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Sinopse

Indomável Sonhadora: Hushpuppy é uma menina de apenas 6 anos de idade que vive em uma comunidade miserável isolada às margens de um rio. Ela está correndo o risco de ficar órfã, pois seu pai está muito doente. Ele, por sua vez, se recusa a procurar ajuda médica. Um dia, pai e filha precisam lidar com as consequências trazidas por uma forte tempestade, que inunda toda a comunidade. Drama.

Crítica

Algo que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas vem fazendo nos últimos anos é dar destaque para produções independentes que, mesmo com orçamentos não tão avantajados, apresentem predicados suficientes para encontrar seu público, mesmo que, por vezes, acabem escondidas na avalanche de novos filmes que são lançados. Todo ano, ao menos uma produção menos mainstream abocanha alguma indicação ao Oscar – não raro, a de Melhor Filme. Exemplos recentes que vêm logo à mente: Inverno da Alma (2009), Preciosa (2008) e o próprio Guerra ao Terror, vencedor do prêmio principal em 2009. Destaques de festivais do cinema independente como o Sundance, estas produções acabam sendo apresentadas ao grande público ao serem indicadas a importantes categorias do Oscar. Esse é o caso de Indomável Sonhadora, elogiadíssimo longa-metragem do cineasta estreante Benh Zeitlin. Vencedor de quatro prêmios no último festival de Cannes, onde foi exibido na Mostra Um Certo Olhar, e laureado no Festival de Sundance também em 2012, o longa-metragem cativa ao apresentar uma história doída e fantástica.

Com roteiro de Zeitlin ao lado de Lucy Alibar (que assina a peça de teatro do qual o script foi originado), Indomável Sonhadora conta a história de Hushpuppy (Quvenzhané Wallis), uma menininha de 6 anos que, ao lado do seu temperamental pai, Wink (Dwight Henry), vive no povoado de Bathtub, na Lousiana. Com a proximidade de uma tempestade devastadora, pai e filha permanecem em sua morada, desafiando o mal tempo, defendendo seu território. Sem sua mãe e com um relacionamento conturbado com Wink, a pequena Hushpuppy verá o que conhece da vida ser colocado de pernas pro ar em um curto espaço de tempo.

Destacar a atuação da jovem Quvenzhané Wallis pode parecer exagero antes de se conferir Indomável Sonhadora. Afinal de contas, a menina tinha apenas 6 anos de idade quando atuou na produção e o quão talentosa poderia ser esta garotinha para ser alvo de tanta atenção? Basta assistir sua performance por 20 minutos e qualquer dúvida é dissipada. Dona de uma concentração fabulosa – mostrada no making of que acompanha a edição americana do blu-ray do filme – Wallis se transforma assim que o diretor Benh Zeitlin grita “ação”. Descoberta pela produção no local, onde um batalhão de testes foram realizados para encontrar a protagonista, a atriz de tenra idade e de primeira viagem impressionou a todos com seu teste e abocanhou o papel (que, mal sabiam eles, lhe valeria uma indicação ao Oscar em 2013). Misturando ternura, imaginação infantil e um lado badass que só os habitantes da Louisiana podem chamar de seu, Hushpuppy carrega o filme de forma cativante, dividindo a tela com figuras tão (ou mais) curiosas que seu enfezado pai – e aqui fica o destaque para os monstruosos Aurochs, realizados com o mínimo de tecnologia, com efeitos especiais práticos e muito bem concebidos.

Por falar no pai de Hushpuppy, muito se fala no talento da menininha protagonista e, por vezes, crítica e público esquecem-se de Dwight Henry, ator também de primeira viagem que encarna Wink. Padeiro da comunidade onde a produção se instalou, Henry chamou a atenção de Zeitlin e companhia a ponto de pedirem para que o sujeito realizasse testes para o papel. Assim que foi escolhido, os ensaios foram realizados durante as madrugadas, enquanto os pães de Dwight estavam no forno. O esforço para tê-lo no filme faz diferença. Com uma atuação naturalista que beira o realismo, o ator novato consegue encarnar todas as mudanças de humor de Wink. Os momentos de fúria, os períodos de consternação e os raros lapsos de ternura para com sua filha são todos muito bem encarnados por Dwight Henry, um verdadeiro achado.

Outro ponto a ser lembrado é a belíssima trilha sonora escrita por Benh Zeitlin e Dan Romer, que consegue pontuar as cenas de forma poética, nunca atrapalhando ou soando exagerada. Uma das sentidas faltas no prêmio da Academia deste ano.

Produção que transparece a cada fotograma o esmero em contar uma história diferente, com personagens riquíssimos e trama agridoce, Indomável Sonhadora só perde pontos por ficar à deriva por alguns momentos (trocadilho não intencional com os acontecimentos do filme), como se não tivesse trama para preencher os 90 minutos de duração. Um pequeno porém em um belo longa-metragem, que cativa na maior parte do tempo seu espectador.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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