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Sinopse

Ingrid Thorburn possui um histórico problemático, tendo passado um tempo internada por ter invadido a vida de uma jovem que respondeu a uma mensagem dela via Instagram. Obcecada pelas redes sociais, ela começa a acompanhar os passos de Taylor Sloane, uma influencer que vive em Los Angeles. Decidida a se tornar amiga dela para também ser popular, Ingrid pega o dinheiro herdado por sua mãe e parte rumo ao oeste.

Crítica

Há muito a ser percebido nas entrelinhas de Ingrid Vai Para o Oeste, e é uma pena que tais mensagens não tenham maior destaque no roteiro escrito por David Branson Smith e Matt Spicer, também diretor do filme. Calcado no fascínio provocado pelas redes sociais, a história traz um viés um tanto quanto sombrio que remete à obsessão de uma jovem em ser reconhecida e, também, à carência por não ter amigos nem parentes. Tamanha conjunção potencializa a sedução da internet, aqui representada pelo Instagram, em uma saga onde a simples resposta a uma postagem remete a uma declaração de amizade eterna. Ao menos assim é para Ingrid.

Tal postura, por si só, poderia render uma série de possibilidades acerca da relevância e malefícios causados pela internet na convivência em sociedade, seja ela virtual ou real. O roteiro, entretanto, prefere mantê-las no subentendido, sem se aprofundar em tais questões, de forma a privilegiar fatos a reflexões. Desta forma, aqui acompanhamos a jornada de Ingrid rumo ao oeste, onde deseja encontrar uma influencer que é seu novo modelo de vida. Ingrid deseja se vestir igual a ela, ir nos mesmos lugares que ela, receber a mesma atenção que ela, ou seja, ser que nem ela.

Para tanto, há no roteiro um tremendo facilitador que é a vultosa quantia disponível para a protagonista, em decorrência de uma herança deixada pela mãe. Com tamanha grana em mãos, tudo fica mais fácil nesta tentativa de aproximação. Ainda assim, chama a atenção dois aspectos nesta amizade recém-construída: o clima constante de BFF, ainda mais para quem se conhece a tão pouco tempo, mas que tão bem representa o mundo cor-de-rosa retratado nas redes sociais; e ainda uma breve fala de Taylor, na qual revela que deseja construir um hotel-butique tipo seu Instagram, onde "tudo está à venda". Porta escancarada para uma análise sobre a postura e a ética em torno dos influencers, que jamais vem.

Assim é Ingrid Vai Para o Oeste, por toda sua duração. Sempre que pontua algo interessante sobre as redes sociais, a trama rapidamente se esforça a migrar rumo a algum fato novo, como se não houvesse um real interesse em discorrer acerca do tema. Desta forma, este drama passa a seguir os passos de vários outros filmes onde alguém conhecido se torna alvo de um fã, sem grandes novidades. Torna-se banal, por escolha própria.

Ainda assim, vale ressaltar o bom trabalho de Aubrey Plaza na pele da personagem-título, dando a Ingrid o clima de desconforto com a vida que leva aliado a uma obsessão que jamais deve ser confundida com fascínio; este fica restrito às redes sociais, como tão bem é representado na sequência final. Já Elizabeth Olsen tem um papel mais simples e solar, que não lhe exige tanto, algo que também ocorre com Wyatt Russell. Mesmo as contradições deles como casal, em torno das discordâncias acerca da autopromoção, jamais vão além da mera menção. No fim das contas, assim é Ingrid Vai Para o Oeste: um filme interessante pelo tema retratado, até bem feito pelo aspecto técnico e em relação à coesão do elenco, mas receoso demais em mergulhar no tema que propõe. Um pouco mais de dedo na ferida lhe faria bem.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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