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Crítica


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Sinopse

Ciente desde cedo sobre as dificuldades da vida, Claudia fica dividida entre a amizade e o ciúme pela nova namorada de seu pai, uma jovem 20 anos mais nova do que o homem.

Crítica

Comecemos pelo princípio. Insônia não é o título mais adequado para este longa do diretor gaúcho Beto Souza. Os que desconheciam a sinopse ou o projeto esperam um clima à altura do título – misterioso, sorumbático e codificado – e não uma história adolescente, simplória e acessível. Acompanhamos Cláudia (Lara Rodrigues), uma garota “travada”, como ela própria se descreve”, que vive com o pai (Daniel Kuzniecka) desde a perda da mãe, quando criança. Seu comportamento tímido acaba compensado pela amizade com Carla, a colega com quem divide os dilemas juvenis – os quais se resumem a garotos.

Baseado no livro homônimo do escritor Marcelo Carneiro da Cunha – do mesmo autor que originou o argumento de Antes que o Mundo Acabe (2009) – Insônia é um filme de nicho. A combinação do tema superficialmente dramático com uma linguagem visual televisiva confirma um modo de se fazer cinema para jovens, repetido com qualidades distintas nos filmes de Souza, Azevedo e Laís Bodanzky . A vida da protagonista é alterada no momento em que conhece a personagem de Luana Piovani. O que era para entrar no cotidiano de Cláudia como uma amizade madura toma outros contornos a partir do instante em que a nova amiga se envolve com o pai da garota.

O roteiro, de Lulu Silva Telles e Marcelo Carneiro da Cunha, constrói uma trama em que os conflitos são extremamente amortecidos. As dificuldades são sublimadas em nome dos momentos de contínua felicidade e diversão. O desvio do senso comum sobre a adolescência não seria um problema se não trocasse o registro tradicional pelo artificial. Não é crível, por exemplo, que Cláudia não demonstre sentimentos de posse, e, em consequência, dificuldade em aceitar o relacionamento entre o pai e a amiga. Da mesma forma, a perda da mãe não seria algo tão natural nem mesmo com décadas de análise. Se para se comunicar com os jovens é preciso enganá-los com uma dramaturgia plana, então é melhor temermos pelo futuro.

A estética moderna imprime ao filme um vigor particular. De outro modo, o que é novo possivelmente soará arcaico e desinteressante logo adiante. É o preço a se pagar por uma escolha técnica. A edição rápida evita momentos como o da piscina, em que a conversa das garotas se conhecendo se estende indefinidamente. Independente do momento dramático, a fotografia prefere os planos fechados e as cores vivas, mesmo quando a cena pede distanciamento e frieza. Somado a isso, há as inserções de animação, letreiros para antecipar falas e pensamentos, e assim temos um videoclipe para ser exibido na tela de cinema. Infelizmente, Insônia tinha material para ser mais interessante do que a maioria dos filmes do gênero, mas limitou-se a uma diversão passageira.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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