Crítica
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Crítica
Muita gente conhece Inezita Barroso apenas como a cara, durante 35 anos, do emblemático Viola, Minha Viola, programa da TV Cultura voltado à música caipira motivada pelo cotidiano campesino. Portanto, o grande mérito de Inezita é resgatar a ampla importância dela, não apenas no que diz respeito à preservação de diversos traços folclóricos, nem somente como uma das vozes mais bonitas do nosso cancioneiro, mas, principalmente, enquanto pioneira da atuação feminina no campo artístico. De maneira bastante engessada, o roteiro propõe uma mal disfarçada viagem cronológica, começando pelo causo da avó proibida de cantar pelo machismo do marido. Adiante, a neta paulistana atende ao chamado do sangue, brigando contra inúmeras coisas para ingressar no meio escolhido a fim de se expressar. Inezita conta a quebra da resistência dos instrumentistas para deixa-la segurar a viola outrora considerada uma exclusividade masculina. O simples fato de tomar contato com aquele mundo a lançava socialmente numa senda de preconceitos.
Inezita ensaia, inclusive, amplificar essa discussão coletiva, trazendo à baila personalidades como Eva Wilma e Nicette Bruno, que confirmam o status maldito atribuído às mulheres dispostas a cantar ou a atuar nos palcos e/ou no cinema. Todavia, infelizmente o diretor Helio Goldsztejn logo deixa de lado essa observação, tornando-a um dos primeiros desperdícios do longa-metragem. O roteiro assevera o caráter endurecido da concepção. Testemunhos são costurados de forma burocrática, com os raciocínios de uns sendo completados pelos depoimentos de outros. Meio aos trancos e barrancos, no entanto, a trajetória da menina nascida Ignez Magdalena Aranha de Lima vai ganhando corpo, especialmente por meio da consistência isolada dos relatos e da vastidão do material de arquivo do qual os idealizadores lançam mão. Moda da Pinga e Ronda, músicas presentes no primeiro disco de sucesso, ganham tempo suficiente de tela para confirmar sua excelência.
Evitando criar blocos temáticos, o realizador torna o desenvolvimento de Inezita frouxo. Além disso, há interrupções bruscas, como na explanações dos últimos anos da artista sendo cortadas pelo amor dispensado ao Corinthians. Não é o único instante em que uma linha atropela outra. Também a direção de fotografia deixa a desejar, seja pela falta de criatividade ao lidar com os personagens que celebram a vida e a obra de Inezita, ou ainda em virtude da ingenuidade visual dos materiais entrelaçados sem reconhecível potência na montagem. Mesmo diante dessas fragilidades puramente cinematográficas, é de se espantar, todavia, que o filme ainda consiga transmitir o carisma e a relevância de Inezita Barroso em múltiplas searas. É particularmente valioso o resgate de sua carreira cinematográfica, constituída de sete filmes e alguns prêmios destacáveis, bem como das parcerias com valiosas intérpretes, tais como Tônia Carrero e Ruth de Souza (esta que dá seu testemunho).
Inezita não nega sua vocação televisiva, vide a prevalência do olhar investigativo, cuja prioridade é a informação. No que se propõe, a despeito das deficiências estruturais, sai-se relativamente bem. Porém, é lamentável o fato de Helio Goldsztejn subaproveitar a gama de pessoas à disposição. Personalidades como Ary Toledo e Renato Teixeira aparecem circunstancialmente, no mais das vezes para fechar discursos principiados por outrem. Também a família, especialmente as três gerações de mulheres que puderam se espelhar na estrada alheia, é acessada no limite do ordinário. A única que ameaça desvendar um pouco mais profundamente o íntimo de Inezita é a filha, mas suas falas rapidamente são abafadas por platitudes. Embora falte jeito ao filme para lidar com a imensidão da apelidada de A Voz do Brasil, a representatividade e a pertinência dessa biografia singular são grandes ao ponto de abrir caminho à bem-vinda redescoberta.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Robledo Milani | 5 |
Edu Fernandes | 5 |
MÉDIA | 5 |
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