi respeitosa, porém não temeu interferir o suficiente para fazer do livro dele um filme seu. O elenco também está excelente, com destaque para Andrade, um ator que a cada nova interpretação só nos entrega boas surpresas. Hotel Atlântico é um belo longa, uma obra madura e que não oferece respostas fáceis. Não é indicado a todos os públicos, mas aqueles que a ela se dedicarem encontrarão um trabalho adulto e questionador, com personagens tão estranhos quanto atraentes e uma estrutura narrativa que envolve e conquista o espectador.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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