Crítica
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Sinopse
Ruth Slater passou 20 anos na prisão devido a um crime violento. Quando é finalmente libertada, ela enfrenta o preconceito e a dificuldade de viver em sociedade. Enquanto isso, tenta se reunir com a sua irmã mais nova.
Crítica
Não há um jogo de esconde em Imperdoável. Tudo (ou quase tudo) é dito, elaborado e debatido às claras. E essa natureza explícita se choca rapidamente com o comportamento introspectivo da protagonista. Então, por um lado, a trama é mostrada em detalhes para que não persistam dúvidas – há apenas uma surpresa segurada até o final, uma exceção que confirma a regra vigente. Por outro lado, esse enredo escancarado é espelhado num rosto petrificado que poderia servir para blindar a exposição de sentimentos. E o filme fica inteiramente preso a este dilema: explicar tudo nos mínimos detalhes ou deixar que eventuais não ditos aumentem a sensação de angústia a instabilidade pessoal? Ruth (Sandra Bullock) sai da cadeia depois de cumprir 20 anos de pena pelo assassinato de um policial. O desafio a seguir adiante não passa somente pela árdua tarefa de se reintegrar à sociedade (em que pesem os preconceitos contra ex-condenados). Ela deseja retomar o contato com a irmã caçula que foi adotada depois de seu encarceramento. Muitos personagens, demandas e conflitos orbitam em torno dessa dupla missão. Aliás, o longa-metragem dirigido por Nora Fingscheidt é baseado na minissérie britânica homônima que foi ao ar em 2009. Para comparações seria necessário ter visto o original, mas o excesso de assuntos, gente, demandas e obstáculos talvez seja um resquício dessa inspiração televisiva.
O roteiro assinado por Peter Craig, Hillary Seitz e Courtenay Miles propõe que tenhamos atenção a diversas frentes ao longo de menos de 120 minutos. Várias pendências são adicionadas enquanto vemos Ruth tendo de lidar arrastadamente com os infortúnios da liberdade. A primeira ponta solta é a própria irmã mais nova, que sofre um acidente exatamente no dia em que a protagonista é solta da cadeia. Todo o sofrimento na iminência de um concerto de piano é desenhado pelo filme como se ela, mesmo sem saber de nada, sentisse a presença de alguém que pode virar a sua vida de cabeça para baixo. E o filme não sabe muito o que fazer com esse elo idealizado, se contentando em ficar repetindo a angústia inexplicável da jovem, a sua dificuldade para dormir e os flashes que ameaçam trazer de volta o passado esquecido. Dizendo assim, até parece que isso tem grande importância, no fim das contas. Porém, o tormento de Katherine (Aisling Franciosi) é só um aceno meio protocolar à ligação sanguínea que seria capaz de quebrar as barreiras de verdades e mentiras. Há também o núcleo dos pais e da irmã adotiva, meros obstáculos para Ruth finalmente voltar a conversar com a caçula que sequer a reconheceria. Nora Fingscheidt transita burocrática e rapidamente entre os núcleos. E nenhum deles se torna memorável. Por que os criadores não optaram por reduzir os enfoques em vez de manter a polifonia?
A quantidade de questões a serem resolvidas em Imperdoável serve unicamente ao propósito de mostrar a amplitude da tragédia. É como se o crime fosse uma pedra jogada num rio, gesto que forma ondas e mais ondas. No entanto, Nora Fingscheidt nem chega a enfatizar essa noção que, assim, permanece implícita. O resultado é puramente cumulativo, sem tempo cabível para os dramas pessoais se assentarem, amadurecerem e estarem prontos às suas respectivas resoluções. Nesse cenário há ainda o ex-presidiário vivido por Jon Bernthal (ensaio de interesse amoroso); o casal classe média interpretado por Vincent D'Onofrio e Viola Davis; e a tentativa esquemática de vingança arquitetada pelos filhos do homem assassinado há 20 anos. Sim, tudo isso em menos de 120 minutos. Enquanto D'Onofrio até tem algum espaço para mostrar a personalidade de seu advogado idealista, Bernthal e Viola são nomes conhecidos desperdiçados em personagens quase sem traços de subjetividade. Ele é o brutamontes arrependido que não tem tanto traquejo social; já ela é colocada num lugar simplesmente da mãe-coragem disposta a tudo para garantir que seus filhos não corram perigo. O filme poderia, ao menos, correlaciona-la a Ruth, promovendo uma identificação entre essas mulheres que iriam às últimas consequências para proteger a família? Sem dúvida. Mas isso está longe de acontecer.
O plano de vingança dos irmãos é uma das coisas mais capengas desse longa-metragem apressado e superficial. Dos dois, o “bonzinho” muda de opinião com uma rapidez conveniente e mal arquitetada dentro da narrativa. O filme poderia, ao menos, associar sua frustração ao ser traído com aspectos de seu trauma familiar? Claro, mas o roteiro prefere trabalhar causas e efeitos simplórios – ele estava inclinado a fazer bobagem e o empurrão que faltava era descobrir-se traído pela esposa. Por fim, é importante falar da composição de Sandra Bullock, já que passamos cerca de 90% do enredo acompanhando o trajeto penoso de sua protagonista por um mundo que não a conforta. Bullock mantém a mesma expressão (semblante carregado e boca cerrada), oferecendo apatia quando era preciso uma introspecção quase asfixiante. Mas, o tom monocórdico da interpretação dessa estrela hollywoodiana vencedora do Oscar não permite que, por exemplo, tenhamos acesso (ou vontade de acessar) para além das aparências. O silencio dela não se torna um convite à empatia; seus movimentos são mecânicos, mas não no sentido proposital de criar um desconforto; o embrutecimento de seu corpo é mais sugerido do que testemunhado. Um bom parâmetro de comparação é o trabalho bem superior de Kristin Scott Thomas em Há Tanto Tempo Que Te Amo (2008), filme com o qual Imperdoável guarda outras semelhanças. Sandra Bullock não alcança notas dramáticas significativas ao fechar-se em copas e tampouco nos raros instantes de explosão. O resultado é morno, acelerado e esquecível.
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