Crítica
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Crítica
Em meio a movimentos que enaltecem a igualdade entre os sexos e iniciativas como #metoo e a valorização de minorias, uma das iniciativas que mais tem ganho espaço em Hollywood, superando a questão racial ou a identidade de gênero, é a do feminismo. O esforço para que mulheres tenham cada vez mais espaço atrás das câmeras, ocupando cargos em funções estratégicas, como direção, roteiro e fotografia, tem favorecido, também, que histórias lideradas por mulheres também passem a ser mais frequentes nas telas, independente do formato em que essas se apresentem. Por isso, chega a causar estranheza um filme como Ibiza: Tudo Pelo DJ, que mesmo sendo lançado por uma das gigantes do streaming em 2018, tem os ares de ter sido feito duas ou até três décadas atrás. Afinal, passamos do tempo em que uma mulher, para ser feliz, precisa rodar o mundo atrás do príncipe encantado, não é mesmo?
Harper (Gillian Jacobs) é uma garota que se vira como pode em Nova Iorque. Mesmo estando, aparentemente, no início de qualquer carreira profissional, ela acaba recebendo uma incumbência de grande responsabilidade: ir até Barcelona fechar um importante negócio com fornecedores bastante cobiçados. A chefe não parece ter a menor confiança nela – agressões verbais e ofensas ao mérito são frequentes no relacionamento das duas – e se ser tratada desse modo não foi suficiente para mandá-la às favas, o melhor é mesmo aproveitar. Por isso que decide chamar suas duas melhores amigas para irem juntas na viagem. Afinal, ainda que sejam tão desocupadas quanto ela, dinheiro em nenhum momento parece ser uma questão a ser levada em conta em suas vidas.
Ao chegarem na Espanha, após uma rápida reunião de trabalho – na beira da praia, pois europeus só querem saber de sol e água fresca, pelo jeito – as três decidem cair na farra. E se Harper parece ter um mínimo de consciência do objetivo de sua missão, tanto Leah (Phoebe Robinson) quanto Nikki (Vanessa Bayer) só querem saber de aproveitar o momento. E como já virou padrão desde Missão Madrinha de Casamento (2011), elas assim o fazem sem papas na língua, dizendo muitos palavrões e expressando abertamente as suas intenções em relação ao sexo – este é o assunto que domina 90% das suas conversas. É, claro, uma resposta aos muitos anos – décadas, aliás – de comédias imbecis masculinas nas quais os homens só falavam sobre isso. Mas, puxa, se tinham a oportunidade de serem melhores, porque se contentarem em ser igualmente idiotizadas?
Se Nikki se apaixonou pelo primeiro garanhão latino que cruza seu caminho – e decide se ‘preservar’ até reencontrá-lo – e Leah não perdoa nenhuma oportunidade que lhe é oferecida para ir para a cama com alguém, Harper parece ter encontrado o amor no DJ da balada da primeira noite por lá. E ainda que Leo West (Richard Madden) seja mundialmente famoso e cobiçado por todos ao seu redor, este é um personagem concebido para deixar qualquer verossimilhança de lado, resignando-se em apenas atender aos desejos mais sinceros da protagonista. Desse modo, o que cabe a ele é ignorar trabalho, fãs e qualquer contratempo para fazer valer a vontade de estar ao lado dela. Principalmente após ela decidir esquecer o que havia sido designada a fazer por lá e partir rumo a Ibiza, onde ele está agendado para se apresentar na noite seguinte, tudo pela chance de vê-lo mais uma vez.
Seguindo uma estrutura nada surpreendente relegada aos mais convencionais road movies, Ibiza: Tudo Pelo DJ é mais uma comédia feminina do que uma aventura digna de nota. Tudo nele é por demais seguro, e em nenhum momento se imagina que algo possa sair errado nos planos das garotas, sejam os sentimentais ou mesmo as obrigações profissionais. E se algo parece, por algum momento, fugir do controle, é apenas para que a suposta reviravolta seguinte aponte para um caminho ainda mais compensador. Quando temos pela frente um filme que acredita que empoderamento feminino pode significar um namoro de ocasião em que fazer com que ele venha atrás dela possa representar um grande avanço na relação, deixando de lado questões muito mais urgentes, é porque qualquer intenção envolvida não vai além da superfície, restringindo-se confortavelmente no âmbito do descartável. Bonitinho, mas ordinário.
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