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Crítica


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Sinopse

Cristo como negro, militar, índio e guerrilheiro. Os cavaleiros do apocalipse da terra brasileira. Eles lutam contra a ganância e a violência do estrangeiro.

Crítica

Como seria a vida de Jesus Cristo se ele vivesse na era contemporânea? Em seu último filme, ao promover um retorno ao experimentalismo pelo qual ficou famoso e sempre recebeu mais aplausos, Glauber Rocha disserta entre imagens mí(s)ticas e uma narrativa sem compromisso com a realidade, exibindo denúncias contra o colonialismo e o capitalismo através da figura do cristão mais conhecido da história da humanidade. Porém, A Idade da Terra não é um filme religioso, assim como o Cristo aqui representado por diversas faces não se prende ao clichê mundial.

No lugar dos romanos, o imperialismo do sistema neoliberal é representado por um empresário multinacional e pertencente a variados países – ou nenhum, a bem dizer. Johan Brahms, o "homem que quer comer seu cu". Pode até parecer uma simples frase fútil e ofensiva, mas é a essência desses personagem, que se coloca diante dos vários cristos de diversas cores e formas para dar seu ultimato, para manter a subserviência do ser humano mais frágil perante seus supostos líderes. É a tentativa de controle do Terceiro Mundo. E quem melhor pra combater essa guerra psicológica e social do que Jesus em sua essência?

O último filme do poeta barroco do cinema brasileiro não poderia ser menos polêmico ou até compreensível para muitos. Aqui o cineasta expõe suas visões políticas e humanas sobre os mais diversos setores do Brasil e do mundo. Os quatro Cavaleiros do Apocalipse que ressuscitam Cristo no Terceiro Mundo são uma alegoria tão metafórica quanto apoteótica sobre as lutas de classes na América Latina e na África. Num momento aparece uma celebração do candomblé. No outro, freiras dançando. E neste cordel de personagens e situações tão ricas em imagens e com roteiro aparentemente fora de uma narrativa totalmente coesa, nomes famosos como Tarcísio Meira, Jece Valadão e Antônio Pitanga, entre muitos outros, vão indo e vindo para tornar essa sucessão de takes mais palpável ao espectador.

Não é uma obra para se entender. A narrativa vai e volta, imagens são jogadas a todo momento para o espectador com trilhas impactantes. E assim segue. Tudo parece desconectado. Mas seja nos planos fechados ou abertos, no fim, tudo faz sentido. É a crítica de um homem inconformado. Um cineasta que não se prendia a fórmulas para contar uma história. Ou seria mais de uma? O filme é ainda mais famoso por ter perdido o Leão de Ouro do Festival de Veneza para Gloria (1980), de John Cassavetes, e Atlantic City (1980), de Louis Malle. Inclusive com uma discussão quase a tapa de Glauber com Malle. Mas não importa. A Idade da Terra é Glauber Rocha em sua total essência, numa maturidade atingindo a mais alta potência. Um contraste à sua indignação que aparenta ser intempestiva, porém muito bem pensada. Obra-prima que virou o testamento de um dos maiores cineastas brasileiros.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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