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Sinopse

Felipe, um homem de negócios rico que se tornou paraplégico devido a um acidente, está procurando um assistente terapêutico. Ele acaba contratando Tito, um jovem que o ajudará a se conectar novamente com o significado da vida que, por sua condição, ele parou de ter.

Crítica

Alguns anos atrás, o argentino Marcos Carnevale dirigiu Coração de Leão: O Amor Não Tem Tamanho (2013), uma comédia romântica sobre uma bela garota que se apaixona por um homem de estatura diminuta (não chegava a ser um anão, mas um cara muito baixinho). O sucesso foi tamanho que o longa já ganhou três refilmagens internacionais: uma na Colômbia (em 2015), uma no México (prevista para 2018) e uma na França – a única a estrear no Brasil e batizada como Um Amor à Altura (2016). Pois bem, chegou o momento da vingança. Com Inseparáveis, Carnevale não está sendo copiado pelos franceses – o jogo se inverteu, e agora é ele quem copia! Afinal, este nada mais é do que um remake de Intocáveis (2011), fenômeno que, por sua vez, também já ganhou três reinterpretações internacionais – além dessa na Argentina, há uma feita na Índia (Oopiri, 2016) e uma norte-americana, a ser lançada no próximo ano. Porém, tanto em um caso como no outro, as refilmagens se justificam mais por uma questão mercadológica do que artística.

Se o francês François Cluzet aparecia como o milionário tetraplégico e Omar Sy era a revelação como o ajudante despreparado que lhe oferecia um novo ânimo na vida, em Inseparáveis os protagonistas são Oscar Martínez e Rodrigo de la Serna. Porém, ao descobrir que em Hollywood os escolhidos foram Bryan Cranston e Kevin Hart, e que uma possível adaptação brasileira, segundo boatos, será estrelada por Antônio Fagundes e Lázaro Ramos, é de se estranhar no mínimo um detalhe: De la Serna é o único não negro em sua contraparte. Porém, é importante levar em conta alguns detalhes. Primeiro, a presença da população negra na Argentina é muito inferior à vista a em qualquer um destes outros três países, por exemplo. Segundo, o foco em Intocáveis era representar uma minoria, alguém em condição de desvantagem. Por isso, um imigrante africano fazia sentido na França. Agora, como será no Brasil? Um favelado? E nos Estados Unidos? Não seria melhor um mexicano?

Tendo isso em mente, já temos o primeiro deslize deste Inseparáveis: Tito, o personagem desfavorecido, funcionaria melhor se fosse peruano, colombiano ou qualquer outro estrangeiro. Não é o que vemos, no entanto. Ele é apenas uma pessoa pobre, que nunca teve grandes oportunidades. Mas é um malandro, que volta e meia está ou indo para a prisão, ou fugindo de policiais. Não conheceu os pais, foi criado por uma tia a qual só deu decepções e não tem o respeito dos primos que deveria ter ajudado a educar. Por isso, quando surge a oportunidade de trabalhar como cuidador de um homem muito rico, porém imóvel do pescoço para baixo, parece ser sua grande chance de dar a volta por cima. No entanto, tudo o que na primeira versão soava natural e verossímil, aqui termina por se dar de forma forçada e pouco convincente.

A trama, enfim, de ambos os filmes, tanto o francês quanto o argentino, é basicamente a mesma. Se a condução de Carnevale parece pouco inspirada, o que se salva são os dois intérpretes principais. Oscar Martínez está vivendo um grande momento de paixão pelo cinema, após participações marcantes em Relatos Selvagens (2014), Paulina (2015) e, principalmente, O Cidadão Ilustre (2016), que lhe valeu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Veneza. O seu Felipe sofre pelo estado em que se encontra, mas não é uma vítima. Acreditamos na simpatia que nutre pelo inesperado funcionário ou no amor que surge entre ele e uma correspondente anônima. Ao mesmo tempo, vamos pouco além disso. Quem são as outras mulheres que trabalham para ele, qual sua relação com a filha ou quem era ele antes do acidente? Pouco parece importar. Já De la Serna, que se tornou conhecido como o companheiro de Che Guevara em Diários de Motocicleta (2004), defende novamente um tipo cômico, mas sem habilidade para as nuances dramáticas que seu personagem exige.

Há muitas questões em Inseparáveis. Por que contratar alguém obviamente incapaz de executar o serviço desejado? Por que todos os demais candidatos ao emprego são tão estereotipados? Como a relação entre os dois protagonistas pode ter ido do antagonismo profundo à amizade profunda em questão de minutos? Ainda que baseada em um fato verídico, a trama se esquece de que, uma vez tornada ficção, é necessária dotá-la de elementos que a tornem crível, por mais absurda que tenha sido na realidade. Esquece-se disso, apostando apenas no carisma dos atores e em uma possível pré-disposição do público já fã do longa anterior. Portanto, não tenha dúvidas: além do sotaque, tudo que essa versão portenha pode oferecer de diferente é a inadequação de uma cópia e a ausência do frescor original, algo que falsificação nenhuma, nunca, conseguirá reproduzir.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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