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Crítica


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19 votos 8.6

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Sinopse

Enquanto busca pela filha que desapareceu, o detetive Danny Rourke se vê envolvido em uma conspiração criminosa que desafia a realidade. Contando com a ajuda de uma mulher com poderes psíquicos, o policial passa a seguir os rastros do homem que acredita ter as respostas para encontrar a garota.

Crítica

Danny (Ben Affleck) é um policial atormentado pelo desaparecimento de sua filha. Na sessão de terapia que abre Hypnotic: Ameaça Invisível, ele conta à analista os eventos que marcaram o sumiço da menina, mas na verdade está relatando isso ao espectador. Aliás, o mais novo filme escrito e dirigido por Robert Rodriguez é marcado por algo que o torna pobre: a necessidade de esmiuçar tudinho à plateia. Talvez isso aconteça em virtude da falta de confiança na capacidade das pessoas de juntar determinados pontos e chegar a conclusões por conta própria. Cada passo dado por esse homem da lei é comentado, seja por ele próprio ou até por seus interlocutores. Danny faz um movimento X, logo depois aparece alguém dizendo em que contexto o movimento X se encaixa e porque ele é tão importante dentro de um cenário Y. Uma hesitação que poderia ser percebida como indício de algo não ganha tempo/espaço para permanecer no terreno da dúvida, pois é indevidamente esclarecida para, quiçá, evitar que alguém se perca num labirinto aparentemente sinuoso. É curioso que haja essa vontade cinematograficamente, digamos, patológica de elucidar tudo numa trama que procura tirar o seu melhor justamente de um jogo de gato e rato, em meio ao qual pretensamente utiliza as incertezas como moeda de barganha. É como se um pescador não tivesse paciência ao jogar iscas, assim comprometendo a pescaria.

Ao perseguir uma gangue assaltante de banco, Danny encontra a fotografia de sua filha na cena do crime. E isso acende o alerta nele (e em nós, claro). No entanto, o experiente Robert Rodriguez, que certamente apresentou desempenhos melhores ao comandar outros filmes com mais personalidade, não alimenta o enigma com nuances que poderiam torna-lo um quebra-cabeças delicioso de ser montado. Oscilando entre o suspense e a ação, o cineasta demora pouco para tirar as obscuridades da frente e mergulhar numa lógica extravagante que envolve poderes psíquicos e superdotados chamados de hipnóticos. Tendo em vista o gosto de Rodriguez pelo artifício, às vezes por um tom quase farsesco, Hypnotic: Ameaça Invisível poderia se levar menos a sério e aproveitar as incongruências do enredo real que se revela rapidamente. Os fãs do estilo irônico e visualmente energético do realizador podem estranhar a tentativa de fazer um drama com inclinação à sobriedade, numa história que gradativamente engloba elementos de ficção científica. Sem abraçar as possibilidades, por exemplo, do ridículo e tampouco fazer a trama soar densa o suficiente para reverberar os dramas, o amigo de Quentin Tarantino (com quem às vezes é excessivamente comparado) flerta com a extravagância, mas parece pouco disposto a deixar o burlesco tomar conta da narrativa. No fim de tudo, quer se sério e se estrepa.

Há algo de estranho na concepção dos personagens de Hypnotic: Ameaça Invisível – como vemos à frente, isso ao menos é bom. Lev Dellrayne (William Fichtner), por exemplo, é o antagonista estereotipado com pinta de imitação de outras figuras que o precederam na vilania. Trata-se de um hipnótico praticamente invencível que induz pessoas a cometerem crimes e até mesmo ao suicídio, então a grande pedra no sapato de Danny. As coisas se complicam com a entrada em cena de Diana (Alice Braga), a vidente apresentada como sendo de segunda categoria, mas que não tarda a mostrar a sua notável capacidade para controlar as pessoas. Robert Rodriguez poderia construir de modo menos previsível essa estranheza indicando sutilmente algo que ainda não compreendemos. O diretor acelera a trama quando ela pede atenção a coisas como a existência dos paranormais fazendo sentido prático na história. Parte-se apressadamente de uma coisa a outra sem dar aos eventos a duração para se estabelecerem. As revelações são abruptas e as viradas de rumo igualmente obedecem à afobação – que dá a impressão de ser o resultado da intromissão de alguém para reduzir a metragem ou mesmo a fim de abreviar certas coisas que não deram tão certo assim. Há várias cenas que parecem abortadas no meio do caminho sem tanto propósito narrativo. No fim das contas, temos um A Origem (2010) genérico.

Esta crítica não entrará nos meandros da trama, a fim não estragar qualquer coisa da experiência do espectador que ainda não assistiu ao filme. Mas, sem antecipar as surpresas e os mistérios explicadinhos, podemos dizer que Hypnotic: Ameaça Invisível coloca em xeque até a noção de realidade a partir de determinado momento. Sem recorrer aos elementos que marcaram o seu estilo vigoroso como cineasta, Robert Rodriguez parece comandar o filme no piloto automático – vemos isso, por exemplo, quando Danny e Diana se juntam para combater os malvados capazes de manipular as massas para fins hediondos. O roteiro assinado por Robert Rodriguez e Max Borenstein não dá brechas para fortalecer a existência da entidade obscura que recruta psíquicos talentosos com intenções não muito claras. Sendo assim, a base (a mitologia) não é bem apresentada e tampouco sua elaboração é instigante. Tudo é frouxo e meio vago. A dúvida entre realidade e ilusão não propõe ao espectador uma experiência inquietante, principalmente porque a incerteza não é bem trabalhada. O resultado é um filme desconjuntado que conta com uma interpretação preguiçosa de Ben Affleck, pouco subsídios para Alice Braga ir além de ser a mocinha-vilã-mocinha e até William Fichtner perdendo “musculatura dramática” de certo ponto em diante. Nem os poucos lampejos bons salvam o filme de ser uma bagunça remendada.
Filme visto durante a 25º Festival do Rio (2023)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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