Hotel Transilvânia 3: Férias Monstruosas
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Genndy Tartakovsky
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Hotel Transylvania 3: Summer Vacation
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2018
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Drácula e sua turma embarcam em um cruzeiro monstruosamente luxuoso. Mas as férias dos sonhos logo se transformam em um pesadelo quando Mavis percebe que Drac está se apaixonando por Ericka. Ela é a misteriosa capitã do navio, que guarda um perigoso segredo que pode destruir completamente a vida de todos os monstros.
Crítica
O tema da tolerância já era óbvio em Hotel Transilvânia (2012), mas ao menos mantinha o charme da novidade por colocar monstros – historicamente os vilões da história – como protagonistas, precisando se defender dos seus inimigos – os humanos, no caso. Pois se o título funcionou relativamente bem – ainda mais no Brasil e em outros países onde foi possível fugir da dublagem original desempenhada por Adam Sandler e sua turma de sempre (Kevin James e David Spade, entre outros) – a sequência Hotel Transilvânia 2 (2015) aumentou as apostas, investindo na interação entre homens e vampiros, lobisomens e múmias através do casamento de Mavis (Selena Gomez), filha do Drácula, com Johnny (Andy Samberg), um rapaz humano, e o consequente nascimento do filho dos dois, Dennis. Pois bem, com quase US$ 1 bilhão arrecadado nas bilheterias de todo o mundo, seria inevitável a realização de um terceiro título. E Hotel Transilvânia 3: Férias Monstruosas é exatamente isso: muito mais resultado de uma lógica matemática, do que resposta a qualquer tipo de anseio criativo ou minimamente artístico.
Pra começar, o próprio título torna-se anacrônico, uma vez que a trama, em sua quase totalidade, se passa em outro cenário – o tal hotel que dá nome à trilogia é meramente vislumbrado no início da ação, para imediatamente ser deixado para trás. Os humanos, que garantiam grande parte do humor devido aos contrastes inevitáveis, também são praticamente esquecidos, senão por dois meros detalhes: Johnny continua em cena, ainda que sua participação seja mínima, e Ericka (Kathryn Hahn), a capitã do navio que irá levar Drácula, sua família e amigos em um cruzeiro partindo do Triângulo das Bermudas rumo ao continente perdido de Atlântida. Mas o que uma mulher como ela faz no meio de um grupo infindável de bestas e feras dos mais diversos tipos, senão acalentando seu próprio plano de vingança? Ela até pode ter um sorriso simpático – pelo qual Drac cai de amores à primeira vista – mas, na verdade, seus interesses são bem mais escusos.
É nesse ponto em que Hotel Transilvânia 3 toma um rumo equivocado, ainda que mais fácil, mesmo tendo diante de si possibilidades estimulantes. Afinal, o tema do amor que surge na maturidade – ou o ‘tchan’ surgindo mais de uma vez no decorrer de uma vida, como os personagens chamam o que lhes acontece – poderia render mais do que percebemos ser explorado, principalmente pelo seu ineditismo neste gênero em Hollywood. No entanto, entre a insegurança crônica do Drácula – que perde grande parte da sua personalidade controladora – e o ciúmes infantil de Mavis – que parece ter regredido mentalmente, distante da jovem progressiva e liberal dos dois filmes anteriores – quem acaba se destacando, de fato, é a própria Ericka. Ainda mais quando descobrimos ser ela bisneta de ninguém menos do que Van Helsing (Jim Gaffigan), o mais tradicional dos caça-vampiros.
É uma pena, no entanto, que Van Helsing não assuma o antagonismo de Hotel Transilvânia 3. Deixando de lado qualquer sutileza – algo que, de fato, nunca foi o forte nos projetos estrelados por Adam Sandler – o diretor Genndy Tartakovsky (responsável por toda a trilogia, pela primeira vez também respondendo pelo roteiro) prefere por transformar o velho inimigo em uma legítima figura monstruosa, colocando de forma explícita quem nesta dinâmica está errado. E entre um filhote de cachorro gigante, peixes com pés e uma vingança que nunca chega a se justificar, tem-se um filme que parecia prometer muito, mas entrega absolutamente o mesmo – senão menos – do que os anteriores. E quem gosta de ouvir a mesma piada contada mais de uma vez?
Bons exemplos disso são os desperdícios de personagens importantes, como o casal de lobisomens – com os trocentos filhos destruidores – ou o Frankenstein e sua esposa, que terminam por ser reduzidos a presenças visuais ao invés de elementos realmente dignos de atenção. Não há uma única referência à namorada do Homem Invisível – uma gag que havia rendido bastante antes – e o temido Vlad (Mel Brooks), pai do Drácula, deixa de ser uma figura de respeito para se tornar um tipo ridículo e infinitamente secundário. Por fim, a única novidade parece ser mesmo o avião comandado por gremlins – uma passagem interessante, mas que também não ganha maiores repercussões. E quando as próprias férias prometidas no título deixam de ser importantes, reduzindo o discurso ao mesmo e já batido ditado que afirma que “somos todos iguais em nossas diferenças”, percebe-se que mesmo o humor que podia servir como tábua de salvação foi deixado de lado. Enfim, neste naufrágio anunciado, muito pouco se salva. Triste sina para monstros que tanto respeito e admiração já provocaram na história do cinema.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Thomas Boeira | 4 |
Roberto Cunha | 7 |
MÉDIA | 5 |
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