Crítica
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Sinopse
A expansão do universo da desinformação. O caso utilizado como exemplo é a trajetória descendente de uma das maiores empresas de relações públicas do Reino Unido.
Crítica
Influência é um daqueles documentários de uma tendência comum – pela quantidade de produções que a tem abraçado ultimamente – que poderíamos chamar de “abrindo a caixa preta”. Isso porque, com processos semelhantes aos da análise do elemento aeroviário em busca das causas de um acidente, eles se empenham basicamente em mostrar verdades longe da superfície, daquelas igualmente capazes de explicar determinados cataclismos (sociais). O protagonismo aqui é da atividade “influência”, moeda de troca circulante e valiosa entre corporações e governos (especialmente os inclinados ao autoritarismo). Já o símbolo desse mundo escuso de convencimento e manipulação é Tim Bell, então figura afastada do mercado, mas anteriormente tido como um de seus membros mais influentes. Primeiro, enquanto publicitário, colocando engrenagens de venda a serviço da modificação de mentalidades com fins eleitorais. Depois, atuando como líder da Bell Pottinger, empresa envolvida em escândalos globais com bastidores mais ou menos parecidos. E os cineastas Diana Neille e Richard Poplak abraçam vigorosamente as possibilidades jornalísticas dessa vertente do cinema.
As revelações estarrecedoras de Influência são parcialmente colocadas diante de Tim, um entrevistado que obviamente não está disposto a dispor todas as cartas na mesa, embora se esforce para projetar uma imagem de transparência a fim de contrapor sua fama de obscuro e enigmático. Pena que os realizadores não utilizem como minúcia a constatação de que esse personagem, essencial para compreendermos o cenário político do século 20, assim como fez em boa parte de sua atuação profissional, provavelmente está moldando meticulosamente uma versão conveniente de si próprio para a câmera. Isso, pois estão preocupados realmente com os diagnósticos, vidrados no cruzamento de dados que desnudam esse terreno subterrâneo de negociatas, propinas e afins. Assim, privilegiam uma organização fundamentalmente cronológica dos fatos, partindo da entrada do executivo nesse ramo peculiar de negócios e permanecendo um tempo esclarecendo a relação com a ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher. Tim demonstra especial orgulho de ter sido peça fundamental para o antes opositor partido conservador britânico chegar a ganhar três eleições seguidas.
A grande fraqueza do longa é a indecisão, no que diz respeito ao protagonismo, entre a radiografia desse universo simbolizado por Tim e o executivo que supostamente abre o coração num podcast. Aliás, as outras aparições do personagem são utilizadas como dispositivo complementar. Uma vez que há o privilégio da investigação, programas de televisão e a citada conversa com o podcaster são encaixadas como toques adicionais. Seguindo uma lógica narrativa convencional, ainda que seja bem-sucedida a operação de interligar tantos tópicos e circunstâncias distintas, Diana Neille e Richard Poplak lançam luz sobre a controvérsia campanha da Bell Pottinger em parceria com o governo norte-americano para construir uma visão positiva sobre a investida beligerante dos estadunidenses em solo iraquiano. Adiante, a fim de estabelecer uma ponte entre situações, indício de um protocolo de comportamento institucional, eles se debruçam sobre a ligação da firma britânica com a incitação das tensões raciais na África do Sul, financiada por uma dupla indiana.
Essa leitura da atividade espúria dos governos e das multinacionais é direta, alicerçada totalmente num painel em que nossa ingenuidade é sutilmente sugerida como componente imprescindível ao sucesso de homens e mulheres semelhantes, em ambição e falta de escrúpulos, a Tim Bell. Porém, mesmo tal noção é somente lançada em meio aos depoimentos esclarecedores, estes nunca devidamente estudados ao ponto de complexidades morais e éticas surgirem no horizonte para além da leitura imediata. Portanto, apesar do resultado revelador de um modus operandi restrito aos poderosos. Influência perde frequentes oportunidades de oferecer um diagnóstico ainda mais intrincado e profundo, inclusive quanto aos mecanismos utilizados em consonância para alterar a percepção das massas, controlar ao bel prazer dos endinheirados o resultado de eleições e, por fim, garantir que o poder permaneça concentrado nas mãos de meia dúzia. O ex-agente da Cambridge Analytica ensaia ser uma ambígua voz da consciência, mas acaba tragado pelo caráter expositivo.
Filme visto online no 25º É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, em setembro de 2020.
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