Crítica
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Sinopse
Ana Medeiros é uma falsa jornalista que foi contratada por um órgão de extrema direita. Usando como pretexto fazer uma reportagem com pessoas que têm a cabeça a prêmio, ela ruma para uma ilha paradisíaca, que é uma espécie de reduto da liberação sexual. Sua missão lá é eliminar dois pensadores considerados subversivos.
Crítica
Em 1979, portanto ainda sob o jugo da ditadura militar, o cineasta Carlos Reichenbach lançou A Ilha dos Prazeres Proibidos, uma alegoria em que a repressão é contraposta por ideais libertários. A protagonista é Ana (Neide Ribeiro), assassina contratada para dar cabo de dois pensadores tidos como subversivos. Eles moram numa ilha mítica, famosa por abrigar toda sorte de párias e também pelo clima reinante de permissividade sexual. O guia dela é Sérgio (Roberto Miranda), jornalista que fugiu anteriormente do local em virtude de uma questão pessoal apenas abordada mais adiante. Desde o começo impera entre eles uma tensão singular, mistura da voltagem erótica e forte desconfiança. Aliás, sexo e violência se alternam como o motor principal da narrativa, mesclando-se eventualmente a fim de proporcionar ao espectador o clima necessário à fruição da trama para além de suas camadas superficiais. Nesse contexto, a nudez, por exemplo, passa a ser oferecida como potência simbólica.
Ana é capaz de atos atrozes, como jogar uma mulher do alto das pedras à beira mar porque esta ameaça desmascará-la. Sua beleza física e voluptuosidade, atributos evidenciados pelos figurinos insinuantes e os constantes olhares maliciosos, não são suficientes para seduzir Sérgio. Ele parece imune aos encantos dos quais ela ardilosamente lança mão para ganhar alguma vantagem nesse jogo de gato e rato. Há sequências que aludem diretamente, ainda que não de maneira tão eficiente quanto possível, à truculência estatal vigente no Brasil da época, como a da revista íntima de ambos na fronteira. A Ilha dos Prazeres Proibidos atinge um patamar elevado assim que os dois parceiros de ocasião chegam de fato ao lugar de farta natureza, geografia cercada de água e forte erotismo por todos os lados. Nesse paraíso, as regras de comportamento, as configurações de relacionamento, bem como outras convenções são relativizadas pelo imperativo do desejo. Aqui a metáfora sexual é a arma mais eficiente.
A Ilha dos Prazeres Proibidos é um manifesto político-social. A liberdade apregoada pelos habitantes da ilha, especialmente por Nilo Baleeiro (Fernando Benini) e suas ninfas, respectivamente poeta delirante e joviais musas inspiradoras, começa a contaminar a matadora, amolecendo gradativamente concepções então pétreas, turvando até mesmo sua visão acerca da missão de exterminar os “inimigos” do Continente. O despudor dos personagens, sobretudo o das mulheres, que não se intimidam ao andar pela praia de seios à mostra, está alinhado com a afronta incisiva à coerção externa. Ali, no oásis sem cerceamento e vigilância, todos podem ser o que bem entendem, estabelecer vínculos estranhos à moral predominante e sonhar com a utopia. Carlos Reichenbach vence as dificuldades de produção com muita criatividade, fazendo da potencialidade da câmera sua capital aliada, além de transformar determinadas e aparentes deficiências em valor narrativo, como o trabalho do elenco.
O amor de Sergio pela esposa do intelectual é mais um componente do estranhamento que desnorteia Ana. A infiltrada chega a não acreditar no desprendimento do marido que deixa sua esposa a sós com o homem por quem esta é evidentemente apaixonada. Mesmo quando parece totalmente absorta, logo convertida, nesse mundo de exceção, distante das imposições, a protagonista de A Ilha dos Prazeres Proibidos se mantém firme, mostrando que os poderes nefastos sobrepujam, muitas vezes, a vontade legítima de viver de acordo com os próprios anseios. A autonomia é demais para certas pessoas, especialmente àquelas devidamente identificadas com as forças que as escravizam. Carlos Reichenbach faz um filme extremamente sensual, em que a energia erótica está sempre em alta. Para isso, trata a libido não como algo a ser domesticado, justo o contrário, conferindo-lhe o status de manifestação categórica de subjetividade, via pela qual escoa boa parte daquilo que torna único cada ser humano.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 8 |
Wallace Andrioli | 7 |
MÉDIA | 7.5 |
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