Crítica
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Sinopse
Uma atriz é convidada para fazer o remake norte-americano de um polêmico filme inacabado polonês.
Crítica
Um amigo me disse ter se sentido ofendido após as três horas de duração de Império dos Sonhos, nova loucura assinada por David Lynch. Já outro afirmou ter baixado o filme pela internet logo que o encontrou disponível, e que já o tinha assistido no mínimo umas cinco vezes antes da estreia nos cinemas brasileiros (onde foi conferir novamente, apenas pelo "prazer da tela grande"). Eu, por outro lado, não sei muito o que dizer. Afinal, como criticar - para o bem ou para o mal - algo que você simplesmente não entendeu?
E acredito também que a idéia seja exatamente esta: provocar muito mais dúvidas do que esclarecimentos. Para se ter uma idéia, durante uma entrevista a um programa de televisão, Lynch e Laura Dern, a protagonista, não conseguiram chegar a um acordo a respeito de quantos papéis ela própria interpreta no filme, se três ou quatro. Bem, se nem eles, que idealizaram o longa, conseguem se entender, o que sobra para nós, meros espectadores? Império dos Sonhos começa com uma garota assistindo a um programa na televisão. Parece ser um sitcom - um único cenário, claquetes com risadas da plateia - em que os personagens são seres humanos com cabeças de coelhos. Logo em seguida estamos na majestosa residência de uma atriz aparentemente famosa, que está em vias de voltar ao estrelato por conseguir um papel bastante disputado. É o remake de um filme que não chegou a ficar pronto, sobre uma família polonesa assassinada. Os protagonistas do filme original morreram durante a produção, e tem-se este temor que o mesmo aconteça durante as novas filmagens. Um grupo de prostitutas também pontua algumas situações, assim como uma mulher que está contratando um detetive particular. Ah, e há também uma família que recebe uma trupe de viajantes da Europa oriental para um churrasco no jardim (!).
Qual a relação entre todas estas histórias? Aparentemente, nenhuma. Por outro lado, talvez todas estas tramas revelem facetas de uma mesma mulher. A atriz decadente que revive o papel de uma estrela de outrora que está trazendo à vida uma sofrida dona de casa polonesa que suspeitava que o marido a estava traindo e que por isso ansiava por ter uma vida familiar tranquila e perfeita e que, pela ausência dessa realidade, imagina-se prostituindo-se em troca de um pouco de atenção e, pela inevitabilidade disto, termina de forma trágica. Ou então seria a vizinha que aparece no começo do filme a verdadeira protagonista, a imigrante da Polônia responsável por todas aquelas tragédias e que manifesta-se naquele momento para alertá-la dos perigos que estaria prestes a correr? Muitas interpretações mais certamente são possíveis, e quem se dedicar a procurar não terá dificuldades em encontrar argumentos e elementos que colaborem nestas outras posições. Império dos Sonhos é uma obra literalmente aberta, e caberá ao espectador e ao seu universo de referências montar - ou não - este quebra-cabeças.
Premiado no National Board of Review como "Melhor Filme Experimental" do ano (prêmio até então inédito) e merecedor de um prêmio especial no Festival de Veneza "pela inovação digital proposta em sua concepção", Império dos Sonhos, ao contrário de outros filmes de David Lynch, praticamente não possui dentro de si chaves que possibilitem um melhor entendimento. Hermético e bizarro, se comporta como os sonhos mais confusos e problemáticos que temos, indo do pesadelo ao descanso total em questão de instantes, para depois retomar condições até então esquecidas. Dern, a grande estrela da obra, se entrega de corpo e alma à visão aparentemente desconexa do diretor, aceitando todas as propostas de forma integral. Cada mudança dela é tão intensa quanto discreta, mostrando que é no interior de cada um onde se escondem os verdadeiros medos e desejos. E quem quiser embarcar nesta viagem não deve temer os bocejos, a frustração e a incompreensão, assim como deve estar pronto para os pequenos prazeres dispostos aleatoriamente durante o desenrolar da ação. Ganha quem aceitar mais - e procurar entender menos!
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